Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A ACESSIBILIDADE NO AMBIENTE INTERNO DOS SERVIÇOS GERONTOLÓGICOS NA CIDADE DE MANAUS (AM)
Cleisiane Xavier Diniz, Júlio César Suzuki, Maria de Nazaré de Souza Ribeiro

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Na cidade de Manaus existem três Centros de Atenção Integral à Melhor Idade (CAIMIs), especializados na área da gerontologia, da rede de atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim como os diversos equipamentos disponibilizados ao uso público, os espaços de circulação de uma unidade de saúde carecem de uma adequada infraestrutura que atenda à demanda de uma população específica, como a dos idosos, uma vez que se percebe muito presente uma limitação do espaço físico de circulação para este público. Para que uma edificação ou espaço seja considerado acessível é obrigatório que ele tenha sido pensado, projetado e executado de acordo com as exigências legais e com as Normas Brasileiras (NBRs) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Locais em que as exigências legais referentes à acessibilidade foram observadas de modo parcial não podem ser considerados como acessíveis, pois um espaço é ou não acessível. O objetivo deste estudo foi avaliar o ambiente interno dos CAIMIs e sua acessibilidade a partir do olhar do usuário desse serviço. Trata-se de um estudo transversal, quanti-qualitativo, com amostra do tipo probabilística aleatória, por demanda espontânea, composta por 1.080 indivíduos >60 anos de ambos os sexos, usuários dos CAIMIs da cidade de Manaus. O estudo seguiu todo o rigor ético necessário. Os resultados mostraram que, em relação às dificuldades dentro do ambiente interno relacionado à estrutura física, os idosos usuários do CAIMI Paulo Lima consideraram os consultórios dos CAIMIs de fácil acesso (82,2%), no entanto, os usuários do CAIMI André Araújo não percebem essa mesma facilidade, onde somente 39,6% disseram haver facilidade de acesso. Quando se perguntou sobre as principais dificuldades de acesso e mobilidade dentro do CAIMI, houve múltiplas respostas pelos idosos das quais destacaram-se: a falta de barras de apoio nos banheiros e de piso antiderrapante; assento sanitário inadequado; falta de iluminação; portas com defeitos e inapropriadas que proporcionam insegurança; banheiros com defeito na descarga, sem água e sem material de higiene; ausência de corrimão duplo em diversos pontos no CAIMI e de sinalizações dos setores de forma legíveis; ausência de rampas de acesso; excesso de degraus (particularmente no CAIMI André Araújo). Vale lembrar que a estrutura física dos CAIMIs Dr. Paulo de Lima e Ada Rodrigues Viana foram planejadas para atender especificamente os idosos, enquanto que o CAIMI André Araújo foi adaptado para esse atendimento. O estudo também mostrou que os usuários dos CAIMIs já se sentiram perdidos ou desorientados  e a maioria afirmou ter pedido ajuda de um funcionário ou desconhecido para orientá-los, ou seguiam as placas de informação. Observou-se que menos da metade desses idosos que frequentam os CAIMIs não conheciam as saídas de emergência do local. Além disso, os idosos manifestaram desejo de usar mais os espaços destinados ao convivio e às atividades sociais, embora façam pouco uso deles. Relataram que não frequentam tais atividades devido a distância, gastam horas até chegar ao CAIMI e seus deslocamentos se dá por transporte coletivo. Devido a esse empecilho, na maioria das vezes,  vão ao CAIMI  somente à procura de consultas médicas e que referem dificuldades para marcação de suas consultas. Normalmente as alterações repentinas de saúde e de rotinas diárias, especialmente nos casos de idosos que possuem dificuldade de locomoção, implicam na perda de contatos sociais, despertando a necessidade do convívio com grupos de pares para não permitir que a solidão se instale.  Infere-se que as iniciativas de inserção de pessoas idosas nos espaços da sociedade contribuem para a prevenção de muitas outras doenças e para a melhoria da qualidade de vida. No estudo, os idosos destacaram o que não os agrada no CAIMI: atendimento médico, marcação de consultas pelo SISREG (Sistema Nacional de Regulação), atendimento na recepção, falta de médicos especialistas, falta de lanchonete e a localização geográfica. Questionados porque não gostam, responderam que é devido a demora no atendimento, poucas vagas no sistema, dificuldade no trato com os funcionários e por  não terem acesso às especialidades médicas que necessitam, tais como cardiologia e endocrinologia. Os idosos demonstraram insastisfação com os serviços dos CAIMIs, principalmente ao que se refere ao acesso a exames, incluindo a demora na marcação, na realização e entrega dos resultados; referem ainda muita dificuldade para atendimento em consultas especializadas, poucos profissionais para atender a demanda, falta preparo por parte dos funcionários da recepção para atender com educação os usuários. Nesse caso, a principal razão para a pouca utilização do serviço público local foi a indisponibilidade de consulta e a falta de um acolhimento qualificado capaz de identificar a necessidade de saúde do idoso. Esses dados apontam para certa falta de cobertura. O termo “cobertura” designa a medida de quanto um serviço realmente cobre as necessidades potenciais da população.  Por esse motivo, muitos usuários que dispõem de condições para consulta particular, dão preferência a esta modalidade de serviço em busca de resolutividade. É importante se considerar o princípio da resolutividade, que é a capacidade do sistema em dar soluções às diversas situações que dizem respeito ao processo  saúde/doença dos usuários e/ou atendê-los adequadamente  nos níveis de atenção primária, secundária e terciária, englobando os  aspectos relativos à percepção dos usuários, à estruturação dos serviços e à  organização do sistema de saúde. Destaca-se que houve inúmeras mudanças na estrutura do sistema de saúde desde a implantação do SUS, com objetivo de melhorar o acesso da população aos serviços, no entanto, observa-se que as expectativas dos idosos parecem centrar-se no atendimento individual, prestado pelo profissional médico e com enfoque curativo, embora existam outras categorias profissionais disponível no serviço para auxilia-lo em diferentes âmbitos do cuidado, além da sua própria participação social nas atividades desenvolvidas pelo CAIMI. Isso só reforça a ideia da procura do serviço apenas por motivo de doença e não para a promoção e proteção da saúde. Todos os problemas apontados pelos idosos demonstram as desigualdades de oferta e de acesso aos serviços de saúde, que se diferenciam tanto entre regiões brasileiras quanto entre populações da mesma região. A universalidade do acesso aos serviços de saúde ainda parece uma realidade longínqua. Apesar dos avanços do Sistema Único de Saúde, principalmente com a implantação da Estratégia Saúde da Família, o acesso à saúde gerontológica necessita ser ampliado para grupos populacionais que têm como porta de entrada a rede de atenção primária.


Palavras-chave


Acessibilidade; Idoso; Envelhecimento