Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A CRIATIVIDADE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM PERANTE ESCASSEZ DE INSUMOS HOSPITALARES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Lie Tonaki, Marcela Catunda de Souza Michiles, Alessandra Cristina da Silva

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: Durante o cumprimento das aulas práticas hospitalares previstas na graduação de enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em que estabelece parcerias com os serviços de saúde pública do estado, foi possível perceber, através de observações empíricas, que no decorrer de todas as vivências existe criatividade da equipe de enfermagem ao modificar os recursos materiais disponíveis para que seja utilizado de maneira adaptativa, com uma outra finalidade, pois há escassez do material ideal. Com o objetivo de suprir carências e garantir uma mínima qualidade na assistência em saúde, reforça-se, então, que a criatividade é um instrumento básico para atuação do enfermeiro, principalmente durante a assistência. Dessa maneira, a necessidade surge a partir do contexto em que esses profissionais estão inseridos, como a precarização das condições de trabalho, evidenciado pela escassez de insumos hospitalares e déficit dos recursos humanos, que é onde a criatividade se torna imprescindível para prover meios que assegurem o oferecimento do cuidado. Assim, objetiva-se com este, relatar as adaptações e criatividades da equipe de enfermagem observadas durante as aulas práticas hospitalares perante a escassez de insumos hospitalares.

Desenvolvimento do trabalho: Mediante as dificuldades e situações problemáticas vinculados à dinâmica assistencial, identificou-se diversas adaptações e criatividades para manutenção do objetivo esperado, sendo visível a atenção, prudência e dedicação da equipe de enfermagem para com os pacientes e ao cuidado, promovendo, restaurando e estabelecendo a saúde, propiciando o conforto e o bem-estar, livre de danos. Ao longo dos anos, a assistência hospitalar tem passado por mudanças, essas afetam diretamente os profissionais da saúde que estão beira-leito, ou seja, a equipe de enfermagem. Uma vez que equipamentos, instrumentais e materiais, são ferramentas imprescindíveis para mediar o cuidado e a sua qualidade no atendimento, no entanto, esses recursos frequentemente estão se tornando insuficientes ou até inexistentes nas instituições para a finalidade em que a demanda pelo cuidado se necessita, sendo a criatividade do enfermeiro, a resolutividade de tais necessidades. Dessa maneira, trata-se de um relato de experiência, de caráter qualitativo e descritivo, acerca da criatividade da equipe de enfermagem perante escassez de insumos hospitalares, sendo baseado em experiências das aulas práticas hospitalares correspondentes do 3º ao 6º período da graduação, de 2016 a 2017, nos Serviços de Pronto Atendimento (SPA) e em Hospitais públicos especializados e prontos-socorros de Manaus - AM.

Resultados e/ou impactos: Foi possível detectar em todos os campos de estágio a necessidade de adaptação para solucionar temporariamente a carência quantitativa e qualitativa dos recursos materiais indispensáveis para assegurar a assistência em saúde. Observam-se adaptações desde procedimentos simples, à procedimentos complexos como vistos em salas de cirurgia. Foram identificados as seguintes situações: garroteamento do membro com a luva de procedimento para realização de punção venosa; utilização de toucas hospitalares em substituição das compressas de gaze abdominal para realização do banho no leito; uso de micro-ondas para aquecer fluidos quando não há o funcionamento ou ausência da chocadeira eletrospitalar; customização de coxim com ataduras para evitar lesões por pressão; utiliza-se na falta de campo fenestrado, também compressas de gaze abdominal estéril em procedimentos como passagem de sonda; já para a realização de exercícios respiratórios ao longo do dia, utiliza-se o recipiente do soro fisiológico, conectado a um equipo e uma seringa sem o êmbolo, nesta, o paciente assopra com o objetivo de visualizar a formação de bolhas de ar no líquido do soro, exercendo assim força dos pulões e músculos respiratórios; e para aquecer as extremidades, utiliza-se algodão ortopédico e atadura, principalmente de pacientes em pós-operatório imediato; foi visualizado o uso do avental descartável (capote) como cobertor para pacientes hipotérmicos; também em pacientes hipotérmicos, fazia uso de luva de procedimento preenchida com água natural, e aquecida em micro-ondas, para realização de compressa morna; na falta de biombo faz-se uma proteção visual amarrando as extremidades do lençol em suportes de soro; já na falta de sonda vesical de alívio, foi visto a utilização de  uma sonda nasogástrica para resolver o bexigoma e o desconforto a nível urinário; dentro do centro cirúrgico houve a criação de um sistema de “torneira” pois o frasco do degermante Polvidine foi conectado ao sistema de drenagem ativa de sucção, em que ao pisar na sanfona do dreno que continha ar, acontecia uma pressão positiva no sistema que promovia a saída do degermante em jato, evitando com isso, manipular o frasco com as mãos e a contaminação; foi visto o uso de luva de procedimento preenchida com ar, em formato de balão, posicionado entre a máscara de oxigênio e o tórax do paciente, para equilibrar, segurar a máscara de oxigênio em paciente intubado; e em caso de falta de lençol para a mesa de cirurgia, utilizavam o tecido que envolve a caixa de instrumentos cirúrgicos estéreis para a realização da mesma. Tais ações evidenciam que a falta de recursos não inviabiliza o cuidado prestado pela equipe de enfermagem, ao contrário, dão oportunidade para o enfermeiro aprimorar suas técnicas adaptativas a fim de minimizar os impactos dessa situação para superar as adversidades.

Considerações Finais: Em virtude dos fatos mencionados, observa-se que a escassez de recursos materiais da saúde induz o profissional de enfermagem a criatividade e a necessidade de adaptar instrumentos, para que não haja interferência em seu processo de trabalho, garantindo a dinâmica do trabalho de enfermagem adequada, sempre visando realizar a melhor assistência em que a ocasião permitir. Para a completa atuação de um profissional são necessários materiais, e a falta deles nessas situações só demostrou o comprometimento e consideração que esses enfermeiros possuem diante de sua profissão. A vontade de cuidar perpassa a falta de material e cria profissionais que, diante de tanto obstáculo, são competentes. Evidenciou-se com isso, no contexto vivido, a relevância da criatividade para o cuidar no trabalho da equipe de enfermagem, na qual as adaptações dos materiais, equipamentos e a criatividade, mostram-se como um fator positivo, estratégico, necessário, que asseguram o cuidado e possibilitam a continuidade da assistência no trabalho hospitalar, pois o potencial criativo desses trabalhadores, hoje, emerge não pelo incentivo, mas sim pela necessidade e precariedade do trabalho. As capacidades criativas devem ser exploradas também no contexto acadêmico, de maneira assertiva, pois a realidade nos mostra muitas situações que não temos controle e devemos sempre estar ciente da potencialidade que a criatividade possuí. Com isso, pode-se compreender que a criatividade é um elemento essencial na formação do enfermeiro, em que representa um instrumento básico, que proporciona a reflexão diária sobre o cuidado, estimulando o potencial criador dos envolvidos, promovendo a evolução contínua do saber-fazer em enfermagem.


Palavras-chave


Cuidados de Enfermagem; criatividade; adaptação;