Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A CONSTRUÇÃO DIÁRIA DO TRABALHO MULTIPROFISSIONAL EM PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NO PARÁ
Liliane Silva do Nascimento, Flavia Sirotheau Correa Pontes, Helder Antonio Rebelo Pontes, Adalberto Lírio de Nazaré Lopes, Eric Campos Alvarenga, Arnaldo Gonçalves Junior

Última alteração: 2017-12-14

Resumo


APRESENTAÇÃO: Propomos a discussão da construção do trabalho multiprofissional em programa de residência multiprofissional em saúde(RMS), reconhecendo os paradigmas da formação e do exercício profissional, através da reflexão diária da importância da necessidade de mudança de modelos assistenciais e preenchimentos das lacunas na graduação do ensino em saúde na perspectiva real do trabalho coletivo. Frente à crise mundial da força de trabalho em saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a RMS uma estratégia inovadora em que os profissionais são preparados para trabalhar em equipes interprofissionais capazes de desenvolver práticas colaborativas. Pode ser usada para reduzir o corporativismo profissional e favorecer a formação de profissionais colaborativos, com impactos positivos nos sistemas de saúde e nos resultados de saúde da população. Nos modelos educacionais atuais, a formação em saúde é uniprofissional, pois as atividades educacionais ocorrem apenas entre os estudantes da mesma profissão. Há pouca ou nenhuma interação com os de outras profissões, o que contribui para a falta de reconhecimento das competências e das responsabilidades específicas das profissões e também para a criação de estereótipos e preconceitos.A RMS tem como características essenciais o trabalho em equipe e o reconhecimento dos papeis profissionais para que se identifiquem as especificidades de cada profissão, mas também as competências compartilhadas, além do compromisso entre os sujeitos envolvidos em buscar a resolução de problemas e a negociação nas tomadas de decisão em uma perspectiva colaborativa. Para que isso ocorra, deve haver o desenvolvimento de três competências: competências comuns a todas as profissões, competências específicas de cada área e competências colaborativas. Requer ainda a adoção de estratégias pedagógicas como a andragogia, a aprendizagem baseada na prática e nas interações.

 

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A residência na área da saúde é reconhecida como curso de Pós-Graduação lato sensu e segue normativas dos IES formadoras e registros nos conselhos das categorias profissionais envolvidas.  A área médica foi pioneira na oferta deste tipo de especialização. No Brasil iniciou em 1954 direcionada ao aperfeiçoamento acadêmico da prática em serviço. Compreendem-se os programas de RMS como estratégia de reorientação da atenção básica, inserindo jovens qualificados no mercado de trabalho, norteados pelos princípios e diretrizes do SUS, a partir de necessidades e realidades locais e regionais. Desse modo as RMS tem como finalidade a formação coletiva em equipe integrada no serviço de saúde, contribuindo para a integralidade do cuidado ao usuário, contemplando todos os níveis da atenção e gestão do sistema. A reflexão que trazemos discute a prática de um Programa de Residência Multiprofissional em clinica integrada, desenvolvido na cidade de Belém, Pará pela Universidade Federal do Pará. O programa iniciou em 2015 e possui atualmente 20 residentes das categorias profissionais: biomedicina, enfermagem, odontologia e serviço social. O programa nasceu da necessidade do cuidado ampliado às pessoas com morbidades associadas devido ao câncer bucal, traumas faciais, lesões de origem odontogênica, entre outros agravos relacionados ao sistema estomatognático e suas relações de origem sistêmicas. Surge dentro do principal cenário de cuidado da alta complexidade o Complexo Universitário Hospital João de Barros Barreto. Em sua matriz aborda vivencias na gestão estadual e municipal, atenção básica e média complexidade de Belém. Nestes cenários os residentes integram-se a rotina dos serviços. A análise aqui se dá na leitura dos portifólios, instrumento de avaliação e acompanhamento do desempenho individual dos residentes. Bem como em resposta de dados via google forms enviado por aplicativo de mensagem, respostas não identificadas foram coletadas e trabalhadas quantitativamente.

RESULTADOS: a idade média do residente é 27 anos, 90% solteiros e residindo com os pais, com renda familiar média de três salários. Existe parcial reconhecimento e registro da residência pelos conselhos profissionais. A busca pela residência se dá em dois núcleos de sentido: 1- qualificação profissional e 2 – remuneração. Observa-se que nos serviços de saúde o trabalho multiprofissional ainda é um desafio, pois a constante observada é a reprodução da vivencia e experiência individual de cada profissão. Nos relatos a discussão de casos de forma multiprofissional acontece dentro do espaço de ensino do hospital universitário, rotina que não é vivenciada nos serviços, onde a valoração ainda é expressivamente quantitativa na produção de resultados e alcance de metas. Foram observados momentos pontuais de integração multiprofissional quando executavam campanhas ou eventos com temáticas de educação em saúde na comunidade, onde a congregação de saberes fazia a diferença com alto impacto na formação dos residentes. O fator preponderante em impacto negativo durante a residência destacado é a falta de reconhecimento dentro da própria categoria pelo acolhimento do profissional preceptor. Percebe-se que críticas pertinentes em relação ao funcionamento e processo de trabalho de alguns cenários de práticas são mediadas por tutores qualificados, embora não exista remuneração ou reconhecimento para o trabalho. Favorece-se a articulação entre as residências e políticas de saúde dos municípios propicia nos três níveis de assistência buscando a integração multi e intersetorial.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para este estudo reconhecemos a introdução recente dos programas de residência multiprofissional e temos como pressuposto que a formação dos profissionais de saúde tem sido desenvolvida desarticulada da necessidade de mercado de trabalho, da gestão setorial, do debate crítico sobre os sistemas de estruturação do cuidado em saúde e do controle social.  O esforço da busca do trabalho multiprofissional e  integrado se mantém de modo contínuo, num esforço diário de todas categorias buscando envolver a comunidade e adequando as práticas aos problemas predominantes. Através do fomento ao uso de metodologias ativas e inovadoras de ensino aprendizagem, capacitam para uma atuação crítica e reflexiva no SUS, visando à integralidade e resolutividade do cuidado em saúde. A falta de recursos provenientes dos Ministérios para alavancar os programas por meio de incentivos financeiros aos colaboradores de todas as instâncias têm se mostrado limitantes na execução da residência multiprofissional. Reconhecemos a limitação do estudo, pela pequena quantidade de fontes documentais encontradas; porém, a RMS foi regulamentada há pouco tempo, requerendo um período maior para uma implementação adaptada à necessidade atual, principalmente na realidade da região norte do Brasil. O desafio de ensinar num sistema de atenção à saúde em construção na perspectiva amazônida, com suas distorções e imperfeições, tem sido enfrentado com sucesso, na dor e na delícia de aprender o exercício real no, com e para o SUS. Ademais, as RMS são Programas em crescimento no país e estão se consolidando devido ao seu formato de aprendizagem, agregando ensino e serviço, formando profissionais qualificados com foco no trabalho multiprofissional. É mister a responsabilidade dos centros formadores com a instrução dos profissionais da área da saúde, sendo que esse processo deve refletir a realidade social, política e cultural, fundamentados pelos princípios e diretrizes do SUS, para o trabalho no SUS.


Palavras-chave


educação superior, residência, integralidade