Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MEDICINA, MEDICALIZAÇÃO E TÉCNICA MODERNA: OS IMPACTOS NO CUIDADO.
Leila Tatiana Manes Romanini de Abreu, Carolina Castello Branco, Joelson Tavares Rodrigues, David Richer

Última alteração: 2017-12-15

Resumo


Apresentação:

Uma das questões frequentemente abordadas em medicina, sobretudo a partir das queixas dos próprios usuários dos serviços de saúde, é a necessidade de humanização e de melhoria das formas de cuidado.  Fundamentado no método fenomenológico-hermenêutico, conforme a concepção de Martin Heidegger, o presente trabalho busca investigar de que maneira o uso crescente de recursos técnicos e, sobretudo do recurso medicamentoso, tem impactado a relação estabelecida entre médico e paciente, criando o espaço para as queixas de “desumanização” da prática médica. Heidegger, em um texto intitulado “A questão da técnica”, assegura que a técnica, ao contrário do que habitualmente supomos, não é neutra e não encontra-se sob o arbítrio e a decisão humana.  Em sua proposição, a técnica é produtora, ou seja, ela molda e modula o modo como se estabelece a nossa relação com as coisas e com o mundo. A técnica moderna se mostra, no interior do nosso trabalho, intrinsicamente ligada ao fenômeno da medicalização.

Desenvolvimento:

O termo medicalização refere-se a progressiva conversão de questões que originariamente não estavam sob o arbítrio da medicina, em áreas de interesse e intervenção médica. Como resposta à medicalização surge, frequentemente, um outro fenômeno – a medicamentalização –, em que se buscam alternativas medicamentosas para as questões previamente medicalizadas, passando as medicações a ocuparem um papel central na dinâmica do cuidado. O uso do recurso medicamentoso encobre possibilidades de relações humanas e desencobre outras. A medicalização pode ser entendida como uma forma de controle médico do social. De acordo com Foucault, a medicina pode ser compreendida como uma tecnologia disciplinar, colaborando ativamente para a constituição de uma biopolítica do poder. As tecnização do ato médico, assim como outras formas de recursos técnicos, tendem a assumir o lugar central no processo de tratamento, alterando significamente a relação médico-paciente. O uso do termo medicalização pode ser entendido como uma crítica ao poder médico que tende a hegemonizar e normatizar, definindo o normal e o patológico a partir de um recurso técnico, usado para a prática do cuidado.

Resultados/ e ou impactos: A medicina moderna está sendo tecnicamente produzida, na contracorrente do sentido Heidegeriano. Aos poucos, elimina-se o deixar acontecer, o ocasionamento e a natureza como poiesis, que formava o processo do desencobrimento médico-paciente. Tudo ocorre por um intermédio da técnica e do técnico, em figuras fechadas, dosadas e estritamente seguidas. Em contrapartida da revolução tecnológica da medicina, surgem novas propostas para o cuidado no campo da saúde, como integralidade, promoção da saúde, humanização, entre outros.

Considerações Finais: É necessário refletir o papel da técnica e da medicação como instrumento técnico no cuidado. A discussão de humanização dos serviços de saúde, correm risco de uma simplificação se o papel da técnica não for discutido, comprometendo assim, as possibilidades de mudanças efetivas.


Palavras-chave


Técnica; Cuidado; Humanização