Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Deslocamentos na pesquisa em saúde coletiva a partir dos encontros com a Comunidade Indígena Potyguara de Mosenhor Tabosa-Ceará
Maria Lidiany Tributino de Sousa

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Acompanhar a trajetória dos encontros com as pessoas pertencentes à comunidade indígena dos Potyguaras em Monsenhor Tabosa no Ceará, bem como o que afetou dos filmes assistidos, das participações em eventos, das leituras de livros, artigos, jornais e documentos, possibilitou deslocamentos e aproximações com os modos de vida em combinação. Pode-se apreciar processos de subjetivação com questões macroestruturais imbricadas, assim como encontrar também traçados de singularização. O desejo esteve em percorrer os mapas de singularidades que não estão, completamente, subjugados pelas tramas das instituições, identidades e categorias conceituais, buscando deslocamentos e não origens. Os mapas foram uma redistribuição de passos, impasses, e descobertas de novas terras.

Ao longo do trabalho de campo e dos encontros com as lideranças, surgiram perguntas acerca da ideia de saúde indígena e dos “devires que o modelo de saúde dominante diz ser impossível” (DELEUZE, 1997, p. 3). Assim, esses contatos ofereceram espelhos que refletiram o adoecimento dessa expressão Saúde Indígena na literatura acadêmica, e o pensamento humilde, marginal e “minoritário” de Deleuze abriu linhas de fuga para ver o mais simples, criando frestas em campos institucionais e sociais rígidos, pois parte-se do desejo de que mesmo com a criação de identidade fechadas, algo “vaza de todos os lados” (DELEUZE, 2006, p. 127).

A experiência nas comunidades indígenas tem aproximado os pesquisadores de combinações vividas de saúde que não se restringem a ausência de doença, mas integra a ideia de adoecimento, bem como das relações entre vida espiritual, convivência comunitária e ecológica. Falar de saúde para o Potyguaras é dizer dos seus antepassados e do seu presente, inclui o conhecimento sobre as plantas medicinais; tratamento natural (ervas, barro, água, pedra, fumaça, terra); trabalho do pajé, curadores, rezadores e parteiras; cuidados com as crianças, com os velhos e o ambiente, assim como do seu contato com o sistema formal de saúde.

Vai se percebendo o quanto essas pessoas são geradoras de novos agenciamentos, outras configurações técnicas, políticas, estéticas e éticas de produção de saúde e de si. Desse modo, anda-se por entre terras do que se produz como saúde, e o corpo acorda e passa a fluir e ser afetado, estando vivo não como instrumento, mas como uma combinação de sensações.

Não se tem a pretensão de medir ou enquadrar essas combinações, mas possibilitar que elas causem mutações na forma de ver, escutar e pensar dos pesquisadores. Que os devires possam romper com os padrões e séries produzidas pelas concepções de saúde. Também não se pretende mitigar os devires transformando-os em modelos ou referências, mas se contaminar pelas intensidades e deixar que esses fluxos desmanchem essas ideias de saúde como unidade.

 


Palavras-chave


Saúde Indígena, Pesquisa em Saúde Coletiva