Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Título: Caminhada que se faz com o outro ao mergulhar e caminhar no território Subtítulo: Relato de uma Articuladora Social do Projeto Redes Mulher 3º Ciclo - Fiocruz - SENAD
Patrícia Ludmila Barbosa de Melo

Última alteração: 2017-12-20

Resumo


Resumo expandido

O presente relato reflete as andanças e trilhas percorridas, em 6 meses (junho a novembro de 2017), na função de Articuladora Social do 3º. Ciclo do Projeto REDES de Boa Vista - Roraima. Este arquivo aborda o “mergulho” no território logo após diagnóstico e mapeamento realizado nas macroáreas 3.0, 6.0 e 8.0 do SUS (13 bairros com alto índice de vulnerabilidade social), SUAS da capital e é uma produção processual reflexiva, analítica e avaliativa de como se deu o acompanhamento dos casos de mulheres em situação de vulnerabilidade, vítimas de violência e com relação problemática com uso de drogas, tanto na articulação com a rede, como na inserção nos serviços da rede de cuidados e proteção, com foco no fortalecimento, formação e ativação de fluxos de rede entre eles. O Projeto “Promoção de ações de articulação intersetorial para prevenção a violências, cuidado e inserção social de pessoas em sofrimento decorrente do abuso de substâncias psicoativas” (Projeto REDES), desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ em parceria com a Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas - SENAD, é uma estratégia para fortalecimento da política de drogas localmente, por meio da articulação entre os setores. Apoia municípios no fortalecimento da governança local de política sobre drogas e articulação em redes de prevenção, cuidado e reinserção social por meio da criação e/ou fortalecimento regular de instâncias de gestão intersetorial da política, envolvendo gestores, trabalhadores e usuários. Para alcançar e fortalecer os objetivos propostos pelo projeto foram contratadas, através de edital público, articuladoras para composição de um núcleo. Em Boa Vista, o núcleo contou com cinco articuladoras sociais, um interlocutor regional, uma coordenadora de território, uma supervisora local e duas articuladoras nacionais. Sendo uma das articuladoras selecionadas, minha atuação foi balizada no mapeamento do território / diagnóstico situacional realizado por ocasião da elaboração do I Produto do Projeto, ocorrido em julho e agosto de 2017, onde foi detectado desconhecimento, por parte de usuários, trabalhadores do SUS, SUAS, da justiça e outras áreas acerca da rede intersetorial para pessoas que possuem relação problemática com drogas, comprometendo o fluxo de atenção integral. Além disso, foi verificada fragilidade na abordagem e no debate sobre drogas, demandando criação de atividades para qualificar profissionais da Rede acerca de temas, como drogas, violência, desigualdade de gênero e rede de atenção intersetorial. Para isso o planejamento das ações da função de articuladora social foi organizado em duas linhas de trabalho: Atividades de Formação + Fortalecimento da Rede de Atenção intersetorial existente (com ênfase nos dispositivos das macroáreas de minha responsabilidade), através de estratégias de Educação Permanente e Atividades de Acompanhamento Terapêutico (às mulheres em conflito com a lei e as oriundas principalmente do Juizado Especializado de Proteção à Mulher - com medidas protetivas), focando prioritariamente na integração, ativação e articulação da rede de cuidado e de proteção intersetorial às mulheres em situação de vulnerabilidade, vítimas de violência e que têm relação problemática com substâncias psicoativas - MVVVSPA ao passo que as ações de acompanhante terapêutica – AT de algumas mulheres com o perfil do projeto foram sendo desenvolvidas em ato no território de Boa Vista. Para ativação, qualificação e potencialização da rede foram utilizadas como estratégias oficinas, rodas de conversas, estudos de caso, reuniões, fóruns intersetoriais, itinerantes e instalações artísticas. Várias articulações foram feitas com pontos da rede de saúde, de assistência social, da justiça, segurança, educação, com organizações não governamentais, porém algumas merecem destaque, dentre elas, listo as executadas com a Defensoria Pública do Estado de Roraima, Juizado Especializado de Proteção à Mulher, Unidades Básicas de Saúde, CRAS, CREAS e Projeto Crescer.  Ressalto que as redes “criadas”, tecidas, ativadas e fortalecidas a partir das diversas articulações disparadas e realizadas no território seguem com muita potência e há perspectivas que elas se fortaleçam, pois no 5º e último fórum intersetorial, uma das estratégias adotadas pela equipe do Redes em Boa Vista, ocorrido no mês de outubro, ficou acordado que o departamento estadual de saúde mental de Roraima assumirá a condução dos fóruns em 2018, após o término projeto na capital, já que o Fórum Intersetorial (conduzido em 2017 pela equipe do 3º ciclo, com apoio e cooperação técnica da equipe de supervisão nacional e interlocutor Regional) foi uma demanda do território e teve boa adesão, potentes discussões e construções, finalizando com a construção do mapa do território real e ideal, bem como o fluxo de rede para casos semelhantes aos acompanhados pelas articuladoras sociais durante a execução do projeto. A partir dessa produção coletiva será montada uma publicação, tipo fanzine, com todos os equipamentos da rede intersetorial existentes em Boa Vista, com atribuições, respectivos endereços e telefones, melhorando a resolutividade da atenção prestada. Logo, entendo que o 3º ciclo do Redes em Boa Vista conseguiu cumprir com os objetivos previstos no projeto e constantes no termo de referência, mesmo diante do pouco tempo para execução das diversas atribuições, associada a complexidade e diversidade das articulações. O que nos leva a crer que vivenciamos em Boa Vista momento propício à ativação e fortalecimento de redes de atenção integral, com foco no usuário e usuária do sistema. O Redes veio para contribuir com a manutenção da chama da resistência e união acesa, potencializando as redes já existentes, as formais e as viscerais, de base comunitária. É importante destacar que o Redes foi bem recebido, os atores do território se mostraram interessados em ‘ser parte e tomar parte’ do processo, relataram situações de vulnerabilidade que vivenciam no território, reconhecem a urgência de ações articuladas / intersetoriais e enxergam as articuladoras sociais como possibilidade de fortalecimento e dispositivos disparadores da lógica da cogestão da política, com princípios da cooperação e corresponsabilidade para garantir a expansão do acesso e acolhimento com qualidade para aqueles que necessitam de cuidado. Porém, percebo que haveria necessidade de mais tempo para continuar os acompanhamentos terapêuticos de MVVVSPA já iniciados e também para prestar melhor cooperação técnica do ponto de vista de ativação efetiva e afetiva das redes já existentes, pois apesar da potência de dispositivos da rede informal, muitos destes não são acessados e nem reconhecidos como ponto de cuidado, ou seja, o foco ainda é concentrado na rede formal, ênfase em equipamentos do SUS e SUAS. Finalizo este relato reafirmando a importância do trabalho vivo disparado pelo Projeto Redes – 3º Ciclo no território de Boa Vista no ano de 2017 e esperamos que os deslocamentos causados sejam levados em conta para a prorrogação do projeto.


Palavras-chave


Redes Intersetoriais. Gênero. Violência. Drogas. Vulnerabilidade. Desigualdade social