Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Tamanho da fonte:
RASTREIO DO USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS EM ADOLESCENTES
Última alteração: 2017-12-28
Resumo
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o uso abusivo de drogas como uma doença crônica difícil de ser tratada, que provoca graves e sérios problemas de saúde, independente de idade ou sexo. O uso abusivo de drogas é considerado um problema social e de saúde pública em muitos países, inclusive o Brasil. Compreende-se como drogas as substâncias que promovem no individuo ações ou pensamentos de satisfação excessiva, dependência química, hábitos exacerbados que envolvem o psicológico e as relações interpessoais. Com relação à dependência, ela é caracterizada como o processo de interação conjugada entre os efeitos fisiológicos das substâncias atuando no cérebro e o usuário, esta interação pode ser compreendida pelo usuário como os elementos satisfatórios e/ou objetivos alcançados naquela situação. De acordo com pesquisas é no período da adolescência que ocorre a associação e início do uso de substâncias consideradas psicoativas. Acredita-se que a curiosidade natural do adolescente fá-lo buscar sensações e prazeres desconhecidos, muitas vezes influenciada pela opinião do grupo de pertença. Outras co-fatores para o envolvimento destes indivíduos durante a fase da adolescência com o mundo das drogas estão relacionados à situações familiares, sociais, financeiros, psicológicos entre outras. O maior problema ocasionado pelo uso de drogas é a dependência de tais substâncias, pois estas formulam o ambiente e as relações interpessoais dos indivíduos. O uso abusivo de drogas promove também mudanças na saúde, o que pode acarretar diferentes situações de difícil manejo aos profissionais de saúde que realizam o atendimento de tais indivíduos quando estes passam a ter problemas, seja de grau menor ou maior. O uso continuado é prejudicial à saúde causando alterações nos sistemas do organismo, déficits cerebrais, incluindo de aprendizado verbal, de memorização, de atenção, de funções executivas, de controle de raciocínio e de resposta. Portanto, são múltiplos os problemas ocasionados pelo uso de drogas, interferindo de forma negativa na vida do indivíduo. Esta pesquisa teve como objetivo detectar o uso de substâncias psicoativas em adolescentes na faixa de 11 a 14 anos, participantes de grupos de Adolescentes da Pastoral de Adolescente, do bairro de Petrópolis, Manaus, Amazonas. Trata-se de um estudo transversal, descritivo, de base populacional, desenvolvido por meio de inquérito epidemiológico. Esta amostra foi composta por 100 adolescentes, de 11 a 14 anos, sendo 50 meninos e 50 meninas. Foi utilizado o questionário DUSIR (Drug Use Screening Inventory), validado para uso no Brasil, que aborda a frequência de consumo de treze classes de substâncias psicoativas. O projeto seguiu os trâmites éticos e assinatura do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido pelos adolescentes e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos seus pais. Os resultados da investigação neste grupo mostra que os analgésicos não prescritos (23%) e o álcool (17%) foram as drogas mais utilizadas pelos adolescentes. No entanto, houve ocorrência de uso de inalantes (5%), tranquilizantes (3%) anabolizantes (2%) e tabaco (2%). As substancias mais utilizadas por meninos e meninas foram o analgésico não prescrito e o álcool, sendo este a substância mais utilizada pelas meninas que meninos. Esses fatos preocupam, uma vez que, quanto mais cedo se inicia o consumo de álcool e/ou outras drogas, maiores são as chances de se tornar dependente, consequentemente, maior é a probabilidade de ocorrerem atrasos no desenvolvimento e prejuízos cognitivos, com suas inúmeras repercussões. Nos países em desenvolvimento, atribui-se ao álcool o risco maior para o uso de outras substâncias psicoativas. Neste grupo investigado não houve ocorrência de uso de outras drogas tais como: cocaína, maconha, crack, ecstasy etc. No decorrer da coleta de dados e na identificação dos casos de uso de drogas, os adolescentes foram encaminhados para os psicólogos do projeto para uma abordagem terapêutica adequada a fim de prevenir dependência e demais distúrbios advindos do uso continuado de tais substâncias. A facilidade de aquisição e a disponibilidade de drogas na comunidade de convivência têm sido vistas como fatores de riscos para uso por adolescentes, uma vez que o excesso de oferta naturaliza o acesso. Quando essa facilidade de oferta se soma à falta de organização social e aos outros elementos predisponentes no ambiente familiar e institucional, produz-se uma sintonia de fatores que aumenta a problemática do uso de drogas por adolescentes. Sabe-se também que os adolescentes que têm objetivos definidos e investem no futuro apresentam probabilidade menor de consumir substâncias psicoativas porque o uso interfere em seus planos. Igualmente, a elevada autoestima, os sentimentos de valor, orgulho próprio, respeito e satisfação com a vida podem servir de proteção contra a dependência de drogas quando combinada a outros fatores protetores do seu contexto de vida. Conclui-se que, cada vez mais o numero de crianças e adolescentes usuários de drogas tem aumentado se tornando um grande desafio para a saúde pública. Ao fazerem uso de tais substâncias neste momento determinante para sua formação como pessoa, os adolescentes comprometem sua estabilidade física, psicológica e social empobrecendo suas relações interpessoais, principalmente no âmbito familiar. Embora os adolescentes sejam vistos como grupo de risco para uso de substancias psicoativas, os fatores que os levam a utilizar drogas são considerados diversos e multifacetados, estando os principais relacionados às características individuais e sociais. A amplitude e a magnitude do fenômeno do uso de substâncias psicoativas na adolescência exige empenho de vários segmentos da sociedade civil organizada, das instituições governamentais e não governamentais, das universidades por meio de seus pesquisadores, em busca de respostas e soluções eficazes para o complexo e assustador problema do uso de substâncias psicoativas e seus impactos nos usuários e na sociedade. Assim, reforça-se a certeza de que a redução desse quadro só poderá ser obtida por meio da prevenção ou da identificação precoce do uso dessas substâncias. Apesar dos constantes combates ao tráfico não se percebe a redução do comércio e consumo de drogas, pelo contrário, percebe-se o crescimento das atividades do tráfico e o envolvimento cada vez mais precoce de pessoas, seja consumindo ou comercializando. Reafirma-se ainda a importância da realização de estudos científicos que possam subsidiar o desenvolvimento de políticas de educação e promoção da saúde, programas e intervenções dirigidos a adolescentes. No Norte do Brasil, especialmente no estado do Amazonas, essa necessidade é ainda maior dada a escassez de estudos publicados sobre o problema
Palavras-chave
adolescentes; dependência química; substâncias psicoativas