Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Cuidados Intermediários em Saúde- Hospitais Comunitários Italianos e a Atenção Primaria à Saúde
Mírian Ribeiro Conceição, Túlio Batista Franco

Última alteração: 2017-12-27

Resumo


O cenário de transição epidemiológica apresenta cada vez mais impacto aos sistemas de saúde. O Brasil vivencia o aumento expressivo com previsões de duplicação em aproximadamente 20 anos, podendo chegar a 15% do total. Isto afeta não apenas o perfil de morbimortalidade, mas também a elevação dos gastos com os cuidados em saúde, como por exemplo das doenças cardiovasculares, cujos óbitos chegam a 31%.(1) A Itália vivencia este desafio há mais tempo a partir da transição demográfica já completa. O envelhecimento da população e consequente elevação de doenças crônicas, bem como de seus impactos biopsicossocial e econômico, demanda altos investimentos públicos no sistema de saúde.

As doenças de longa duração como as Doenças Crônicas Não Transmissíveis – câncer, obesidade, diabetes, hipertensão arterial, transtornos mentais e etc, possuem altos custos, pois, em ordem direta, demandam medicamentos, exames complementares, leitos hospitalares, cirurgias e procedimentos terapêuticos, bem como, em ordem indireta, a perda da vida produtiva/laboral, autonomia, condições de vulnerabilidade e etc.(2)

As condições de cronicidade convocam, portanto, o cuidado multidisciplinar, em articulação de investimentos em ações de promoção e prevenção à saúde, bem como a longitudinalidade e integralidade. Nesta proposição, os cuidados intermediários apresentam dispositivos inovadores de produção de cuidado ao que se refere aos novos perfis epidemiológicos. Surgem na década de 90 como estratégia de integração entre hospital e cuidados territoriais, com o objetivo de prevenir a hospitalização e promover a recuperação mais rápida para o retorno ao domicílio(3), fortalecendo a Atenção Primária à Saúde (APS) na ampliação de seu escopo de cuidado.

Na Itália, somente após o processo de descentralização com a maior autonomia das regiões (4,5,6,7) é que as discussões sobre integração entre os hospitais e os serviços territoriais se intensificam, que se consolida por uma serie decretos e planos na última década.

O Plano Sanitário Nazionale (PSN) 2003-2005 enfatiza a integração de serviços de saúde e social com os territórios como lugar de cuidado das doenças crônicas, com orientações centradas na reabilitação, promoção e prevenção da saúde(8). O PSN de 2006-2008, indica a reorganização da atenção primária reforçando para tal, a necessidade de integração dos serviços sociossanitários, sugerindo os Hospitais Comunitários como principal estratégia(9), tendo como objetivos o fortalecimento da APS e de proporcionar a integração entre a assistência hospitalar e o os cuidados territoriais, com ambiente protegido para o restabelecimento da condição física ou a continuação do processo de recuperação para pacientes pós-agudos(10, 11, 12). Em 2014, o Pacto pela Saúde 2014-2016, atribui às regiões a tarefa de continuidade restruturação da APS, e subsequencialmente em Decreto Ministerial 70/2015 é regulamentado e definido padrões de qualidade, estrutural, tecnológico e assistencial, afirmando e recomendando a adoção dos hospitais comunitários(11,13,14,15). Em âmbito regional, em reforço as orientações ministeriais, o Decreto Regional 221/2015, que dispões sobre os requisitos específicos de acreditação dos hospitais comunitários defini detalhadamente cliente, critérios e arranjos organizacionais destes serviços.

Em âmbito regional, em reforço as orientações ministeriais, o Decreto Regional 221/2015, que dispões sobre os requisitos específicos de acreditação dos hospitais comunitários defini detalhadamente cliente, critérios e arranjos organizacionais destes serviços, que impactam no processo de cuidado - tema central da pesquisa proposta.(16) Estruturas de cuidado 24 horas/7 dias por semana, os hospitais comunitários possuem de 15 a 20 leitos de cuidado integral de enfermagem para pacientes: com multimorbidades; crônicos reagudizados sem critérios de internação em hospital para agudos; e que necessitam de reabilitação motora ou algum suporte funcional a órgãos. O acesso por se dar pelo serviço territorial, em indicação do médico de família, por alta programada de enfermarias de hospitais de maior complexidade, ou diretamente do atendimento de emergência. (11) O tempo de permanência médio é 20 dias tendo como principais objetivos a seres trabalhados é o empoderamento dos pacientes e cuidadores, por meio de formação, orientação e outros recurso que possibilite melhor gestão possível das novas condições clínicas e terapêuticas e ao reconhecimento precoce de eventuais sintomas de instabilidade. (16)

A gestão do cuidado é realizada pelo médico ou enfermeiro de referência que, junto da equipe, é responsável pela construção, monitoramento e avaliação do Plano Individual Assistencial.Para tal, listam-se: lesão cutânea (prevalência, evolução); quedas com e sem complicações, estado funcional (atividades da vida cotidiana) e capacidade de gestão da terapia e de outras atividades de assistência, sendo este último importante indicador de alta. (16)

Neste contexto, este estudo objetiva analisar os processos de trabalho e a produção de cuidado em um hospital comunitário da Região Emília-Romagna, enquanto um dispositivo de cuidados intermediários. Para tal, tem-se a pesquisa intervenção participativa como método em composição de instrumentos - observação participante, diário de campos, entrevistas e análise documental- para a construção cartográfica deste estudo etnográfico.

A pesquisa, em fase de aproximação com objeto, encontra na revisão das produções já existentes no campo mostra que a reorganização da assistência hospitalar, o fortalecimento da APS e a implementação dos hospitais comunitários vem apresentando importantes resultados. Pieri (2016) realizou estudo que apresenta conclusões relevantes a partir dos dados do Sistema Informativo Regionale Ospedali di Comunità, sobre o impacto no cuidado da população idosa. (17) Os usuários apresentam perfil de multimorbidades, com idade média de 83,1 anos, sendo 86,4% destes com idade igual ou superior a 75 anos. Contudo, nos casos de idade inferior a 75 anos, mais de 77% apresentavam problemas de saúde complexos, necessitando de cuidados contínuos. Como principais motivos de internação apresentavam necessidade de suporte continuo de enfermagem e necessidade de monitoramento clínico e estabilidade terapêutica, tendo como indicador de êxito de 72% dos pacientes da amostragem receberam alta para o domicilio e apenas 5.9% foram transferidos para unidades mais especializadas.(18) Deste modo, a pesquisa aponta que este dispositivo vem desempenhando significativa função no cuidado da população idosa acometida por multimorbidades, a medida que ao atuar em suporte a APS, permite intervenção intensiva evitando, portanto, os agravamentos e a necessidade de utilização de estruturas mais especializadas e de alto custo aos sistemas.(17)

Deste modo, os cuidados intermediários, situados entre a Atenção Básica e Hospitalar, permitem, em lógicas territoriais no confronto com as diferentes dimensões da vida cotidiana, melhor adaptação às mudanças e a singularização de contextos dos processos de saúde-doença, realizando um processo de reestruturação produtiva dos serviços de saúde. Conhecer experiências como estas, pode não apenas ampliar as discussões quanto a produção de cuidado a Atenção Básica, bem como na tentativa de reinvenção da rede de cuidado, a identificação de fragilidades e potencialidades do processo de reorganização do cuidado nos sistemas de saúde, mas também a possibilidade de remodelar serviços e unidades como os hospitais de pequeno porte, como vem realiza a experiência italiana.


Palavras-chave


Trabalho em Saúde; Cuidados Intermediários; Micropolítica; Etnografia.