Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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USO DA PAPAÍNA ASSOCIADA AOS ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS NO TRATAMENTO DE LESÕES DO TIPO PÉ DIABÉTICO
MARIA CRISTINA CHIAPINOTTO, MARIA BEATRIZ ALVES

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


 

APRESENTAÇÃO: Pé Diabético é o termo empregado para nomear as diversas alterações e complicações ocorridas, isoladamente ou em conjunto, nos pés e nos membros inferiores dos diabéticos. O paciente com lesão do tipo pé diabético demanda da enfermagem uma assistência sistematizada a fim de beneficiar a reabilitação e prevenir complicações como amputação do membro, no intento de proporcionar uma melhor qualidade de vida; todavia, quando os profissionais encontram com essas situações clínicas, medidas devem ser tomadas para reverter o caso e favorecer o sucesso do tratamento. As úlceras de pés (também conhecido como pé diabético) e a amputação de extremidades são as complicações crônicas do diabetes mellitus (DM) mais graves e de maior impacto socioeconômico. As úlceras nos pés apresentam uma incidência anual de 2%, tendo a pessoa com diabetes um risco de 25% em desenvolver úlceras nos pés ao longo da vida. Estudos estimam que essa complicação é responsável por 40% a 70% das amputações não traumáticas de membros inferiores. Aproximadamente 20% das internações de indivíduos com diabetes ocorrem por lesões nos membros inferiores. Oitenta e cinco por cento das amputações de membros inferiores no DM são precedidas de ulcerações, sendo que os principais fatores associados são a neuropatia periférica, deformidades no pé e os traumatismos. Nos Estados Unidos, os pacientes diabéticos correspondem a cerca de 3% da população total e mais de 50% deles são submetidos à amputação de membros inferiores. Cerca de 1 a 4% de pacientes diabéticos desenvolvem úlceras nos pés por ano e, em 15%, pelo menos uma vez na vida.  Para tratar esses agravos, inúmeros produtos têm sido usados, dentre eles a papaína, extraída do látex do mamoeiro Carica papaya, é uma mistura complexa de enzimas proteolíticas e de peroxidases, que causam a proteólise, degradação de proteínas do tecido desvitalizado e da necrose em aminoácidos, sem modificar o tecido viável, devido a 1-antitripsina, globulina humana encontrada apenas no tecido saudável que inativa as proteases da papaína, impedindo a degradação desse tecido, sendo bastante eficiente no tratamento de feridas. É indicada no tratamento de úlceras abertas, infectadas e no desbridamento de tecidos desvitalizados ou necróticos em diferentes concentrações conforme o ferimento. Para lesão necrótica papaína a 10%, com exsudato purulento de 4 a 6% e com tecido de granulação 2%. Há mais de 20 anos no Brasil, a papaína tem sido amplamente utilizada no tratamento de feridas em  instituições públicas e privadas,  sendo um recurso de uso fácil e de baixo custo, onde atualmente faz parte de protocolos para tratamento de feridas em atendimento ambulatorial, hospitalar  e domiciliário; estando difundida nas diversas regiões geoeconômicas do Brasil. Os Ácidos Graxos Essenciais (AGE) são necessários para manter a integridade da pele e barreira de água, não são sintetizados pelo organismo, não há contraindicação de uso concomitante com outras coberturas, pode ser aplicado diretamente no leito da úlcera ou em gaze para manter meio úmido até a próxima troca. Este estudo é um relato de caso clínico que tem por objetivo demonstrar o uso da papaína 10% associada aos AGE no tratamento de lesão do tipo pé diabético. MÉTODO: estudo de caso clínico realizado durante atendimento hospitalar e domiciliar, em Sobradinho/RS. Os registros foram realizados em diário de campo e método fotográfico durante consultas de enfermagem para realização de curativos. O paciente foi esclarecido da possibilidade de documentação do caso, tendo assinado TCLE. RESULTADOS: Paciente LS, 36 anos de idade, sexo masculino, cor branca, ensino fundamental incompleto, etilista, com diagnóstico médico de diabetes mellitus tipo 2. Apresentava lesão há 1mês em 1º dedo de pé E causada por trama com calçado, a qual se estendeu para dorso do pé e terço inferior da perna formando focos infecciosos, apresentando complexa cicatrização. Em 30/06/2016 apresentava uma extensa lesão no dorso do pé e terço inferior da perna, com tecido necrótico de coagulação e liquefação, dor leve, exsudação purulenta em grande quantidade, odor fétido, sinais de infecção, pele adjacente com hiperemia, calor e rubor. Foi realizado cultura de secreção apresentando bactérias do tipo anaeróbias. Pela gravidade do caso paciente tinha indicação de amputação da perna pelo cirurgião vascular, mas optou-se primeiro em tratar. Foi internado onde realizou tratamento sistêmico com três tipos de antibióticos (Levoflaxacino,  Metronidazol e  Oxacilina ) por via endovenosa. Como tratamento tópico foi usado papaína 10%, cobertura secundária gazes embebidas com AGE e atadura. A troca no início era realizada duas vezes ao dia devido saturação intensa. A assepsia era realizada com solução fisiológica 0,9% sempre aquecida em torno de 37º. Quando houve diminuição da quantidade de exsudato os curativos eram realizados a cada 24 horas. Paciente permaneceu internado por um período de 23 dias e após os curativos foram realizados no domicilio da mesma forma. A cobertura com papaína 10% e AGE foi mantida até o final do tratamento mesmo com a formação de tecido de granulação, e como tratamento sistêmico antibiótico via oral com Levofloxacino por 4 meses. Os ácidos graxos essenciais eram colocados em média 4 vezes ao dia sobre as gazes diretamente no leito da lesão com a finalidade de manter o meio úmido e facilitar a remoção dos apósitos sem causar trauma. Houve excelente evolução do caso com cicatrização da lesão em 164 dias de tratamento evitando a amputação do membro. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O uso da papaína associada aos ácidos graxos essenciais mostrou-se uma técnica simples, de baixo custo e de fácil manipulação. Considera‐se que, mesmo com fatores que interferem na cicatrização o uso da papaína 10% associada aos AGE apresentou real efetividade no tratamento da lesão do tipo pé diabético. Houve redução do tecido necrótico e exsudato, formação de tecido de granulação e epitelização com aceleração de cicatrização da lesão, tornando possível concluir ser esta uma relevante alternativa para o tratamento de lesões crônicas. A escolha desta terapêutica reduziu o risco de amputação do membro agredido.  Desta forma, é importante o conhecimento do profissional dos produtos disponíveis no mercado para o tratamento, da fisiologia da cicatrização, dos fatores de risco e o tipo da lesão, para a indicação da terapêutica correta das lesões. As condutas devem ser baseadas em evidência científica para garantir a efetividade do tratamento.

 


Palavras-chave


Pé Diabético, Papaína, cicatrização