Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PROMOÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA EM ÁREA RURAL: UMA EXPERIÊNCIA EM COMUNIDADE RIBEIRINHA AMAZÔNICA COM USO DE PLANTAS MEDICINAIS NA EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE
Paulo Ricardo de Oliveira Ramos, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Débora Cristina Bandeira Rodrigues, Moacir Tadeu Biondo, Rommel Gonçalves de Sá, Thaline Castro de Lima

Última alteração: 2017-12-30

Resumo


Introdução: Em 1986 foi realizada na cidade de Ottawa, capital do Canadá a primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, canalizando para esse evento a crescente demanda pela melhoria e inovação da saúde pública que se faz necessária para acompanhar o processo contínuo de mudanças na sociedade, em parte, impulsionado e influenciado pela globalização. A promoção da Saúde envolve a busca pela melhoria na qualidade de vida em todas as esferas sociais e num sentido mais amplo compreende o contexto ambiental e territorial de convivência social, superando o conceito de que o estado de saúde significa apenas ausência de doença. A partir dessa nova perspectiva do significado de saúde, destaca-se a rede de ligações sociais comunitária como fator preponderante na manutenção da vida saudável dos seus integrantes, sendo o poder público importante partícipe do processo de promoção da saúde e busca pela equidade e justiça social. Dessa forma, a universidade pública como parte da estrutura do poder público, representa a mão capaz de alcançar a população, em boa parte aqueles em situação de vulnerabilidade social, cumprindo assim o seu papel institucional de mediadora do processo de criação e implantação de políticas públicas em nosso país. Por meio de seus projetos de pesquisa e extensão a universidade pública busca fomentar e produzir condições favoráveis para que ocorram as melhorias sociais com capacitação intelectual e acesso amplo e democrático a informação, requisitos fundamentais para alavancar o protagonismo social da população. Com base no reconhecimento das potencialidades individuais e coletivas acredita-se que grupos como os ribeirinhos amazônicos passarão a ter melhores condições de encontrar soluções para problemas locais em diversas áreas, como: saúde, educação, melhoria nas condições de trabalho, entre outros. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é descrever como a prática Montagem da Paisagem do Conhecimento (MPC) idealizada e desenvolvida pelo técnico em plantas medicinais Moacir Tadeu Biondo, e realizada em parceria com pesquisadores da Psicologia e Serviço Social da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) conforme o projeto/edital CNPq/MCTI Nº 25/15, oportuniza a promoção da saúde pública em área rural da Amazônia. Desenvolvimento: O método utilizado foi à pesquisa-ação e as técnicas de coleta de dados incluíram a observação sistemática e assistemática, diário de campo, gravações em vídeo e áudio e grupo focal. O local onde foi realizada a prática da MPC foi uma comunidade ribeirinha localizada na zona rural do município de Caapiranga/AM. A descrição da prática MPC entendida como promotora da educação popular em saúde com o uso de plantas medicinais baseia-se em dados obtidos em viagens a campo realizadas em 2016 e 2017 com distintas equipes interdisciplinares. De forma sistemática e cronológica a prática da MPC foi desenvolvida nas seguintes etapas: 1) iniciou com uma caminhada de reconhecimento do território e da variedade floral do local, conduzida pelo técnico; 2) reunião de apresentação e exposição aos participantes dos objetivos da prática; 3) divisão de grupos de trabalho com registro das informações dos moradores sobre a indicação das plantas medicinais conhecidas; 4) nova reunião onde o técnico em plantas medicinais expõe seus conhecimentos sobre as plantas trazidas pelos moradores; 5) todos os participantes realizam uma caminhada na comunidade junto com o técnico e identificam as plantas medicinais existentes no local. Após análise dos dados coletados durante a realização da MPC, o grupo interdisciplinar elaborou e produziu uma cartilha impressa onde constam descrições sobre diversas plantas medicinais encontradas na comunidade, suas indicações no tratamento da saúde e dosagens apropriadas. O material impresso será destinado à distribuição gratuita aos moradores. A prática da MPC está alinhada a políticas públicas como o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS. A participação da equipe interdisciplinar viabilizou a atividade de educação popular com cuidados a saúde de forma integrada à cultura e a realidade local. Resultados: Inicialmente os resultados são percebidos nas expressões verbais e não verbais dos comunitários participantes da MPC que demonstraram interesse em aprender sobre novas indicações de plantas medicinais no tratamento da saúde, bem como, satisfação em ter o seus conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais respaldados e alinhados, na grande maioria das vezes, as informações trazidas pelo técnico. A produção da cartilha com informações sobre as plantas medicinais da comunidade pretende contribuir no processo de resgate e valorização dos conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais, ao mesmo tempo em que representa uma fonte de consulta e ferramenta didática útil para os moradores, na manutenção das práticas socioculturais dos povos tradicionais na Amazônia. A educação popular em saúde, presente na MPC proporciona a consolidação a rede de apoio social, desperta e reforça os saberes tradicionais ajudando as pessoas a perceberem que são capazes de cuidar da sua saúde com os meios locais que possuem, aumentando assim sua autoconfiança individual e coletiva. Considerações finais: É possível identificar na prática da MPC pelo menos dois pré-requisitos importantes para a promoção da saúde que são a educação e o uso de recursos sustentáveis. A educação se dá por formas múltiplas, sendo nesse caso melhor observada pela troca de informações com os comunitários e a equipe multidisciplinar durante as reuniões, e também pela cartilha impressa a qual consolida não apenas as informações, mas também o trabalho realizado em conjunto. Os recursos sustentáveis estão representados nas plantas nativas cultivadas ou encontradas na área da comunidade, assim, uma vez percebido pelos moradores a utilidade e o valor dessas plantas desperta-se o interesse em preservá-las a fim de dispor desse recurso renovável e sustentável. Valorizar as práticas socioculturais por meio da junção do conhecimento técnico-científico e popular tradicional, ouvir e acolher os saberes tradicionais sobre plantas medicinais representa uma forma de capacitação individual e coletiva aos participantes da MPC. Assim, um ponto relevante a ser destacado no processo de execução da prática MPC, é a troca e disponibilização de informações diretamente a comunidade ribeirinha, proporcionando condições favoráveis ao empoderamento social e a busca pela equidade em saúde, compreendendo desse modo a MPC enquanto excelente estratégia de promoção da saúde. As políticas públicas e programas de promoção à saúde não podem ser desenvolvidos de forma dissociada dos sujeitos sociais envolvidos neste processo. Neste caso, as políticas devem buscar adequação a realidade concreta daqueles a que se destina, considerando as particularidades regionais. Desse modo, o Grupo Inter-Ação através da Universidade Federal do Amazonas ao trabalhar com uma equipe interdisciplinar busca realizar o seu papel de mediadora e promotora da saúde, de forma contextualizada e integrada a comunidade ribeirinha amazônica. A troca de saberes entre os comunitários e a equipe, durante a realização da MPC, consolida uma prática solidária que aproxima e estimula os moradores a protagonizarem o processo de transformação em busca do bem estar e melhores condições da saúde coletiva.

Palavras-chave


Educação popular em saúde, plantas medicinais, comunidade ribeirinha