Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Ressonância Magnética de Campo Fechado: a hora de sentir medo
Davi Araújo da Cunha, Iolete Ribeiro da Silva

Última alteração: 2017-12-17

Resumo


Apresentação

 

Este trabalho é o recorte de uma pesquisa em psicologia da saúde realizada numa instituição hospitalar na cidade de Manaus-AM no ano de 2014. Teve como objeto de estudo a experiência subjetiva ou de intimidade de usuários dos serviços de saúde que necessitavam realizar o exame de ressonância magnética (RM). Experiência compreendida na articulação entre os aspectos psicológicos e a expressão comportamental manifesta durante a processualidade deste exame. O objetivo principal foi colocar o usuário/cidadão na posição de protagonista, solicitando deles a partir de entrevistas semiestruturadas que fizessem sugestões para a melhoria do serviço de RM a que eles foram expostos evitando tratá-los ou colocá-los numa posição objetal, realidade ainda frequente em alguns serviços de saúde.

Os dois modelos de RM mais usados em investigações clínicas são os de campo aberto e o de campo fechado. O modelo de campo fechado tem formato de túnel e o de campo aberto tem formato de U, o que permite nesse último modelo, geralmente, produzir menor estado ansioso por parte de seus usuários/cidadãos. A pesquisa foi realizada no modelo de campo fechado. Tal escolha foi devido a maior preferência por parte dos profissionais médicos solicitantes do exame de RM, uma vez que esse modelo realiza investigações de todas as regiões do corpo com melhor definição e em um tempo menor quando comparado ao modelo de campo aberto.

 

Desenvolvimento do trabalho

 

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de característica descritivo-exploratória realizada no parque de diagnóstico por imagem, no serviço de RM, de um hospital geral na cidade de Manaus. A abordagem geradora de discussão foi concernente as contribuições dadas pelos próprios usuários/cidadãos do exame de RM e suas propostas de melhorias para o ritual que compreende a realização do exame de RM. Os seis participantes voluntários da pesquisa foram selecionados a partir do grau de dificuldade em realizar o exame de RM de campo fechado. A região anatômica e/ou indicação clínica a ser investigada pela RM não foram levadas em considerações nessa pesquisa mas sim a dificuldade ou não expressa pelo usuário/cidadão logo após a conclusão do exame.

Eis a descrição da amostra: a) dois pacientes, um do sexo masculino e outro do sexo feminino que realizaram o exame sem aparentemente manifestar dificuldades explícitas do tipo ansiosa/fóbica; b) dois pacientes, um do sexo masculino e outro do sexo feminino, que conseguiram realizar o exame de RM apesar de apresentarem dificuldades do tipo ansiosa/fóbica; e, c) dois pacientes do sexo masculino que não conseguiram realizar o exame de RM por apresentar sinais evidentes de ansiedade/medo/fobia, sendo necessário, nesse caso, interromper a realização do exame e remarcar para outro momento quando então foi usado procedimento anestésico para a realização do exame de RM.

As entrevistas dialógicas foram individuais, semiestruturadas e focadas na experiência vivida de passagem pelo exame de RM de campo fechado. Procurou-se valorizar as expressões emocionais e os sentimentos dos sujeitos, em um ambiente de cuidado e atenção, possibilitando a emissão de respostas que não fossem simplesmente automáticas ou racionalizantes. Todos assinaram o TCLE e a pesquisa obteve aprovação do comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Federal do Amazonas (CEP-UFAM). Não houve recusas de participação dos mesmos. A análise foi feita tendo como fio condutor o referencial teórico em psicologia da saúde, o problema de pesquisa e o objetivo proposto.

 

Resultados e impactos encontrados

 

Apesar dos participantes ter experimentado os ambientes de recepção, sala de espera, triagem de enfermagem e nova sala de espera, as propostas de melhorias sugeridas por quem experienciou a realização do exame de RM de campo fechado foram direcionadas mais propriamente a sala de realização de exame. Para os participantes que manifestaram reação de medo ou ansiedade é a sala de exame e mais especificamente o equipamento de RM (magneto) a maior fonte desencadeadora de resposta do tipo ansiosa.

Outro dado levantado foi que os participantes que tiveram mais dificuldades em realizar o exame de RM por apresentar sinais de ansiedade/medo do exame ou do equipamento foram também os que mais contribuíram com sugestões para melhorias do serviço.

As principais contribuições fornecidas por quem esteve na posição de “paciente” foram: a) Participantes que realizaram o exame sem problemas do tipo emocional/ansioso: demora para ser chamado para fazer o exame; b) participantes que realizaram o exame mas com relativa dificuldade do tipo já descrito aqui: ruído gerado pelo equipamento; e, c) participantes que não concluíram terminar o exame: Demora para iniciar o exame, maior privacidade, uma “boa conversa” com a pessoa, os técnicos que entram em contato com os pacientes devem transmitir tranquilidade, exames executados mais rápidos, um equipamento mais “transparente porque não dá para ver nada lá dentro”, deve ter uma boa entrevista. Destaca-se que no geral todos os participantes mostraram-se satisfeitos com o atendimento recebido.

Pode-se destacar que a experiência subjetiva que resulta em passagem sem dificuldades pelo equipamento de RM não depende unicamente do conhecimento prático anterior do exame. Outros fatores de ordem física/biológica (como está sentindo dor provocada pela posição exigida para fazer o exame), ou de ordem emocional (como medo inexplicável da máquina) podem comprometer a performance dos pacientes durante o exame. Profissionais de saúde preocupados com o cuidado integral em saúde incluirá no atendimento ao usuário/cidadão do exame de RM o imaginário desse ator e suas implicações para o sucesso ou não do exame. Valorizará seus discursos e sistema emocional.

 

 

 

Considerações finais

 

Pode-se afirmar que o modelo de atenção à saúde predominante no Brasil ainda é centrado no hospital e no saber médico, é fragmentado, é biologicista e mecanicista. O chamado modelo médico hegemônico centrado no órgão e na patologia detectável por métodos gráficos ou de imagem tende a relegar a um plano secundário a questão emocional e intersubjetiva colocando essas manifestações tão próprias do humano como algo externo a interpretação biomédica.

Também merece nota o fato observado na pesquisa que para “corrigir” esse “efeito adverso” (ficar nervoso durante o exame de RM) a primeira escolha é a anestesia geral (venosa ou inalatória), evidenciando o modelo biomédico como central também para solucionar esses “desvios”. Identificada essa lacuna, apontamos o modelo biopsicossocial como uma possibilidade de superação do modelo biomédico (sem excluí-lo), abarcando assim de forma integral o usuário/cidadão que está em busca de cuidados para sua saúde. Nesse ambiente (hospital, serviço de RM) já tão marcado por afetos em constante conflito há a necessidade de valorização da comunicação emocional principalmente quando a emoção é comunicada, mas não por intermédio da fala. Essa comunicação ocorre primeiramente entre sujeitos (através de gestos, afetos, toques).

Outra questão para aprofundamentos concerne aos processos relacionais e ambientais que interferem na qualidade dos cuidados à saúde do usuário/cidadão em seus itinerários terapêuticos.

Palavras-chave


Ressonância magnética; psicologia da saúde; educação em saúde