Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Impacto de ações de intervenção para prevenção da violência no namoro
ROSANA ALVES DE MELO, FLAVIA EMÍLIA CAVALCANTE VALENÇA FERNANDES, KARINA PERRELLI RANDAU

Última alteração: 2017-12-30

Resumo


Apresentação: A violência no namoro pode ser definida como qualquer comportamento destinado a controlar ou dominar o(a) parceiro(a), por meios físicos, psicológicos ou sexuais, gerando sofrimento e danos para a saúde e o desenvolvimento dos indivíduos. Pode ocorrer em relações de curta ou longa duração, e se con­figura como um precursor da violência intrafamiliar, assim como tem sido documentada sua ocorrência tanto em casais heterossexuais quanto em casais homoafetivos, ainda que esse contexto seja, comparado ao anterior, pouco investigado ainda. É considerada uma questão de saúde pública, com o potencial de impactar de forma negativa na saúde física e mental de todos os envolvidos. Os fatores de risco associados a essa problemática podem estar associadas a experiências prévias de vitimização e exposição à violência, como presenciar situações de violência entre os pais; ser vítima de maus-tratos pelos responsáveis; ter amigos vivenciando relações violentas; e aceitação e justificação da violência como algo possível e natural entre os parceiros. A violência no namoro está sendo um pouco mais discutida na atualidade, apesar de ter sido muito tempo negligenciada das discussões, enquanto possível forma de relação abusiva entre adolescentes, uma vez que só se reconhecia como racionamento abusivo a violência existente entre parceiros íntimos adultos, porém, ainda é mais amplamente discutida internacionalmente. Diante das diversas consequências negativas associadas a perpetuação da violência afetiva, vem crescendo o planejamento e a implementação de programas de prevenção na violência no namoro, sendo destinados a grupos de adolescentes e jovens, frequentemente, em ambiente escolar e universitário, independente do seu grau de exposição a riscos para violência no namoro, visando mostrar a esses indivíduos a gravidade da violência e educa-los acerca de comportamentos não violentos na intimidade, como forma de diminuir a probabilidade de se tornarem futuros agressores ou vítimas. Dessa forma, este estudo teve como objetivo analisar o impacto de ações de prevenção da violência nas relações de namoro na adolescência. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada por meio de busca avançada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), o que nos permitiu explorar as bases de dados Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), além de acesso a Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Os critérios de inclusão foram: publicações dos últimos seis anos, enfatizar ações implementadas para prevenção da violência no namoro adolescente, possuir conteúdo completo disponível, estar nos idiomas inglês, português ou espanhol. Adotou-se a busca booleana para a pesquisa na BVS com os seguintes descritores: “violência no namoro” AND “prevenção” AND “adolescência”. A busca no SCIELO utilizou os termos: “violência”, “namoro” e “prevenção”. A pesquisa foi realizada no mês de outubro de 2017. Foram encontrados 08 artigos e após a leitura dos resumos, foram incluídos na amostra quatro artigos. Resultados e/ou impactos: As atividades de prevenção realizadas com o intuito de conscientizar os adolescentes sobre relações de namoro livres de violência, mostram-se eficazes dentro desse contexto. No primeiro artigo analisado, observou-se que as atividades de extensão realizadas com adolescentes escolares, visando prevenção de violência afetiva, se mostrou bastante eficaz, porém, quando realizadas de forma participativa, abordando habilidades sociais, conhecimentos sobre os diversos tipos de violência existentes no namoro, assim como atitudes e crenças relativas a papéis de gênero. Em contrapartida, a abordagem feita através de programas de prevenção meramente informativos, se mostraram pouco eficazes, levantando a necessidade de implementações multicomponentes, com a participação efetiva do grupo alvo, tudo isso sendo avaliado em momentos pré e pós intervenção, como forma de avaliar seu impacto. Assim, observa-se que intervenções com enfoque na construção de habilidades sociais, de manejo das emoções e resolução de conflitos, bem como com questionamentos sobres os papéis de gênero e troca de informações sobre violência no namoro, no sentido de capacitar os adolescentes sobre como manejar conflitos interpessoais sem agressão e fortalecimento de seus vínculos afetivos, se mostram bastantes efetivos nessa construção. Além dos achados trazidos até aqui, encontrados também na segunda publicação analisada, viu-se que a abordagem trazida incluía informações sobre direitos sexuais e reprodutivos e o empoderamento do casal, considerando a particularidade de cada um. A metodologia usada nesse estudo, envolveu a intervenção por um tempo de oito meses, sendo que a avaliação do impacto das intervenções realizadas só se deu ao final de todas as atividades realizadas. No pós teste, evidenciou-se que, apesar de não ter havido intenção de enfrentamento à violência no namoro e regulação emocional em nenhum dos dois gêneros, houve o aprendizado de autocontrole e expressão emocional, assertividade e empatia sobre questões que envolvem a afetividade do casal. Tais evidências são positivas e indicam uma redução em crenças estereotipadas sobre papéis de gênero masculinos, este como um dos fatores de risco para violência entre os pares. O terceiro artigo analisado, sumariza sua discussão na ideia de que as atividades de extensão/intervenção é fator importante na mudança de comportamento, crenças e atitudes que suportam a violência no namoro. Entretanto, levanta o dado de que, mesmo mostrando a eficácia das atividades de extensão na prevenção de violência nas relações de namoro na adolescência, essas intervenções ainda são poucos enfatizadas e realizadas na nossa realidade. Este estudo também mostrou que o papel dos facilitadores das ações é de extrema importância, considerando que os mesmos devem estar despidos de (pre)conceitos e estarem abertas não somente para discutir essa temática, mas para a troca de experiência e ideias que possam consolidar o aprendizado e favorecer a desmitificação de atitudes violentas. Por fim, um estudo realizado com o intuito de avaliar a metodologia dos programas de intervenção em adolescentes, evidenciou o mesmo que já vem sendo trazidos por outros estudos com o mesmo enfoque, que as atividades de extensão são consideravelmente importantes na conscientização e diminuição dos casos de violência no namoro, porém, é necessário um aprofundamento maior do tema por parte dos facilitadores, bem como a instituição de metodologias de implementação mais rigorosas, centrada na mudança efetiva de condutas por parte dos envolvidos. Considerações finais: Ao passo que está sendo evidenciado por alguns estudos a importância de ações de extensão na prevenção de violência no namoro, enfatiza-se a necessidade de estudos que mostrem a prevalência e incidência de violência nas relações amorosas de adolescentes e jovens, sobre os contextos e significados atribuídos a esta experiências e sobre as repercussões da mesma, na vida de todos os envolvidos. Isso favoreceria a ampliação de metodologias inovadoras que envolvessem diferentes modelos de prevenção e que avaliassem adequadamente a sua eficácia e seu impacto. No plano escolar/acadêmico, torna-se importante realizar um maior investimento na formação dos agentes educativos, assim como criar espaços para refletir sobre o tema das relações íntimas, promovendo de modo transversal modelos de interação positivos, para que as mudanças de atitude diante do problema da violência no namoro possam ser viabilizadas e consolidadas.


Palavras-chave


Violência; impacto; prevenção; adolescente