Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Docilidade Ambiental como aspecto de promoção da saúde integral
Denise Aparecida Rodrigues Amancio, Maria Inês Gasparetto Higuchi

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


A vida com índice de maior longevidade da sociedade atual é uma realidade emergente e requer estudos profundos que repercutam em políticas públicas de promoção da saúde integral na velhice. Estudos recentes afirmam que o idoso não é isolado do mundo e que estes incorporam em suas ações o mundo físico e social. Tradicionalmente as ciências nos mais diferentes campos de conhecimento, se ocuparam em estudar essas dimensões de forma separada. No entanto, recentemente essa tendência vem sendo gradativamente desconstruída.

A Psicologia Ambiental (PA) se configura como uma perspectiva que busca estudar as relações recíprocas entre idoso e ambiente, ou seja, defendo o pressuposto de que pensar na qualidade de vida do idoso é necessário desvelar o espaço e lugar desse idoso, seja no âmbito objetivo ou subjetivo, incluindo elementos do ambiente físico e social como uma unidade indivisível. Como os demais indivíduos em idades diferenciadas, os idosos se constituem como pessoas num determinado espaço geograficamente circunscrito, no qual os acontecimentos sociais ocorrem. Esses espaços se tornam significativos e são internalizados como extratos coadjuvantes na formação de vínculos afetivos e práticas sociais.

A partir desse entendimento, a PA incorpora aspectos da Gerontologia Ambiental para dar ênfase na gestão de cuidados com idosos e políticas que considere a otimização da relação entre os idosos e seus entornos social e físico. A qualidade presente nesses entornos seja no âmbito privado ou público, é fundamental para promover a mobilidade e acessibilidade com segurança dos idosos no espaço urbano. São essas características produtoras de qualidade que o termo Docilidade Ambiental surge e se estabelece como aspecto promotor de saúde integral para os idosos.

A Docilidade Ambiental (DA) pode ser definida como a relação de competência, relativa aos aspectos de funcionalidade biológica (percepção, cognição, habilidades motoras) e sua conexão com as demandas ambientais (pressão ambiental), que interferem na vida deste indivíduo. Portanto, é importante considerar que o ambiente físico é uma variável fundamental que pode promover ou restringir a qualidade de vida dos idosos. Assim, discutir saúde do idoso é também incluir o ambiente em que esse idoso está inserido.

Envelhecer apresenta dificuldades em vários aspectos, entre eles a capacidade de lidar com arranjos ambientais limitantes de autonomia ou segurança. Tais fatores de interferência requerem um conjunto de competências e comportamentos adaptativos que muitas vezes o idoso não se sente apto ou estimulado a se engajar. Reverter esses fatores de interferência é promover a DA. Dessa forma, a DA discute as competências dos indivíduos frente às pressões ambientais advindas, por exemplo, de temperaturas extremas, supressão ou superestimulação sensorial, barreiras físicas, alta densidade de ocupação, arranjos espaciais inseguros, violência doméstica ou pública, restrição de acesso ao alimento, entre outros. No caso do idoso é essencial que este possa estar provido de saúde física, de posse de capacidades sensório-perceptivas, motoras e cognitivas, além de equilíbrio emocional. Os níveis de pressão ambiental interferem direta ou indiretamente no comportamento e no uso das competências. Sendo assim, a saúde e bem-estar são afetados não somente por fatores biológicos e comportamentais, mas também ambientais.

Portanto, a DA implica levar em conta a relação pressão-competência apresentada pelo idoso em situações de variação do ambiente em cujo espaço ocorrem as atividades sociais e que dela resultam estados diferenciados de bem-estar físico e psicológico. De modo geral, aqueles que possuem menos competências são afetados diretamente pelas alterações do ambiente. Nesse sentido, o aspecto “dócil” ou “amigável” do ambiente permite que o idoso possa lançar mão de suas capacidades individuais de forma mais eficaz e assim consecutivamente oportunizar o desenvolvimento de novas competências.  Ocorre assim um estado de adaptação livre de obstáculos estressantes que findam em adoecimentos desde os mais leves até os mais graves. Onde ocorre a DA o idoso se sente inserido e pertencente àquele espaço. A DA serve para ainda descrever as intervenções ambientais que possibilitam o apoio, a assistência e a acessibilidade necessários para o desempenho de atividades rotineiras para diminuírem os efeitos negativos das pressões ambientais inevitavelmente presentes para o idoso.

Para exercer aspectos de docilidade o ambiente deve ser organizado (ergonômico e cuidado), estimulador (apoio para o desenvolvimento atividades de fácil desempenho e atrativo) e seguro (riscos reduzidos e controlados). Tais características permitem um envelhecimento ativo e com qualidade de vida. O idoso, como as demais pessoas, tem o direito de viver e fazer intensos usos sociais desde o micro, o meso até o macro ambiente para suas atividades cotidianas. Esses deslocamentos e vivências dependem da docilidade presente neles.

Diante disso, a pergunta que embasa esse texto envolve espaços de convivência destinados aos idosos na cidade de Manaus-AM. Estariam os espaços de convivência observando a docilidade ambiental na promoção da saúde integral dos idosos, para os quais foram criados? Questiona-se ainda qual a real e genuína concepção de DA que está presente na atual configuração espacial do ambiente urbano, em especial nos lugares de inclusão dos idosos. Quais ambientes construídos para os idosos congregam valores genuínos em termos de promoção da saúde e de cuidado com os idosos?

Problematizamos nessa apresentação o idoso num desses espaços a ele especialmente designado. O estudo teve como objetivo identificar aspectos ambientais que potencializam ou não o uso social de um espaço de convivência, a partir das relações desenvolvidas e fortalecimento de suas competências no enfrentamento das pressões ambientais. Os resultados do estudo trazem elementos vitais para refletir as condições com que a sociedade diz se preocupar com o idoso e aquelas que equivocamente deixam transparecer o descuido diante da pessoa idosa. Essa leitura se dará a partir do ambiente físico que o idoso é, inexoravelmente, posto para viver e conviver. Observa-se assim, a vinculação da promoção da saúde integral do idoso com as adequações do ambiente em cidades, atendendo às necessidades sociais desses citadinos, seja de infra-estrutura, serviços ou acesso aos bens. A dimensão ambiental é, pois, uma dimensão existencial da saúde integral que deve ser incluída nas políticas públicas.

Esta proposta articula-se com o eixo temático “Trabalho” (Eixo 2), ao enfatizar sujeitos e singularidades na construção do cuidado em saúde e territorialização em saúde. Tendo como base teórica, o campo dos estudos da Psicologia Ambiental e Docilidade Ambiental, buscar-se-á aprofundar aspectos que vão ao encontro de diretrizes e subsídios para a melhoria de espaços para a população idosa e saúde, discorrendo sobre estudos já realizados e acessados por meio de revisão de literatura que agreguem à discussão proposta.


Palavras-chave


Docilidade Ambiental; Idoso; Pressão Ambiental; Saúde Integral.