Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Rede de Dormir: contribuições para prevenção de lesões por pressão
Ricardo Luiz Ramos, Paulo Sérgio Silva, Cleiry Simone Silva, Ana Sousa Falcão, Cleidson Junio Silva, Fabríco Barreto, Nebia Maria Figueiredo

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


Introdução: A opção em estudar a Rede de dormir (Rd), invariavelmente nos posiciona em domínios de saberes e práticas em saúde que nos desafiam, como: parar e pensar a produção do cuidado nos diversos níveis de assistência à saúde nos multivariados cenários do cuidado em que ela está presente. Contextualmente a Rd é considerada uma cama criada pelos indígenas brasileiros, registros arqueológicos, na América do Sul, datam desenhos da Rd em utensílios cerâmicos com idade aproximada de 5000 anos1. Em algumas culturas indígenas e não indígenas das regiões norte e nordeste do Brasil a Rd é usada como cama-leito para os doentes “acamados”. Pensando nas especificidades desses pacientes que carecem de cuidados as literaturas sublinham que o repouso prolongado na cama propicia a formação das lesões por pressão (LP), sendo as principais causas a compressão de interface em uma proeminência óssea entre o peso do corpo e superfície de apoio e a umidade da pele decorrente do suor por elevação da temperatura da pele devida a pouca aeração dos colchões hospitalares (Ch)2. Dessa forma, emerge o seguinte questionamento: e as pessoas “acamadas” na Rd são acometidas pelos mesmos fatores que a cama? Para responder esta questão-problema foi delimitado o seguinte objetivo: conhecer as diferenças térmicas e pressão de interface entre a superfície de apoio da Rd e do Ch nas proeminências ósseas das regiões trocantéricas. Metodologia: Estudo experimental com seres humanos onde cada participante foi seu próprio controle. Os experimentos foram realizados no Laboratório de Pesquisas em Enfermagem da Universidade Estadual de Roraima – UERR, no período de julho de 2015 a março de 2016. O estudo foi dividido em dois momentos: primeiro foi realizado estudo piloto com 10 participantes, para testar a climatização do laboratório, definir o tempo de repouso nos experimentos térmicos e testar os materiais selecionados e confeccionados para a coleta dos dados. Os materiais selecionados foram: Ch densidade 28, revestido em napa azul creditado com selo do Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), uma Rd em algodão cru, dois termos higrômetros Minipa, modelo MT-241, termômetro digital infravermelho com mira laser e balança antropométrica. Os materiais confeccionados foram: camisolas em algodão e um sistema pneumático com manômetro analógico para aferir as pressões de interface. O segundo momento foi caracterizado pelo experimento propriamente dito, sendo 40 participantes nos experimentos de aeração e 41 nos testes de pressão de interface. Os participantes elegíveis foram pessoas com mais de 18 anos de idade, não indígenas, ambos os sexos, declaradas saudáveis, possuir hábito de dormir na Rd e na cama. Somente nos experimentos de pressão de interface foram exigidos participantes com peso de 60 até 90 Kg. Altura mínima de 150 cm, conforme exigências do biotipo para colchões D-28, preconizado na norma NBR 135793. Os dados produzidos foram tabulados na planilha do EXCEL e analisados no software estatístico R. Resultados: Os efeitos percebidos decorrentes do experimento apontam que no estudo piloto os dez (10) participantes ficaram confortáveis com temperatura ambiente de 24º C. O tempo máximo de repouso, sem queixas de desconforto, foi de 30 minutos. Esse foi o período estipulado de repouso na Rd igualado na cama com Ch. Nos experimentos térmicos para avaliar a aeração da Rd e Ch. A temperatura da pele, na região trocantérica, mostrou que a Rd após os primeiros 20 minutos de experimento, estabilizou e a média de elevação ficou em 1ºC acima da temperatura corporal inicial. No Ch, ao término dos 30 minutos de experimento, a temperatura estava em elevação, em média 3ºC acima da temperatura corporal inicial. A análise estatística, para