Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O uso crônico de benzodiazepínicos e a experiência de começar o cuidado em grupo, em uma comunidade de Macaé
Leila Tatiana Manes Romanini de Abreu, Luciana Cajado, Rafael Bussola

Última alteração: 2017-12-15

Resumo


Apresentação: O internato de Medicina de Família e Comunidade da UFRJ-campus Macaé propõe aos internos a elaboração de um projeto de intervenção na comunidade, ao longo da vivência no estágio, numa equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF).  Durante uma dessas experiências no município, a observação de consultas, da dinâmica do território e do processo saúde-doença revelou que a população merecia um olhar mais ampliado no campo da saúde mental. Naquele serviço, havia uma elevada demanda por medicamentos, em especial ansiolíticos, alguns com uso crônico de longa data sem indicação clínica, caracterizando um fenômeno. Medicalização é quando problemas que não são de ordem médica transformam-se em problemas de saúde. A medicamentalização é o uso de medicamentos nessas situações. Nesse sentido, propôs-se junto à equipe da ESF a construção de um grupo com usuários de benzodiazepínicos, como uma forma de abordagem não medicamentosa.

 

Desenvolvimento: Através do canhoto das receitas tipo B (“azul”), utilizadas para prescrição (com dados como: nome, medicação, dosagem e quantidade que utiliza), fez-se um primeiro levantamento dos usuários a serem convidados para participar. Os convites ocorreram, principalmente, durante as consultas. Para a abordagem em grupo, utilizou-se a pratica do tipo operativo, com duração de até uma hora e meia. Os coordenadores do grupo foram os internos e a médica da equipe. Utilizou-se a diretriz da Associação Médica Brasileira: “Abuso e Dependência de Benzodiazepínicos” (2013) como material de apoio. Ocorreram três encontros, com intervalos mensais, durante a experiência do estágio. Por sugestão da equipe, ao final de cada encontro, renovavam-se as receitas propondo redução das doses, como forma de estimulo para as pessoas frequentarem o grupo.

 

Resultados: Quarenta e cinco pessoas foram convidadas. Apenas quatro participaram dessa primeira experiência. Durante os encontros, abordou-se o significado do remédio para a pessoa, experiência do sofrimento, da ansiedade, além de outros temas da vida. Os motivos relatados para início do benzodiazepínico foram insônia, ansiedade relacionada com compulsões alimentares e agorafobia. Alguns meios de lidar com o sofrimento foram sugeridos pelos coordenadores do grupo, como exercícios físicos regulares e prática de meditação. Além disso, orientou-se sobre dispositivos da rede de saúde com práticas integrativas e complementares. Nas avaliações individuais feitas por cada participante, todos consideraram a experiência boa e duas pessoas iniciaram a prática de meditação orientada nos grupos.

 

Considerações Finais: A pessoa possui dimensões orgânica, psíquica e social. Para compreendê-la e cuidar, é importante não negligenciar nenhuma delas. O desemprego que afeta milhões de brasileiros, as condições de moradia, de alimentação, de saneamento básico, de acesso a estudo, de trabalho, de condições de transporte público, não podem ser dissociadas de uma abordagem em saúde. Mudanças nessas variáveis também podem levar ao adoecimento e o medicamento, em muitos casos, apenas silencia os sintomas. É necessário repensar a medicalização e a medicamentalização, fenômenos da contemporaneidade, bem como construir novos espaços de cuidado, na Atenção Básica, incluindo recursos terapêuticos não medicamentosos.


Palavras-chave


Benzodiazepinicos; Cuidado; Atenção básica