Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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FUNCIONALIDADE EM PACIENTES COM TUBERCULOSE PULMONAR: Instrumento de avaliação em Terapia Ocupacional baseado na CIF
Thauana dos Santos Fernandes, Marcia Karolyne Garcia Quadros, Noelle Pedroza Silva, Thais dos Santos Barbosa, Ângela Maria Bittencourt Fernandes da Silva, José Roberto Lapa e Silva

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


Introdução

A tuberculose (TB) continua sendo um problema mundial de saúde pública. Em 2014, foi lançado o Plano Global pelo Fim da Tuberculose 2016-2020 e em paralelo, o Plano Regional pelo Fim da Tuberculose, desenvolvido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) que enfatiza as populações vulneráveis e os grupos de risco, e ainda contemplam os determinantes sociais da tuberculose, os desafios relacionados ao baixopercentual de cura e de testagem para o HIV, e os casos não diagnosticados da doença.

Apesar de esforços globais e nacionais para reduzir a prevalência da tuberculose e taxas de mortalidade, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que o Brasil ocupa a 20ª posição na classificação de carga da doença com 82.676 casos notificados e 5,4 mil mortes em decorrência da doença no ano de 2016. [i]

Segundo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde − Ministério da Saúde (2016), o município do Rio de Janeiro apresenta dados alarmantes, o coeficiente de incidência da doença é de 61.2 /100 mil hab. e o coeficiente de mortalidade por tuberculose é de 5,0/100 mil hab., sendo que os maiores contingentes desujeitos residem na Zona Oeste do município. Diante disto o estado está longe de atingir meta estipulada pela OMS de redução do coeficiente de incidência de tuberculose para menos de 10 casos por 100 mil hab.

Neste contexto, as estratégias de tratamento e acompanhamento devem, preferencialmente, ser desenvolvidas por equipe multiprofissional[ii] onde o terapeuta ocupacional se destaca como o profissional habilitado para intervir junto ao cliente crítico e a sua família, proporcionando acolhimento e esclarecimentos quanto ao prognóstico funcional, contribuindo para manutenção das capacidades remanescentes, estimulando a realização das Atividades de Vida Diária (AVDs), proporcionando independência, autonomia e qualidade de vida sempre que possível[iii] utilizando-se da  Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), a qual determina a condição de funcionalidade a partir das componentes funções do corpo, estruturas do corpo, atividades como um instrumento de avaliação.

Este estudo teve como objetivo avaliar os pacientes com tuberculose pulmonar durante o processo de intervenção ambulatorial utilizando-se da CIF como instrumento de avaliação para possíveis intervenções da terapia ocupacional.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo realizado em três unidades de saúde do município do Rio de Janeiro, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e com diagnóstico de tuberculose pulmonar. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Município do Rio de Janeiro sob o número do parecer: 927.737.

Foram incluídos no estudo pacientes com tuberculose que independente de sexo, idade, etnia, credo, escolaridade, encontravam-se na faixa de 18 a 60 anos, conscientes e orientados no tempo e no espaço, comunicação oral preservada, no 2º mês de tratamento regular, mediante assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Para análise dos dados foi aplicado questionário referente aos dados sócios demográficos e culturais. Também foi realizada entrevista semi-estruturada abordando as atividades de vida diária (AVDs), atividades produtivas e de lazer conforme os domínios Estrutura e Funções do Corpo, Atividades e Participação e Fatores Ambientais da CIF visando identificar o perfil funcional dos pacientes com tuberculose pulmonar.

Os dados foram submetidos ao IBM SPSS e para análise buscou-se uma correlação entre os resultados e as atividades comprometidas no domínio da CIF.

Resultados

Os dados analisados apontaram do total de 27 pacientes média de idade de 40,0 anos, 56% do sexo feminino, 83% etnia negra, 97% ensino fundamental incompleto e em condições socioeconômicas precárias. Em sua maioria 96% procedentes da zona oeste do Rio de Janeiro.

