Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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UMA ATMOSFERA DE AJUDA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL ATRAVÉS DE GRUPOS DE APOIO TERAPÊUTICO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Erika Rêgo da Cruz, Telma Eliane Garcia, Elielson Paiva Sousa, Eliseu da Silva Vieira, Heliton Matos da Siva

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação: A intrínseca relação entre o corpo e a mente tem sido objeto de reflexão filosófica desde a antiguidade e atualmente as pesquisas da neurociência tem contribuído para a compreensão das funções cerebrais e processos mentais endossando a importância dos estudos sobre emoções e sentimentos. O conhecimento torna-se revelador e seus resultados influenciam as práticas clínicas, induzindo a significativas transformações, como as ocorridas na atenção aos portadores de sofrimento mental. As novas abordagens propostas pela Atenção Psicossocial, a partir da Reforma Psiquiátrica, introduzem equipamentos assistenciais que reconhecem esta vinculação entre o corpo e mente e valorizam a escuta na expressão livre, estimulando a convivência com as diferenças. Nesse modelo terminam por promover o exercício da cidadania facilitando a inserção social de indivíduos outrora segregados. Ressalta-se nesse contexto o papel primordial dos grupos de apoio terapêutico que oferecem aos participantes a oportunidade de integrar-se a um ambiente acolhedor, propiciando trocas de vivencias compartilhadas que fortalecem a percepção de não ser o único a passar por dificuldades. A finalidade dos grupos de apoio é servir como um sistema de suporte reunindo pessoas com situações semelhantes, e assim facilitando um ambiente de respeito onde elas possam expressar suas dificuldades e considerar diferentes modos e estilos de vida. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é compartilhar a experiência de um grupo de apoio terapêutico para incentivar profissionais de saúde na promoção da autoestima e autoconfiança de pacientes com desequilíbrio emocional, apropriando-se dessas novas tecnologias. Desenvolvimento do trabalho: A experiência foi vivenciada por acadêmicos do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA), sob supervisão da docente responsável pela atividade curricular em Saúde Mental, da referida instituição. A ação foi realizada no município de Belém, Pará, Brasil, tendo como público alvo usuários de uma unidade municipal de saúde, diagnosticados com transtornos mentais ou emocionais. O grupo organizado em uma roda de cadeiras iniciou com uma atividade de abertura onde foram dispostas no centro do círculo ao chão, alguns recortes de revistas que retratavam imagens aleatórias, como alimentos, carros, violência, tristeza, raiva, dor, sorrisos, dentre outros. Os participantes foram orientados a pegar uma dessas imagens para si, em seguida cada um deveria se apresentar e compartilhar com todos a razão de ter escolhido a figura e o que representava para sua pessoa. Em um segundo momento, após todos terem justificado suas escolhas, foi realizado o momento de resgate de uma lembrança que lhes causava a sensação de perda e marcado a sua vida no passado. Todos compartilharam suas recordaçôes, alguns com sinais emocionais de estar revivendo o momento. Em seguida o dirigente requisitou que cada um salientasse os sentimentos vivenciados na época do ocorrido, incumbência que moveu as sensações de entristecimento e algumas lágrimas. Logo depois foi solicitado a todos, os que quisessem, poderiam partilhar o modo como conseguiu superar sua perda. Posteriormente, todos falaram uma palavra que representasse algo positivo que tenha servido como ferramenta de apoio ou de ajuda na maneira como conduziu o processo de superação da perda. Para finalizar, todos se dispuseram de pé e simbolicamente deveriam passar à mão, como quem entrega um presente, ao seu colega do lado, uma palavra que resumisse o que ele havia aprendido naquele dia, e este colega repassaria ao próximo aquilo que lhe foi entregue e aquilo que ele aprendeu, e assim sucessivamente até que todos recebessem estes dois presentes simbólicos de palavras positivas que contribuíssem como forma de apoio, lição e superação. Resultados e/ou impactos: A reunião de grupo obteve surpreendente resultado com a participação ativa do público-alvo que esteve receptivo em todas as etapas. Para a atividade de apresentação e escolha da figura observou-se que as figuras escolhidas tinham vínculos emocionais que referenciavam a sentimentos positivos, que lhes transmitia uma sensação agradável de algo útil no dia a dia, do amor entre entes queridos, de renovação de força, de lazer e cuidados pessoais com a higiene e alimentação. Na segunda etapa, onde foi introduzido o tema a ser trabalhado, evidencia-se relatos de perdas negativas de entes queridos que morreram. No desenvolvimento do tema o grupo ressaltou o quanto a perda lhes havia ocasionado transtornos emocionais que, para alguns, até os dias de hoje permanecem presentes. Como exemplo, um dos participantes narrou um surto que teve ao receber a notícia da morte de seu avô, comportando-se de forma extremamente agressiva, quebrando objetos da casa, socando paredes e gritando até desmaiar. Outro participante relatou não ter voltado a cidade de seu avô, onde costumava frequentar para visitá-lo antes da sua morte, pois para ele havia perdido o sentido retornar àquele lugar, embora houvessem outros parentes residindo na localidade. Um sentiu-se perdido e desnorteado após perda da avó, e enunciou não ser a mesma pessoa que fora antes do ocorrido. Os casos relatados proporcionaram uma reflexão sobre a diversidade de sentimentos, ações e respostas, que cada indivíduo pode desenvolver diante de uma situação trágica e/ou extrema, e o quanto elas se refletem e interferem negativamente após anos, proporcionando desequilíbrios emocionais. Foi discutido durante a reunião que o sentimento de perda as vezes pode ser egoísta por parte dos entes que permaneceram vivos, e que não aceitam a partida daqueles que foram, mesmo que a morte represente o fim de um sofrimento causado por uma doença, por exemplo. As considerações e percepções causaram intensa reflexão nos participantes, levando-os a perceber novos olhares para ressignificar sua perda. No fechamento do tema, onde foi perguntado o que fizeram para superar a sua perda, algumas palavras foram mencionadas como: processo de aceitação, tempo como curador e reflexões. Este último provocou uma nova reflexão sobre como é importante atentar para a situação vivenciada, buscar entender os sentimentos interiores diversos para encontrar soluções ou respostas que colaborem no processo de superação da dor. As palavras destacadas pelos participantes no encerramento foram referentes a fé, determinação, esperança, força, confiança e superação. Estas foram ditas como atitudes que ajudaram a passar pelas perdas e que também serviram como aprendizado e ferramenta de apoio a todos para encarar as perdas passadas e as que virão ao longo da vida. O sentimento de alivio foi evidente bem como o de desabafo em compartilhar com o grupo as aflições que carregavam quanto a sua perda mais significativa, o que favorecem o autoconhecimento e a aquisição de um novo repertório de emoções para o enfrentamento da vida. Considerações Finais: Evidenciou-se que a utilização de estratégias como os grupos de apoio terapêutico, auxiliam na superação das angustias, melhora a estabilidade emocional dos participantes, promove interação social, além de contribuir para a promoção da autoestima, da autoconfiança, da solidariedade e responsabilidade mútua entre integrantes, podendo favorecer ao encontro de melhor equilíbrio emocional aos participantes. Outrossim, a nós acadêmicos, pôde contribuir na formação de futuros enfermeiros capazes de identificar problemáticas e buscar solucioná-las através de abordagens dinâmicas e participativas que possam promover a saúde mental nas várias esferas de atuação como profissionais de enfermagem.


Palavras-chave


Assistência; Saúde; Mental