Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E DE CONSUMO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE GERONTOLÓGICOS NA CIDADE DE MANAUS, AM
Cleisiane Xavier Diniz, Júlio César Suzuki, Maria de Nazaré Souza RIBEIRO

Última alteração: 2017-12-18

Resumo


Sabe-se que no processo de envelhecimento e no aumento da longevidade, há uma maior procura dos serviços de saúde, tendo em vista que o número das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)  aumentam nesta faixa, representando um dos principais desafios para a saúde pública da década presente. A população idosa representa uma das maiores demandas para os serviços de saúde, fazendo-se necessário conhecer o seu perfil epidemiológico, especialmente as doenças crônicas mais prevalentes, para que se possa planejar e elaborar políticas de saúde mais específica. O objetivo desta pesquisa foi identificar o perfil epidemiológico e de consumo de serviços de saúde dos idosos usuários dos Centros de Atenção Integral à Melhor Idade (CAIMI). Trata-se de uma pesquisa com abordagem quantitativa, de natureza transversal e descritiva. Focalizando sua distribuição espacial nas zonas administrativas da cidade de Manaus, trabalhou-se com universo populacional de 17.100 idosos (> 60 anos de idade) cadastrados nos CAIMIs da cidade de Manaus, resultando num tamanho amostral de 1.080 idosos (360 idosos em cada um dos três CAIMIs) entrevistados, com margem relativa de erro de 5% e coeficiente de confiança de 95%. A amostra foi do tipo probabilística aleatória, por demanda espontânea, sendo os idosos abordados a partir de sua chegada ao CAIMI. Isso possibilitou que cada elemento dessa população tivesse uma probabilidade de fazer parte do estudo, assegurando a validade interna do estudo e possibilitando extrapolar os resultados (validade externa) para outras comunidades. Os resultados encontrados mostram que a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes tipo  2 (DM2) continuam sendo as doenças mais prevalentes e o principal motivo de procura dos idosos aos serviços de saúde especializados, correspondendo 50,8% e 18,2%  das causas de atendimentos, respectivamente. Os Distúrbios da Acuidade Visual apareceram com 9% e as doenças associadas ao sistema musculoesquelético somaram-se 6,8%, correspondendo aos dados da artrite e artrose. A HAS é considerada um forte fator de risco cardiovascular, cursando com alta prevalência em pessoas idosas e, quase sempre, vem associada à doença arterial coronariana, doença cerebrovascular, vasculopatias periféricas, dentre outras. Acomete cerca de 60% das pessoas idosas, com influência direta nas elevadas taxas de morbimortalidade.  Pode-se considerar que existe uma alta prevalência e um forte fator de risco para doenças cardiovasculares e renais nesses idosos entrevistados. Com relação ao Diabetes Tipo 2, a prevalência encontrada entre o grupo em estudo foi de 18,2%, um resultado que, aparentemente não representa maiores preocupações, no entanto, esta prevalência é bastante significativa se considerarmos que o grupo em estudo é idoso e que se trata de uma morbidade limitante, que aumenta os riscos de nefropatias e agravos circulatórios, podendo ocasionar cegueira, amputações e complicações encefálicas. Essas complicações aumentam também os custos sociais e financeiros, impactando o sistema de saúde, a família e a própria pessoa. Estima-se que 387 milhões de pessoas no mundo convivem com a (DM2) e que em 2035 este número alcance 471 milhões, em virtude do crescimento e do envelhecimento populacional, da maior urbanização, da progressiva prevalência de obesidade e sedentarismo muito presente nas condições de vida das populações urbanas. Aproximadamente 80% desses indivíduos vivem em países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade. No Brasil, em 2014, estimou-se que existiriam 11,9 milhões de pessoas, na faixa etária de 20 a 79 anos, com diabetes, podendo chegar a uma estimativa de 19,2 milhões para 2035. Ao analisar a correlação entre as morbidades e a mediana da idade, observou-se significância estatística na Artrose (p<0,029), acidente vascular encefálico (p<0,049) e Alzheimer (p<0,001), indicando que, quanto maior a faixa etária, maior a possibilidade de aparecimento de tais doenças. Da mesma forma, a procura por especialistas vai ocorrer com o aparecimento das morbidades que estarão mais presentes com o passar da idade. Diante da problemática das doenças crônicas mais prevalentes nos idosos, o médico clínico geral se torna o mais procurado (31,1%) diante de sua capacidade de resolução de problemas de saúde em vários contextos. Porém, o que não se esperava era a frequência muito baixa de consultas ao cardiologista (0,7%), uma vez que a HAS foi a morbidade mais prevalente. Possivelmente isso ocorreu pela limitação do número de consultas disponibilizadas aos cardiologistas dos CAIMIs, ficando sob a responsabilidade do Clínico Geral a conduta prescritiva do tratamento da HAS. Embora os Distúrbios da acuidade visual tenham aparecido com 9% das principais causas de atendimento ao CAIMI, a oftalmologia foi a segunda especialidade mais procurada para atendimento com 31%, possivelmente por encaminhamento do Clínico Geral para controle de catarata, glaucoma e  cegueira de pessoas com DM2, situações que representam complicações graves do DM2.  Como o envelhecimento é um processo natural da redução progressiva das respostas adaptativas do corpo ao ambiente, é natural que, com o avançar da idade, as doenças crônicas se tornem mais prevalentes nessa população.  Além disso, essas doenças exigem tratamentos contínuos e que podem vir acompanhadas de disfunções e/ou algum nível de dependência. Isso leva a acreditar que, a deficiência de cuidados especializados para as morbidades agudas acarreta  efeitos crescentes sobre os gastos com cuidados de longa duração na cronificação dessas doenças. Outro ponto considerado neste estudo foi o acesso dos idosos aos serviços disponibilizados pelos CAIMIs. O acesso tem sido considerado um elemento importante no padrão de consumo de serviços de saúde em todos os níveis de atenção, independente de faixa etária. Neste estudo, aproximadamente 50% dos idosos da pesquisa utilizaram os serviços dos CAIMIs alguma vez no mês. A frequência periódica condicionou-se à viabilidade de encontrar acesso, à qualidade dos serviços oferecidos, à resolutividade do motivo da procura e à possibilidade do deslocamento até o serviço. Assim, infere-se que, ter acesso aos serviços, não depende de uma livre escolha do usuário. Conclui-se que os idosos da pesquisa são acometidos com doenças prevalentes nessa faixa etária (HAS e DM2), não divergente de dados nacionais. É importante destacar que o perfil de consumo de serviços de saúde está condicionados às condições econômicas individuais e familiares, e à oferta de serviços na comunidade onde reside o indivíduo. Em todo caso, observou-se que os idosos produziram diferentes estratégias de acordo com suas capacidades, histórias de vida pessoal e coletiva, que são adotadas pelas disponibilidades circunstanciais e socioculturais, na busca de solução para seus problemas de saúde.


Palavras-chave


envelhecimento; saúde do idoso; morbidade em idosos