Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A construção compartilhada das estratégias de facilitação do curso “Pré-Natal Baseado em Evidências” da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte - Relato da experiência
Patricia Guimaraens Ferreira, Rachel Rezende Campos, Letícia Mara Pereira Sousa

Última alteração: 2017-12-21

Resumo


I . Apresentação

Em interface com os Distritos Sanitários (DS) do município, e em parceria com uma Maternidade referenciada na Rede SUS/BH, o Curso “Pré-Natal baseado em evidências” teve início no final do ano de 2016, como uma das necessidades de aprendizagem apontadas pelos Gestores de um dos DS, desencadeando-se posteriormente em outros DS da cidade, que também priorizaram esta necessidade.

A Gerência de Educação em Saúde (GEDSA), como gestora das ações educacionais na Secretaria de Saúde de Belo Horizonte (SMSA), participou no apoio à realização, quanto à infraestrutura/logística, na construção compartilhada da metodologia que seria desenvolvida no curso, e em sua implementação.

As intervenções da GEDSA, principalmente, se caracterizaram pela introdução dos princípios da educação permanente, junto aos atores sociais envolvidos, na perspectiva do desenvolvimento de estratégias interativas para o processo de aprendizagem durante o curso proposto.

Como um dos principais atores envolvidos no processo, os facilitadores do Curso, trabalhadores da rede indicados pelos gestores e pares envolvidos, foram convidados a participarem de uma atividade de preparação crítico reflexiva sobre “A facilitação nas atividades educacionais”.

Este relato de experiência vem registrar o primeiro encontro promovido com os facilitadores, pelo Distrito Sanitário e Gerência de Educação em Saúde em um dos Distritos Sanitários participantes.

II. Objetivo

O encontro com os facilitadores teve como objetivo sensibilizá-los para a experiência de facilitação, compartilhar expectativas e refletir sobre a proposta da educação permanente em saúde, ressaltando a construção compartilhada e colaborativa do conhecimento.

III. Metodologia

Para o desenvolvimento do encontro com os facilitadores, foi elaborada uma programação que privilegiasse técnicas interativas dentro dos princípios da metodologia ativa, que, ao serem implementadas, poderiam tanto permitir a troca conceitual como a construção de estratégias metodológicas a serem utilizadas.

A programação previu uma apresentação inicial entre os participantes e a construção coletiva do contrato de convivência.

Para o segundo momento, foi planejada uma autoavaliação das experiências de facilitação, com registro de experiências difíceis na participação/facilitação em grupos. A partir daí, haveria a apresentação individual, e a socialização, com relatos, troca de experiências e compartilhamento de impressões.

No terceiro momento, estava proposto o registro individual de experiências positivas na participação/facilitação em grupos, por meio de palavras ou frases, em tarjetas de papel. A partir da apresentação, com colagem das tarjetas num quadro, deveria ser construída uma hipótese coletiva sobre o papel do facilitador.

Disponibilizada bibliografia para reflexão em subgrupos, sobre facilitação, a hipótese deveria ser discutida junto às experiências acadêmicas e empíricas apresentadas na literatura.

A finalização a socialização dos subgrupos, a construção da síntese e discussão sobre a metodologia aplicada no encontro. Para o fechamento, foi planejada uma avaliação.

IV. Resultados e discussão

O encontro teve início com uma roda de apresentação dos participantes. Em seguida foi realizada a construção coletiva do contrato de convivência, baseado na organização do tempo (início e término de atividades), uso da fala (permitindo a participação ativa e organizada de todos) e o uso de equipamentos eletrônicos (celulares no silencioso). Foi pontuado para que observassem a metodologia usada naquele momento, para construção do contrato de convivência, como sugestão de utilização pelos participantes como facilitadores posteriormente.

Para o segundo momento, foi aberto espaço para os presentes expressarem suas expectativas em relação ao seu papel como facilitadores, a partir da pergunta: “Como você se vê enquanto facilitador?”.

Como resultado surgiram significantes como “Aprendizagem conjunta”, “Trocas”, “Oportunidade de conhecimento”, “Alinhamento do protocolo (do pré-natal) com repercussão na assistência”, “Co-responsabilidade”, “Problematização”, “Interação com a rede”, “Unificação do pensamento”.