Em relação ao estado civil, oito eram solteiros e dezenove casados, que para Moreira (2001: 19) representa que a família é uma instituição sustentadora do desenvolvimento (social, psicológico, cultural e econômico) do homem e que com o surgimento dessa enfermidade pode acarretar mudança na estrutura e inversão dos papéis familiares.

Em relação ao vínculo empregatício, 20% se encontravam em auxílio doença pelo Instituo Nacional de Seguridade Social (INSS), 70% desempregados e 10% tinham vínculo empregatício, o que demonstra que apesar da TB, 90% deles não tinham vínculo de trabalho, favorecendo o desenvolvimento da enfermidade devido às alterações emocionais que podem acarretar baixa imunidade.

Ao analisar os dados do questionário de funcionabilidade dos portadores de tuberculose, identificou-se que após avaliação terapêutica ocupacional segundo a CIF, o nível de dor descrito pelos clientes foi alto, se caracterizando como a principal queixa. Todos se encontravam afastado do trabalho em decorrência o tratamento, porém relataram piora dos sintomas no inicio do tratamento realizado nos postos de saúde. Alguns deles até verbalizaram que iriam deixar o mesmo pelo aumento das dores e das reações a medicação.

Em relação às funções mentais gerais que se relacionam com a consciência, noção de tempo e espaço e as funções do sono, foi identificado que vinte dos vinte sete participantes apresentavam alterações graves, com prejuízo da qualidade do sono, o que acarretava aumento da irritabilidade. Em relação a funções mentais específicas, doze clientes referiram que a memória, atenção, cálculo, raciocínio lógico e a linguagem foram avaliados pelos participantes como grave.

As funções sensoriais, mais comprometidas foram: proprioceptiva, vestibulares, olfativa, também foram consideradas graves pelos participantes.  Eles não sabem relatar o porquê dessas dificuldades, mas que as mesmas se encontram agravadas após o inicio do tratamento.

Eles relataram problemas cardíacos, com hipertensão. Somente um deles já havia feito cirurgia cardíaca (ponte de safena), que somado a tuberculose, agravou o quadro, pela tosse e funções mentais o medo de piora, devido a TB.

Em relação à mobilidade e o auto cuidado, a maioria deles relataram dificuldades para deambulação, permanência ortostática e fazer auto transferência. O maior obstáculo era transporte que exigem carregar objetos pesados, diziam que de todas; essa era a mais difícil, pois carregar carrinho de compras, subir morro ou escada, carregar o filho, vestir uma calça, higiene dos pés, levantar-se da cama permanecer sentado por longos períodos de tempo, era muitas das vezes só concluídas com auxilio de terceiros.

Em relação às atividades domésticas que inclui preparar refeições, cuidar e realizar as tarefas domésticas, 98% (16), não as realizavam com presteza, principalmente as que envolvessem as grandes articulações como ombro, joelho e coxofemoral. Sendo questionados quais as mais difíceis de serem executadas, eles verbalizaram que era lavar roupa, estendê-las na corda, guardar compras, arrumar a cama, varrer e passar roupa.

Considerações Finais

Neste estudo, observou-se que a construção de um instrumento de avaliação em terapia ocupacional, baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) para pacientes com tuberculose pulmonar permite identificar

Analisar o paciente, suas dificuldades diárias, limitações, barreiras como também suas capacidades, potências e habilidades, por meio de uma avaliação funcional específica, oportuniza criar e planejar programa terapêutico de tratamento, onde a prática clínica da terapia ocupacional em tuberculose poderá desenvolver ações voltadas a pneumologia.

[i]WHO. World Health Organization. Global tuberculosis report 2017. Geneva: WHO; 2017.

 

[ii] BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Plano nacional pelo fim da tuberculose. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

 

[iii]DE CARLO.  MMRP; LUZO, MCM. Terapia ocupacional: reabilitação física e contextos hospitalares. São Paulo: Roca; 2004.


Palavras-chave


Tuberculose; Terapia Ocupacional; CIF.