Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DADOS PRELIMINARES DE JULHO DE 2014 A JUNHO DE 2015 DO MAPEAMENTO DA OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA CIDADE DE MANAUS – AM.
Antônia Evilannia Cavalcante Maciel, Munique Therense Costa de Morais Pontes, Isamira Góes Batista

Última alteração: 2017-12-30

Resumo


Introdução

Pesquisas na área de saúde da mulher com destaque na assistência obstétrica elencam os tipos de violências sofridas pelas parturientes durante o partejar. Esses atos violentos podem ser cometidos não somente por profissionais, mas por pessoas íntimas, estranhas ou até mesmo pelas instituições, o que influencia possíveis complicações ou efeitos indesejáveis ao binômio materno-infantil (MALHEIROS e col., 2012).

Em Manaus, matérias jornalísticas apontam para casos de violência obstétrica de variadas formas, onde as maiorias das mulheres que foram vítimas de tais atos, não tinham ciência de que seus direitos estavam sendo violados. Com isso, a cidade de Manaus desponta com um campo de ocorrência da violência obstétrica nas unidades de atendimento especializado a parturiente (SOUZA e col., 2017).

Tal pesquisa busca corroborar com o arcabouço teórico da temática, a fim de enfatizar que tais situações geram sérias conseqüências a saúde físico-psicológica da mulher e do recém-nascido, isso de forma mediata e imediata, além de contribuir para difusão dos direitos inerentes à parturiente que em diversos momentos vivenciou tais situações, e que até hoje guarda marcas dessa experiência.

OBJETIVOS

Analisar a ocorrência de violência obstétrica na cidade de Manaus – AM, em partos ocorridos no período de junho de 2014 a julho de 2015.

Identificar as práticas obstétricas violentas às quais as mulheres foram submetidas.

Detectar possíveis transtornos de saúde nas mulheres, surgidos no pós-parto, referentes à assistência prestada pelos profissionais de saúde.

MÉTODO

Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem quantitativa, cuja coleta foi iniciada no período de agosto de 2017 e se estendeu até novembro de 2017, em locais públicos da cidade de Manaus – AM. A população abrange mulheres residentes em Manaus que pariram no período de julho de 2014 a junho de 2015.

A amostra do estudo constitui de 396 mulheres, conforme critérios de inclusão e exclusão foram: Os critérios de inclusão consistiram em mulheres com idade acima de 18 anos, que tiveram partos vaginais ou cesáreos em instituição hospitalar pública ou privada, residentes em Manaus no período de julho de 2014 a junho de 2015. Foram excluídas do estudo as participantes que atendem aos seguintes critérios: Mulheres autodeclaradas indígenas e mulheres com transtornos psicológicos no momento do parto.

Para a entrevista utilizou-se um questionário fechado no qual constam três seções: a primeira aborda aspectos sociodemográficos; a segunda seção, dados obstétricos; e a última, condutas violentas no parto. Em seguida foram selecionados locais estratégicos para a coletada dos dados, que apresentam um grande fluxo de transeuntes por serem locais tradicionais de lazer. Os espaços da cidade de Manaus (AM) selecionados foram: Espaço cultural Largo de São Sebastião; Complexo de lazer da Ponta Negra; Praça Heliodoro Balbi e Parque Senador Jefferson Péres.

Os dados gerados foram tratados e submetidos à análise estatística pelo Epi Info, sendo apresentados sob a forma de tabelas com frequências absolutas e relativas para discussão conforme sustentação teórica do estudo.