estes dois grupos de variáveis dependentes foi realizado a partir do teste Shapiro Wilk, que revelou distribuição não normal. Assim, o teste de hipótese, confirmatório, selecionado foi de Wilkoxon que demonstrou diferença significativa nos valores térmicos entre as superfícies de apoio para p < 0,05. Esses resultados demonstraram que a Rd em relação ao Ch apresenta vantagem na manutenção de um dos fatores do microclima da pele para prevenção das LP. Nos experimentos de pressão na interface, corpo e superfície de apoio, os valores foram registrados em milímetros de mercúrio (mmHg). Os resultados mostraram que a superfície de apoio da Rd produz menor pressão que o Ch, o valor médio da diferença de pressão foi de 40 mmHg. Ao realizar a representação gráfica de Box plot as evidências apontam não haver sobreposição de valores das pressões de interface entre a Rd e Ch. Cabe destacar novamente que foram realizados os testes de Shapiro Wilk demonstrando que estes dois grupos de variáveis dependentes não têm distribuição normal e o teste de hipótese de Wilkoxon confirmou a diferença significativa entre as pressões de interface da Rd e Ch para p < 0,05. Ainda que as diferenças das pressões de interface entre o Ch e a Rd sejam significativas, é preciso registrar que não foi possível estabelecer parâmetros que mostrassem o comportamento dos vasos sanguíneos nas regiões trocantéricas submetidas às pressões de interface, o que é considerado uma limitação desta investigação. Outro fator elementar é a forma que a Rd é armada e a maneira que a pessoa deita. Estudos recentes demonstram que a Rd adequadamente armada e a pessoa ao se posicionar corretamente nela o corpo fica completamente alinhado, igual ou melhor que a cama4. Considerações finais: Os critérios metodológicos permitiram afirmar que a Rd em relação ao Ch, proporciona vantagens significativas de aeração e redução da pressão na região trocantérica. Isso demonstra seu potencial para ser usada em benefício às pessoas acamadas, no senário de cuidado  domiciliar ou mesmo no hospital. Em especial no domicílio, por ser de fácil transporte e limpeza, baixo custo econômico, pode ser armada nos diversos espaços da casa ou quintal, melhorando a interação e proximidade do doente com os familiares. Ainda que, esses resultados sejam os primeiros passos de novas possibilidades de estudos sobre a Rd, é possível, até este momento, estarmos próximo da afirmativa que o estudo contribuiu positivamente para melhorar as práticas de cuidar em saúde, sobretudo as que são desenvolvidas pelos profissionais de Enfermagem. Acreditamos que muitas outras vantagens da Rd no espaço terapêutico, seja hospitalar ou domiciliar, pode ser (des)dobradas em novas investigações. Com a certeza do inacabado e inquieto por novos ensaios investigativos continuamos nossos rastreios na produção do cuidado em saúde com a seguinte acepção: talvez as limitações no uso da Rd não estejam no objeto em si, mas no arquétipo criado sobre ela.

Referências:

1- Köpf J, Baldinger AS. Die welt der hängematte. Eigenverlag; Füssen: Jobek; 2005.

2 - JAGT, Thyrza. Modeling the interaction between micro-climate factors and moisture-related skin-support friction during patient repositioning in bed. [Internet] 2015 [cited 08 Jan 2016]. Disponível em: http://ta.twi.tudelft.nl/nw/users/vuik/numanal/jagt_presentation2.pdf

3 - ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Tabela transcrita da Norma NBR 13579 - Colchão e colchonete de espuma flexível de poliuretano, de adequação entre biotipo e densidade (D) do colchão. [Internet]. [cited 05 jan 2013] Disponível em:  www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=87771

4 -  Ramos RL, Silva PS, Bastos L, Figueiredo NM. Vantagens do uso da Rede de dormir: Contribuições da Enfermagem para a vida.. Revista Cubana de Enfermería [revista en Internet]. 2017 [citado 2017 Dic 4];33(1):[aprox. 0 p.]. Disponible en: http://www.revenfermeria.sld.cu/index.php/enf/article/view/984

Palavras-chave


prevenção de lesão por pressão, cuidados de enfermagem, prevenção primária