Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A dinâmica da rede de cuidados de famílias acompanhadas na Atenção Psicossocial e na Atenção Básica em Manaus.
Nayandra Stéphanie Souza Barbosa, Denise Machado Duran Gutierrez

Última alteração: 2017-12-21

Resumo


Apresentação: A presente pesquisa caracteriza-se enquanto uma dissertação de mestrado, resultante de um estudo realizado no contexto da articulação de rede em prol de famílias acompanhadas pelos serviços da Atenção Psicossocial e da Atenção Básica de Saúde, em Manaus, no período de julho a dezembro de 2016. Neste estudo, buscou-se compreender como se constitui a dinâmica da rede de cuidados à saúde de famílias que possuem membros com transtorno mental em seus núcleos familiares. Assim, adotamos como objetivo geral analisar esta dinâmica da rede de cuidados à saúde de famílias que demandam acompanhamento em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em articulação com a Atenção Básica (ABS) de seu território. Para tanto, os objetivos específicos foram: 1) Compreender o processo de acompanhamento ofertado às famílias no cotidiano do CAPS e em articulação com a ABS, buscando conhecer a natureza de suas demandas em geral; 2) Conhecer as ações de cuidado utilizadas pelas equipes para a efetivação da assistência às famílias em âmbito domiciliar e em território, observando os aspectos psicossociais in situ; 3) Identificar as trajetórias terapêuticas destas famílias em suas dinâmicas cotidianas, visando compreender os fatores incidentes, motivações e necessidades que as levam a recorrer a uma rede social de apoio; 4) Refletir sobre as trajetórias terapêuticas e as relações possíveis entre os aspectos e fatores observados nessas dinâmicas de cuidados e a constituição de uma rede de cuidados à saúde de famílias significativa para seus membros, considerando suas especificidades.

Desenvolvimento do trabalho: Utilizamos a metodologia de pesquisa qualitativa de caráter descritivo exploratória, através do método da observação participante, tendo como recursos metodológicos os seguintes instrumentos: diário de campo; registro de conversações nos encontros familiares; construção de genograma, ecomapa e mapa de redes com as duas famílias participantes; material documental, e por fim, a realização de uma reunião de restituição das primeiras análises dos dados à equipe de referência, em coerência com o método da observação participante que permitiu a posição do pesquisador enquanto observador-colaborador. Desse modo, a análise do corpus da pesquisa foi realizada a partir de Análise de Conteúdo Temática, com base no marco teórico da Abordagem Sistêmica em interlocução com a Psicologia da Saúde, tendo como construtos principais os conceitos de Rede, Cuidado e Família.

Resultados e/ou impactos: Os resultados demonstraram que a dinâmica da rede de cuidados à saúde destas famílias pode ser compreendida a partir da constituição de duas lógicas de redes principais, em um plano sistêmico, a saber: conhecendo a dinâmica da articulação de rede pela lógica dos serviços da atenção psicossocial e da atenção básica em prol das famílias, com seus avanços, rupturas e práticas de cuidado em evidência; e reconhecendo a existência de uma dinâmica da rede a partir da lógica das próprias famílias, resgatando suas histórias, percorrendo suas trajetórias de cuidado e mapeando as redes sociais de apoio significativas, favorecendo assim a constituição e a ativação de uma rede de cuidados de famílias de maneira significativa, integral e efetiva às suas realidades. Em tempo, ressaltamos que a “observação participante” mostrou-se um enriquecedor método de pesquisa por nos permitir uma movimentação ampla pelos cenários e palcos do fazer saúde, permitindo-nos acompanhar as ações, os ditos e não ditos, as rotinas e a falta dela, o instituído e o instituinte, dando vida às nossas cenas do cotidiano de cuidados. Estas cenas foram marcadas por idas e vindas, erros e acertos, angústias e alívios, dificuldades e facilidades, mas também com a observação e participação em ato vivo em momentos que resultaram em intervenções de sucesso, experiências significativas, percursos inovadores e um tanto de esperanças por dias melhores na Saúde Mental em Manaus e no Amazonas. E são estas novas possibilidades, estes novos cenários, estas novas formas de se pensar as redes e os territórios, dando espaço para novos olhares e relações, que fizeram essa pesquisa valer a pena. Assim, muito antes de ser uma conclusão, as reflexões aqui construídas demonstram que outros caminhos podem ser trilhados.

Considerações finais: Dito isto, ao repousar nosso olhar na rede de cuidados à saúde de famílias, esperamos ter colaborado não somente com a reflexão sobre a articulação da rede, mas, sobretudo, com a identificação e reavaliação de práticas de cuidados à saúde quando há a existência do sofrimento psíquico em seus núcleos familiares, reafirmando a importância de um acompanhamento que considere os fatores incidentes e outros aspectos psicossociais nessa dinâmica de cuidados em todos os pontos de atenção. Reconhecendo ainda, que a existência de uma rede, mesmo com todos os nós, com toda sua dificuldade e complexidade, é fundamental na potencialização do cuidado ao sujeito com transtorno mental, valorizando sua organização autônoma, sua liberdade de circulação na cidade e na sua rede social, na qual incluímos a família. Por fim, sem perder de vista a particularidade subjetiva que cada caso traz, acreditamos que, contando com a rede de cuidados, ou prescindindo dela, a inserção na vida social e cultural nos contextos locais em que o usuário circula, mostra os avanços já conseguidos com a política de saúde mental em Manaus. Embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido, podemos afirmar que são incontestáveis os avanços obtidos, pois consideramos que o processo da Reforma Psiquiátrica é irreversível, tendo conquistado um espaço importante, que se encontra consolidado na comunidade científica e nos serviços de saúde e aponta uma nova ordem para a reconstrução da atenção em saúde mental. Para concluir, não podemos deixar de ressaltar que se faz urgente para o sucesso da Reforma Psiquiátrica no Amazonas, a formulação de políticas públicas intersetoriais que promovam a reabilitação psicossocial do usuário da saúde mental, efetivando estratégias com as instâncias governamentais, a sociedade civil e criando formas de organização social. Porém, não nos esqueçamos de que cabe ao usuário do serviço de saúde a escolha final se busca ou não os serviços oferecidos, bem como o poder de seguir ou não o acompanhamento sugerido ou de buscar outras alternativas para o seu sofrimento psíquico, o que nos leva a repensar nossas posturas como profissionais de saúde. E assim, cada vez mais, poderemos caminhar na direção de práticas de cuidado em saúde mais eficazes, comprometidas e éticas, que incluam a participação ativa dos sujeitos e suas famílias, e integrem seus direitos de cidadania e de qualidade de vida.


Palavras-chave


Rede; Cuidado; Família; Abordagem Sistêmica; Psicologia da Saúde.