Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Formação de Facilitadores em Saúde Mental: Transformações embasadas nas vivências do território vivo fortalecendo a inclusão familiar e social no município de Tefé e Fonte Boa.
Elizete Souza de Azevedo, Maria Auxiliadora Lima de Souza, Ediely Souza Azevedo, Miqueia de Oliveira da Silva

Última alteração: 2017-12-14

Resumo


Introdução

O presente trabalho trata-se da experiência de utilização da educação em saúde desenvolver ações no Projeto “Caminhos do Cuidado na formação em saúde mental: crack, álcool e outras drogas” para Agentes Comunitários de Saúde e Auxiliares/Técnicos de Enfermagem da Atenção Básica dos municípios de Tefé e Fonte Boa. O objetivo da ação foi formar facilitadores para a atuação em saúde mental junto às comunidades e usuários.  A cidade de Tefé e Fonte Boa localiza-se no Estado do Amazonas banhada pelo Rio Solimões, sendo Tefé da Microrregião do Triângulo e Fonte Boa Microrregião do Alto Solimões. As cidades estão localizadas na rota do tráfico de drogas no Estado, tendo em vista que os entorpecentes que entram no Amazonas e é distribuída para outros Estados brasileiros e países é oriunda do Peru, Colômbia e Bolívia, países que fazem fronteira com o Brasil.

Desenvolvimento

Primeiramente foi realizada uma qualificação através de oficina para Formação dos Tutores do Projeto Caminhos do Cuidado-Formação em Saúde Mental com objetivo de apresentar a metodologia, quando se buscou fortalecer e propor uma nova forma de produzir conhecimento embasado na realidade do território. Foram indicados para participarem da oficina de Formação dos Tutores os representantes das Regiões de Saúde do Estado do Amazonas (Alto Solimões, Baixo Amazonas, Entorno de Manaus, Juruá, Médio Amazonas, Purus, Rio Madeira, Rio Negro e Solimões e Triângulo). Depois da formação, os tutores selecionados realizaram um planejamento das ações para a realização da educação e formação dos facilitadores do Projeto Caminhos do Cuidado dos municípios de Tefé e Fonte Boa.

As oficinas possibilitou a formação dos Agentes Comunitários de Saúde – ACS e Auxiliares e Técnicos de Enfermagem - ATEnf da atenção básica do município de Tefé em 2014 e do município Fonte Boa em 2015. Os representantes foram tanto da zona urbana quanto da zona rural de ambos municípios. Durante os dois anos foram formados duzentos (200) profissionais de Tefé e quase Cem (100) de Fonte Boa. Os facilitadores receberam material didático para auxiliar as ações de saúde mental.

A atividade de acolhimento utilizada foi da Dinâmica da Teia, que teve como objetivo apresentar a importância do trabalho em rede. Os facilitares descreveram o seu sentimento sobre as redes: “serviço compartilhado, força de trabalho, união, integração, intersetorialidade, cuidado, elo, potencialidade, desafio, inclusão”. Vale ressaltar a relevância na construção de uma rede de cuidado em saúde mental, considerando as praticas e saberes de cada um no processo de trabalho no cotidiano do território. Os relatos dos facilitadores possibilitou identificar os tipos de álcool e drogas, as vulnerabilidades e o acesso aos produtos químicos do território. Desse modo, compreendemos a potencialidade da formação que beneficiou os usuários e os moradores das comunidades. Os facilitadores foram protagonistas e construtores de seu conhecimento, desenvolvendo capacidades crítica e reflexiva sobre o seu processo de trabalho.

