Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Oficina Boas Práticas de Enfermagem: construindo saberes com professores, estudantes e trabalhadores da área
Denise Vendruscolo, Denise Lucas Maffissoni, Denise Antunes de Azambuja Zocche, Letícia de Lima Trinadade, Kátia Jamile da Silva, Mônica Ludwig Weber

Última alteração: 2018-01-15

Resumo


Introdução: as boas práticas de Enfermagem consistem em um conjunto tecnológico de ações e serviços que objetiva qualificar a atenção ofertada aos usuários e coletividades. Define-se como assistência de enfermagem orientada pelas boas práticas aquela que utiliza estratégias resolutivas para identificar necessidades de saúde, planejar e implementar intervenções e promover a elaboração de métodos avaliativos destas, com base em evidências científicas e com o menor custo ao sistema de saúde. O estímulo ao desenvolvimento de um cuidado de Enfermagem pautado pelas boas práticas emerge de movimentos realizados por pesquisadores, professores e instituições de ensino e de serviço, em âmbito nacional e internacional, que buscam desenvolver as melhores práticas com base nos melhores desfechos para a população, e, ainda, levando em consideração os valores e necessidades de saúde individuais e coletivas. As boas práticas já são observadas e desenvolvidas por alguns profissionais no contexto da Enfermagem brasileira, um exemplo clássico, mas não o único, é a utilização do Processo de Enfermagem como principal recurso de trabalho. Contudo, julga-se que esse conjunto tecnológico não opera de modo homogêneo nas diversas regiões do país, necessitando de maior capilarização para que possa ser incorporado como um modelo orientador dos processos de cuidado. Diante disso, é evidente a necessidade de abordagens mais significativas, desde a formação, e, ainda, nos movimentos de gestão e gerenciamento dos serviços, a fim de disseminar a importância de exercer a enfermagem a partir das boas práticas e também para empoderar os profissionais quanto às iniciativas e estímulo de boas práticas no ambiente de trabalho em que estão inseridos.

Metodologia: trata-se de um relato de experiência sobre uma “Oficina sobre Boas Práticas de Enfermagem”, desenvolvida no I Congresso Internacional de Políticas Públicas de Saúde, em que foi abordada a temática, a partir de uma metodologia problematizadora. A atividade teve duração de quatro horas e foi ofertada para estudantes, trabalhadores e professores de Enfermagem, totalizando 50 pessoas. Contudo trabalhadores de outras profissões da área da saúde manifestaram interesse e participaram. A oficina foi iniciada com uma breve apresentação dos participantes. Após esse momento, estes foram convidados a manifestar uma boa prática de Enfermagem que realizam no cotidiano laboral em que estão inseridos. Posteriormente, foi realizada uma explanação teórico-conceitual sobre as boas práticas de enfermagem e prática baseada em evidências, a fim de estreitar as relações com o arcabouço teórico que sustenta o tema. No quarto e último momento, foram tecidas reflexões acerca das possibilidades e dos desafios para a implementação das boas práticas.

Resultados: os participantes elegeram diversas atividades que realizam no seu cotidiano, definindo-as como boas práticas de enfermagem. A educação em saúde foi aspecto que apareceu diversas vezes, com dois delineamentos principais: a Educação Permanente em Saúde (EPS) para os profissionais e a Educação Popular, voltada à comunidade. A EPS para os profissionais e usuários representou uma boa prática em enfermagem pois, geralmente, é desenvolvida de maneira horizontal, respeitando os saberes individuais dos sujeitos, o que significa constante atualização de conhecimentos, tanto para aquele que é mediador da atividade, como para os outros participantes da atividade. Além disso, a Educação Popular, direcionada à comunidade, foi evidenciada como um meio de fortalecer vínculos e estabelecer relações de confiança entre profissionais e usuários. Neste mesmo sentido emerge a visita domiciliar, compreendida como uma estratégia de interação entre os profissionais da equipe de saúde e com a comunidade. A visita domiciliar também foi considerada uma boa prática em função de estimular o reconhecimento do território em que o usuário reside, bem como suas condições de vida, hábitos e costumes, o que propicia a compreensão dos determinantes sociais sobre o processo de saúde doença. A consulta de enfermagem emergiu como elemento que, constantemente, legitima as boas práticas de enfermagem. As reflexões do grupo demonstraram que quando o profissional de enfermagem realiza a consulta, ele se utiliza de diversas estratégias para qualificar a atenção em saúde, além de aperfeiçoar o seu próprio método assistencial. A possibilidade de encontro entre profissional e usuário permite ao enfermeiro identificar diversas necessidades passíveis de assistência direta, além de realizar importantes orientações para prevenir doenças e promover a saúde. No contexto da consulta de enfermagem, foi salientada a relevância da realização do pré-natal pelos profissionais da enfermagem, assim como a importância de um processo de enfermagem bem delimitado, preferencialmente sistematizado a partir de sistemas de informação, a fim de garantir o registro de informações e a avaliação das práticas realizadas. Um último fator caracterizado como uma possibilidade para desenvolver boas práticas foi o exercício do cuidado guiado pela cientificidade. Esse processo, conhecido como prática baseada em evidências, traz benefícios para os usuários, pois é diminui a ocorrência de imprecisões diagnósticas e intervencionistas, e confere propriedade e legitimidade à enfermagem enquanto profissão capaz de produzir transformações positivas na vida dos indivíduos. Em relação aos desafios na realização das boas práticas de enfermagem, percebeu-se que há um abismo entre a teoria e prática que precisa ser amenizado. Grande parte dos resultados de publicações (artigos, resumos, estudos e pesquisas) que utilizaram o campo do trabalho como meio de captação de dados, não retornam aos profissionais, o que inviabiliza o feedbeck sobre as práticas laborais. Neste sentido, revelou-se a dificuldade no gerenciamento do tempo do enfermeiro. É possível perceber que este profissional possui muitas atribuições nos campos de trabalho, os quais comumente apresentam recursos humanos insuficientes, deste modo, o enfermeiro permanece “apagando incêndios” em grande parte do tempo, impedindo ou dificultando o consumo de resultados provenientes dos estudos e pesquisas. Outros empecilhos estão relacionados com a resistência do profissional às mudanças em suas práticas: “sempre fiz assim e nunca deu errada”, ausência de coparticipação dos usuários, escassez de recursos ofertados pela gestão, diferentes gerações e distintas possibilidades de acesso à informação e insuficiência de abordagem do tema durante o processo formativo (graduação) e investimentos na EPS nessa mesma direção.

Considerações finais: percebe-se que os participantes compreendem a importância da implementação das boas práticas nas ações e serviços de enfermagem. Ao mesmo tempo em que apontam possibilidades e estratégias promissoras para estimular o uso desse conjunto tecnológico, reconhecem a necessidade de superação de diversos desafios para sua concretização. A realização da oficina se mostrou relevante ao passo que possibilitou discussões e reflexões sobre a temática, o que é fundamental para o processo de significação e empoderamento dos indivíduos. Destaca-se a necessidade de dialogar sobre o tema com maior frequência, para que, num dado momento, os enfermeiros possam utilizar as boas práticas como um dispositivo inerente às atividades cotidianas, produzindo uma cultura de cuidados qualificados, voltada ao progresso das competências da profissão e qualificação da assistência à saúde, no contexto dos diversos serviços.