Mediante a pesquisa se tratar de um estudo que envolve seres humanos, o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado do Amazonas, com número de parecer 2.006.509, CAAE: 66307417.9.0000.5016, através da Plataforma Brasil, conforme recomenda a Resolução 466/12 do Conselho Nacional do Brasil.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Dados Obstétricos

Em relação ao número de partos, 48% tiveram um parto, 26% dois partos, 14% três partos, 8% quatro partos, 4% mais de quatro partos. Sobre o tipo de parto, 61% das mulheres afirmaram terem tido partos cesáreos, enquanto 39% foram normais. O índice de realização dos partos apontou uma maior ocorrência nas maternidades da Zona Centro-Sul (47%), seguida pela Zona Sul (17%), Zona Leste (14%), Zona Norte (8%), enquanto que as Zonas Centro-Oeste e Oeste se mostram ambas com (6%).

No que se refere ao aborto, se alguma mulher já havia vivenciado esse momento, 79% afirmaram que não, enquanto 21% sim. Quanto às realizações das consultas do Pré-Natal, 89% confirmaram terem comparecido as consultas, e 3% não deram início às consultas.

Condutas violentas no parto

Foi verificado qual profissional de saúde que conduziu/assistiu o parto, com 76% foram apontados os médicos, 10% Enfermeiro e com 6% Médico e Enfermeiro juntos.

Foi questionado se as mulheres foram impedidas de ter acompanhante em algum momento dentro da maternidade, verificou-se que 75% não foram impedidas, enquanto 25% foram impedidas durante o parto propriamente dito e o pré-parto, incluso nesse percentual estão 15% de mulheres que foram proibidas de ter acompanhante no parto, 6% no pré-parto e 4% em todo processo partejar e puerpério.

Verificou-se a ocorrência de exame de toque vaginal no trabalho de parto ao qual foram submetidas, e 72% afirmaram no questionário que sim, enquanto 19% não e 9% não se aplicavam a pergunta.  Logo após, observou nas suas respostas se esses exames de toque foram realizados em sequência por diferentes profissionais, e obteve-se que, 39% das mulheres afirmaram que sim, 33% falaram que não. O consentimento/autorização antes das realizações dos toques vaginais, 45% confirmaram sim, enquanto 27% que não e 28% não se aplicavam a pergunta.

Com relação à manobra de Kristeller, 17% das mulheres relatam terem sido submetidas à manobra, 61 % afirmam que não e 22% não se aplica. Enquanto a manobra de Valsalva apresenta uma pequena discrepância nas respostas afirmativas, sim 18%, não 54% e 23% das mulheres responderam que não se aplicavam a pergunta.

Outra pergunta questionava se a gestante sabia o que era violência obstétrica e 51% responderam que não, 49% que sim; ainda, a respeito questionou-as se considerava ter sofrido alguma violência obstétrica, 68% falou que não e 32% que sim.

As que afirmaram ter sofrido violência obstétrica foi realizado uma questão a respeito se foi feito alguma denúncia formal, e 98% falaram que não.

Conclusão

Através da análise dos partos investigados, identificaram-se a ocorrência da prática de violência obstétrica as mulheres que pariram entre julho de 2014 a junho de 2015. Essa incidência é marcada pelas seguintes práticas obstétricas violentas: violência institucional, violência moral, violência física e a violência psicológica e verbal. Os dados apontam danos à saúde das mulheres, como: transtornos físicos epsicológicos que afetam seu dia a dia e uso de condutas assistenciais desatualizadas. Essas condutas praticadas pelas instituições e profissionais durante a parturição, sustenta a necessidade de ações que qualifiquem a assistência nas instituições públicas e privadas que assistem às parturientes e às puerperais da cidade.

Como considerações finais têm-se a proporção em que a pesquisa abrangeu em relação às perspectivas impostas, sendo assim, pode-se identificar a necessidade de qualificar as informações prestadas à parturiente e o atendimento no pré-natal, promovendo assim o empoderamento da mulher na atenção primaria à saúde, levando em consideração sua situação socioeconômica e os demais determinantes de saúde. Os dados ressaltam também a importância da perspectiva holística, ao qual ouvir e sanar as dúvidas da mulher.


Palavras-chave


condutas violentas no parto, violência contra a mulher, humanização da assistência