Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Atuação dos enfermeiros da estratégia saúde da família na atenção oncológica
Geize Rocha Macedo de Souza, Luiza Helena Oliveira Cazola, Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira

Última alteração: 2017-12-15

Resumo


Introdução

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, no ano de 2030, serão 27 milhões de casos incidentes de câncer, com 17 milhões de mortes e 75 milhões de pessoas vivas anualmente com câncer.  Para o Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima, para o biênio 2016 - 2017, aproximadamente 600 mil casos novos de câncer.

Mediante o cenário oncológico, já em 2005, o Ministério da Saúde (MS) instituiu a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO), determinando que o usuário portador de câncer deva receber cuidados que contemplem os diversos níveis de atenção, ou seja, a atenção primária e a especializada, de média e alta complexidade, com ações voltadas para o indivíduo e o coletivo, com foco na promoção da saúde e prevenção do câncer, bem como o diagnóstico oportuno e o apoio à terapêutica de tumores e cuidados paliativos.

O trabalho realizado pelo enfermeiro que atua na ESF envolve monitoramento das condições de saúde da população, como essência da atenção de enfermagem, seja individual ou coletivo, no monitoramento de problemas de saúde e intervindo nos agravos de ordem patológica.

O enfermeiro integrante da equipe das unidades de ESF tem posição de relevância, por exercer papel proativo em suas atividades e destacar-se como o profissional mais preparado e disponível para apoiar e orientar o paciente e a família na vivência do processo de doença, tratamento e reabilitação.

Os profissionais de saúde, especialmente os da enfermagem, devem incluir, em suas atividades diárias, a atenção domiciliar aos pacientes com câncer e seus familiares, atuando no sentido de apoiar a família, estabelecer vínculo, identificar os pensamentos angustiantes do doente de ter suas vontades atendidas, reconciliar-se consigo e com os outros, bem como apoiar a família no processo de morte, de forma solícita e humana.

Vale destacar que a atuação do enfermeiro na atenção hospitalar em oncologia é amplamente discutida, porém a literatura pouco tem destacado ações de promoção e prevenção, cuidados continuados extra-hospitalares e/ou paliativos presentes na atenção básica.

O presente estudo objetivou conhecer a atuação dos enfermeiros da ESF na atenção oncológica, visto que a assistência prestada a esse paciente e seus familiares é desafiante, devido às suas peculiaridades de adoecimento e dos diversos tipos de câncer que o profissional identifica em seu local de trabalho.

Métodos

Estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, desenvolvido nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) do município de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul (MS).

A população foi composta por 99 enfermeiros que atuavam nas 39 UBSF, sendo três delas unidades rurais. Foram excluídas aquelas equipes que não contavam com enfermeiros.

Dessa forma, foram excluídas nove equipes que, no momento da coleta de dados, estavam sem os profissionais, nove enfermeiros que se encontravam de férias ou de licença médica e quatro que não aceitaram participar. Ao final, compuseram a amostra 77 enfermeiros de 37 unidades, que foram convidados a participar da pesquisa e que, após o aceite, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta de dados primários ocorreu no período de outubro a dezembro de 2015, nas próprias unidades de saúde e de acordo com a disponibilidade dos enfermeiros.

Para a coleta de dados, foi utilizado um formulário constituído de 25 questões fechadas, que abordaram as seguintes variáveis: quanto à caracterização sociodemográfica e profissional do enfermeiro: sexo, faixa etária, vínculo empregatício, tempo de serviço na ESF e na área adscrita, tipo de vínculo empregatício, especializações e capacitações realizadas referentes à atenção oncológica; quanto à atuação na atenção dessa área: pacientes com câncer em sua área e atividades com os pacientes e seus familiares, entendimento sobre a PNAO, facilidades e dificuldades em assistir pacientes e capacitações mencionadas como necessárias pelos profissionais. O formulário foi validado após um pré-teste aplicado a 10 profissionais de saúde, sendo uma enfermeira com especialização em oncologia, uma com experiência em atendimento ao paciente oncológico e oito que já atuaram na Estratégia Saúde da Família.

As entrevistas ocorreram em horário previamente agendado pelos enfermeiros, individualmente, realizadas pelas próprias pesquisadoras e com duração média de 45 minutos.

Foi realizada análise descritiva dos dados que foram organizados em planilha eletrônica Microsoft Office Excel®, sendo as questões agrupadas conforme respostas afins e apresentados em formato de tabelas.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob o Parecer n. 1.249.953.

 

Resultados

O estudo encontrou, na análise das características sociodemográficas e profissionais dos enfermeiros da ESF, uma predominância do sexo feminino (91%), na faixa etária de 31 a 40 anos (54%), com vínculo empregatício estatutário (77%), tempo de atuação na ESF e na área adscrita de 24 a 72 meses, correspondendo a 40% e 46% respectivamente.

Para o quesito especialização, 77% afirmaram possuir e, dentre estes, 58% com especializações relacionadas à área de saúde pública ou saúde da família. Em relação à capacitação em saúde oncológica, mais da metade afirmou não ter realizado, 65%.

A maioria dos enfermeiros possuía pacientes oncológicos na sua área adscrita e realizava acompanhamento destes, predominantemente, por meio da visita domiciliar, seguido da realização da consulta de enfermagem.

A maior parte dos entrevistados relatou ter conhecimento sobre cuidados paliativos, porém, mais da metade, afirmou não realizá-los por considerarem desnecessários. Em relação à quimioterapia e radioterapia, houve uma prevalência na não realização de orientações direcionadas à temática e, quando estas ocorriam, estava majoritariamente direcionada à orientação com alimentação.

Verificou-se que a maioria dos enfermeiros desconhecia a PNAO e que poucos possuíam um bom entendimento sobre atenção oncológica. Referente às dificuldades em assistir o paciente oncológico, menos da metade relatou possuí-las, sendo a falta de capacitação em oncologia o motivo preponderante. Já para as facilidades, dentre os que referiram possuir, as orientações sem abalo emocional foram as mais relatadas.

No que tange a cursos e capacitações, quase a totalidade dos enfermeiros afirmou ter interesse em adquirir novos conhecimentos, principalmente, sobre a PNAO e os cuidados paliativos.

 

Considerações Finais

A atenção prestada pelo enfermeiro é realizada de forma variável, tanto na assistência direta ao paciente como aos seus familiares, o que evidencia, principalmente, que os profissionais inseridos nas equipes de ESF estão despreparados para assistirem os pacientes portadores de câncer em suas áreas adscritas.

Diante de tal despreparo, a assistência oferecida pela atenção primária à saúde do município se fragiliza, ocasionando um impacto negativo na prestação de cuidados e na qualidade de vida desses pacientes e seus familiares.

O desconhecimento dos enfermeiros sobre a PNAO constitui um desafio para os gestores, visto que ela norteia a assistência ao usuário com câncer, sendo necessária sua ampla divulgação dentro das equipes de ESF. O investimento nesse profissional é imprescindível, devido à necessidade explícita de educação permanente, para qualificá-lo e garantir ao paciente oncológico e seus familiares uma assistência eficiente e modificadora.

 


Palavras-chave


Atenção Primária à Saúde; Estratégia Saúde da Família; Enfermagem Oncológica; Cuidados de Enfermagem