Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
AMANDABA NO CAETÉ: EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O AUTOCUIDADO DE PORTADORES DE DIABETES MELLITUS BASEADA NOS CÍRCULOS DE CULTURA DE PAULO FREIRE
SUELEN TRINDADE CORREA, MARIA DO SOCORRO CASTELO BRANCO DE OLIVEIRA BASTOS

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: O Diabetes Mellitus (DM) é uma condição crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, exigindo da pessoa portadora mudanças em seu estilo de vida e um autocuidado no controle da doença. As práticas de autocuidado pelo paciente podem ser influenciadas por vários fatores, como a experiência de vida, os aspectos sociais e culturais, presença de sentimentos depressivos e desmotivação, requerendo do paciente, no que concerne ao autocuidado, tomadas de decisões, controle do comportamento e aquisição de conhecimentos e habilidades. Por isso é importante que o profissional de saúde reconheça os fatores que levam ou não a uma adoção de autocuidado, evitando atitudes prescritivas ao abordar os pacientes, empregando práticas motivacionais e comportamentais que contribuam no empoderamento e na autonomia dos pacientes frente ao autocuidado. No entanto, ainda são frequentes práticas de saúde verticalizadas e prescritivas, centrada no profissional, surgindo, então, a necessidade de uma educação em saúde problematizadora, como os Círculos de Cultura de Paulo Freire, que mediante o diálogo, a escuta ativa e as reflexões, estimule a autonomia do paciente, as práticas de autocuidado e controle glicêmico. Desse modo, nosso objetivo foi avaliar a educação em saúde realizada por meio dos Círculos de Cultura na adesão ao autocuidado de pacientes com DM, onde comparamos as atividades de autocuidado do diabetes, os níveis de glicemia capilar, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, Índice de Massa Corpórea (IMC) e circunferência abdominal dos pacientes, no início e após três meses do estudo. Desenvolvimento do trabalho: Foi realizado um ensaio clínico randomizado com usuários portadores de DM acompanhados em unidades das Estratégias Saúde da Família (ESF) do município de Bragança, Pará. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, orientando-se pelos princípios éticos da Resolução 466/2012. Os usuários com diabetes das ESF, com idade entre 30 a 60 anos, de ambos os gêneros, que não tinham complicações (cegueira, baixa acuidade visual, limitações cognitivas) que impedissem a participação no estudo, foram alocados em Grupo de Intervenção (GI) e Grupo Controle (GC). Os participantes do GC foram orientados a realizar a consulta de rotina na ESF, recebendo orientações individuais da equipe de saúde. Os participantes do GI foram submetidos às atividades de educação em saúde baseada no método Círculo de Cultura de Paulo Freire, e também foram orientados a continuar seu atendimento individual na ESF, como de rotina. Foram aplicados um questionário sociodemográfico e o Questionário de Atividades de Autocuidados com o Diabetes-QAD para a avaliação das atividades de autocuidado e ainda foi coletada glicemia capilar em jejum, cálculo do IMC, circunferência abdominal e pressão arterial. Os Círculos de Cultura se desenvolveram conforme as fases: levantamento temático; escolha dos temas geradores pelo grupo; problematização e desvelamento crítico. O levantamento temático foi realizado a partir da observação de conversas e análise do QAD aplicado na primeira reunião com os participantes; a seleção dos temas se deu pela avaliação da não adesão às práticas de autocuidado no cotidiano dos participantes. Temas levantados pelo pesquisador: alimentação, exercício físico, monitoramento glicêmico, cuidados com os pés e complicações do diabetes. Para a escolha dos temas geradores pelo grupo, foi lançada a pergunta: quais são os desafios em ter diabetes? Iniciando, desse modo, uma discussão entre os participantes sobre suas dificuldades na autogestão da doença, o que por fim norteou a escolha dos temas geradores: diabetes e complicações, alimentação, medicação e cuidados com os pés. Na fase de problematização, os temas geradores selecionados pelo grupo foram dialogados com a apresentação de fotos, desenhos, ilustrações, leitura de textos vinculados a cada tema, prática de autoexame dos pés. A fase de desvelamento crítico aconteceu, concomitantemente, com a fase de problematização em quatro círculos, pois, ao dialogar sobre os temas geradores, analisando-os criticamente, os participantes tomaram consciência de sua realidade, sistematizando suas ideias frente ao autocuidado no diabetes.  Portanto, após a problematização, o grupo foi incentivado a expressar, por meio de falas, desenhos, palavras escritas em folha de papel, quais tomadas de decisões sobre o autocuidado com o diabetes se deram a partir das discussões no grupo. A abordagem educativa ocorreu nos auditórios das ESF, com duração média de duas horas. O software SPSS 20.0 foi utilizado para as análises estatísticas, em que foram considerados estatisticamente significantes os valores de p<0,05. Resultados e/ou impactos: A população do estudo foi composta de 72 usuários com diabetes, sendo 41 participantes do GI e 31 do GC. As mulheres corresponderam a 73,6% dos participantes e a média de idade foi de 49,9 anos. Ao se comparar as variáveis estudadas no início e após três meses, foi observada a redução estatisticamente significante da glicemia capilar em jejum, pressão arterial sistólica e circunferência abdominal no GI, enquanto no GC não houve diferença estatisticamente significante em nenhum dos parâmetros avaliados. No GI, houve aumento estatisticamente significante no número de dias de adesão a dieta saudável, seguir uma orientação alimentar de um profissional da saúde, comer cinco ou mais porções de frutas e/ou vegetais, praticar algum tipo de exercício físico, avaliar o açúcar do sangue o número de vezes recomendado, examinar os pés, secar os espaços entre os dedos dos pés depois de lavá-los e tomar o número indicado de comprimidos. Nesse grupo, houve redução no número de dias em que se consumia carne vermelha, alimentos com leite integral e derivados e, ainda, doces. No GC, houve aumento estatisticamente significante de dias de adesão apenas nas atividades tomar medicamentos do diabetes e tomar o número indicado de comprimidos, com diminuição de dias de adesão a dieta saudável, comer cinco ou mais porções de frutas e/ou vegetais, comer carne vermelha, alimentos com leite integral ou derivados, praticar atividade física, examinar os pés e examinar dentro dos sapatos antes de calçá-los. Considerações finais: os Círculos de Cultura como intervenção educativa para usuários com DM, foram eficientes na melhor adoção ao autocuidado pelos participantes do GI, com redução da glicemia capilar em jejum, pressão arterial sistólica e circunferência abdominal. O diálogo vivenciado, os relatos de experiências compartilhados e as reflexões sobre as atitudes perante a doença, foram primordiais para um melhor conhecimento do diabetes, que levaram os usuários a compreender a sua condição de portador, desvelando mudança de hábitos, com adoção de práticas de autocuidado, principalmente na alimentação, atividade física e cuidados com os pés. Portanto, os Círculos de Cultura realizados pelo presente estudo, foram essenciais em mudanças de atitudes dos participantes, que puderam dialogar sobre os temas geradores, problematizando-os e desvelando-os, compartilhando saberes, fortalecendo a autonomia dos envolvidos, rompendo com práticas de saúde impositivas e prescritivas. Assim, possibilitou uma melhor compreensão sobre o autocuidado no diabetes, refletidos nos resultados obtidos, o que destaca a importância de educação em saúde problematizadora para pessoas com DM acompanhadas pelas equipes das ESF.


Palavras-chave


Educação em Saúde; Diabetes Mellitus; Autocuidado; Estratégia Saúde da Família.