Resultados

Vivencia dos facilitadores: os relatos dos facilitadores-protagonista trazem importantes reflexões sobre as transformações que aconteceram nos territórios, que agregou à sua própria história de vida e de trabalho. “...meu filho João aos 13 anos se envolveu com pessoas que usavam drogas, a partir daí começou a usar...dava inicio ao sofrimento intenso de toda família...” “...o principal motivo da minha separação foi o álcool, pois vi de perto o sofrimento da minha mãe... minha filha começou ingerir álcool aos 16 anos...chegando em casa porre, caindo pelas ruas, sumia por vários dias...uma amiga para evitar que minha filha fosse abusada sexualmente por vários homens trouxe-a para casa...” “...tenho uma irmã que aos 16 anos se envolveu com droga e bebidas...frequentou a universidade, mas por estar bastante envolvida com as drogas não suportou os estudos, viajou por vários estados onde teve contato com varias drogas, dentre elas o crack, maconha e cocaína...hoje ainda vivo essa realidade na  família que constitui...minhas filhas envolveram neste mundo...aos 13 anos iniciou com álcool...teve overdose por varias vezes...aos 20 anos foi para o Rio de Janeiro, São Paulo e dentre outros estados e, neste período era garota do sexo...engravidou...retornou para cidade natal...minha outra filha também teve envolvimento com a droga através de amigos, abandonou os estudos, foi para Manaus... dormiu debaixo da ponte, passou frio, fome e sede... após tantos sofrimento decidiu pedir ajuda à família... retornou para cidade natal...”.

Partilha das vivencias atuais: os facilitadores sensibilizados a partir dos novos conhecimentos adquiridos tomaram a atitude de aplicar o aprendizado no dia-a-dia, tanto na base familiar como na profissão. “...hoje João tem 23 anos e continua envolvido, antes do curso não existia diálogo...frase que usava sempre que estava tenso mãe você não gosta de mim e eu dizia você não assume o que faz, achava que não podia mais ajuda-lo, pois já era de maior e sabia qual escolha queria para sua vida... relacionamento com a irmã era conflituosa, por conta disso foi morar em Manaus por uma boa temporada...ao retornar a cidade natal voltou a ter contato com o mesmo ciclo social...no início do curso estranhei bastante, pois se tratava da realidade de minha família, não tive coragem de relatar nada no início, porém, os dias se passaram e cada vez mais me encantava com que aprendia, este curso abriu minha mente, comecei a conversar com meu filho, hoje ele já entra no meu quarto, deita na minha cama, faço o processo da escuta, dou mais atenção, incentivei a distribuir o currículo e, no momento já estar trabalhando, frequenta a igreja com a irmã... já vi grandes mudanças em minha família, sei que nós somos o grande suporte dessa jornada, nosso vínculo a cada dia se fortalece ainda mais...” “...quando iniciou o curso fiquei calada, discordava com os relatos de vitória que os colegas diziam, com o passar das aulas foi me dando força, esperança e acreditando que tudo é possível quando acreditamos em Deus...hoje tive coragem de compartilhar meu drama, ela tem 17 anos, há 2 semanas não bebe, seu pai estar bem motivado, conversa, escuta, e a sensação que tenho é que estamos conquistando-a novamente... agradeço o curso que me mostrou novos horizonte para conduzir mais esta etapa da minha vida”.

3-Conhecimento das políticas públicas voltada para o público alvo: o contato dos facilitadores com as transformações da política em saúde mental despertou-se no processo de reconhecimentos das potencialidades e das vulnerabilidades locais. As  atuais politicas públicas vieram com uma proposta significativa de quebra de paradigmas vivenciados ao longo do tempo visando promover estratégias inclusivas dos usuários e familiares.

Considerações Finais

Acredita-se na necessidade de intensificar as ações de promoção e prevenção de álcool e drogas fortalecendo a intersetorialidade existente nas redes públicas que compõem o território.

Percebe-se a necessidade de ampliar os processos formativos para profissionais e trabalhadores de todos os níveis que compõem as redes de saúde em particular da rede de atenção básica visando contribuir na qualidade do serviço ofertado na área de saúde mental.

Observar-se que a Educação Permanente em Saúde é uma estratégia de gestão em potencializar os profissionais das redes que assistem os cidadãos que faz uso do serviço de saúde.

Palavras-chave


saúde mental; drogas; agente comunitário de saúde.