Após a verbalização das percepções pessoais, os participantes foram estimulados a escreverem em tarjetas palavras ou pequenas expressões que representassem o papel dos facilitadores de uma maneira geral. As expressões apresentadas foram: “Mediadora”, “Coordenador do grupo”, “Cooperação mútua”, “Direcionar”, “Tornar mais fácil a aprendizagem”, “Promover aproximação do conteúdo”, “Promover e adquirir conhecimento”, “Compartilhar conhecimento e vivências” e “Mediação”. As tarjetas foram dispostas no flip chart pelos participantes por aproximação de significados. Foram divididas em 2 colunas:


“Mediadora”

“Coordenador do grupo”

“Cooperação mútua”

“Mediação”

 

“Direcionar”

“Tornar mais fácil a aprendizagem” “Promover aproximação do conteúdo” “Promover e adquirir conhecimento” “Compartilhar conhecimento vivências”


 

Após a disposição das expressões, o grupo partiu para a construção coletiva da hipótese. A síntese a partir do exposto registrada foi: “O facilitador é aquele que media e direciona, em cooperação mútua, promovendo a aproximação do conteúdo, compartilhando conhecimentos e vivências, tornando mais fácil a aprendizagem”. Após esta construção, o grupo discutiu se o termo “direcionar” caberia na proposta. Alguns pontuaram que o papel do facilitador não seria direcionar, pois a função do mesmo é possibilitar a construção coletiva e não a imposição do conteúdo. Outros ponderaram dizendo que a direção da discussão e do conteúdo, em alguns momentos, faz-se necessária. As facilitadoras da GEDSA, neste momento, pouco interferiram, com o objetivo de possibilitar a reflexão e a colocação de todos. Partiu-se para o próximo momento do encontro, pois o mesmo embasaria a continuidade da discussão.

Os participantes foram divididos em 3 subgrupos, de 3 a 4 pessoas cada um, para a leitura de textos a respeito da temática. Este momento teve como objetivo agregar mais conhecimento sobre o tema e provocar reflexões sobre o mesmo, promovendo trocas entre impressões dos participantes, experiências acadêmicas e empíricas sobre a facilitação.

Após a discussão nos subgrupos os participantes retornaram ao grande grupo para tentativa da construção de uma síntese reflexiva sobre o papel do facilitador. Alguns se manifestaram dizendo que, após a leitura dos textos, a hipótese ficou com a compreensão mais clara. Observaram que a organização daquele encontro foi realizada de acordo com a proposta da metodologia ativa. Outros avaliaram que manteriam a construção da hipótese, sem modificá-la. Outros ainda ponderaram novamente que retirariam o termo “Direcionar”.

As facilitadoras da GEDS deram o Feedback neste momento do encontro. Retomaram sobre a metodologia utilizada e como os participantes também poderiam se inspirar nesta organização. Fizeram uma provocação para pensarem quais as possibilidades não tradicionais de ensino, além das exposições dialogadas, poderiam ser utilizadas quando eles estiverem na função de facilitadores.

Ao final foi realizada uma avaliação do encontro pelos participantes. Eles diriam uma palavra representativa da vivência. Foram verbalizadas: “Produtivo”, “Desafio”, “Reencontro”, ....

V. Considerações finais

A construção compartilhada do conhecimento permite o envolvimento dos atores num processo emancipatório, onde na troca, as necessidades de aprendizagem são trabalhadas de forma cíclica. Perpassa aqueles que facilitarão a discussão, aqueles que vieram para trocar e os gestores que participaram da iniciativa, desde seu planejamento até a execução. O significado da aprendizagem fica marcado, se dá em curso e de forma crescente. Essa estratégia pode ser considerada uma escolha ideológica de gestão, que possibilita que o trabalhador se coloque como protagonista de seu processo ensino-aprendizagem, como um ator crítico, criativo, favorecendo as transformações necessárias ao SUS. Essa é uma das estratégias que uma gestão comprometida com a Saúde Pública deve investir.


Palavras-chave


educação permanente em saúde