Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE INDIGENA: estratégias e potencialidades na Casa de Saúde do Índio, Parintins, Am
Elaine Pires Soares, Marilene Dias Granado, Ana Tereza Pinheiro Azedo, Solane Pinto de Souza, Luene Costa Silva, Ândria Soares Tavares

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente estudo é fruto do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Saúde Coletiva com ênfase em Saúde da Família e Saúde Indígena. Tem por finalidade apresentar através de relato de experiência a Educação Permanente em Saúde (EPS) Indígena em Parintins. O objetivo deste trabalho visa demonstrar a importância de se conhecer a Saúde Indígena, a organização estrutural da atenção à saúde destinada a esta população, com enfoque para a Casa de Saúde Indígena (CASAI), as estratégias e potencialidades de Educação Permanente em Saúde desenvolvida por seus profissionais na busca pela integralidade do cuidado para a população indígena no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Parintins.

DESENVOLVIMENTO: A metodologia utilizada foi um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, cuja abordagem realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza, ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. O período avaliado compreende os anos de 2015 e 2017 (julho de 2015 à julho de 2017 especificamente). A experiência inicia-se a partir do olhar voltado para a EPS através da orientação realizada às enfermeiras, acadêmicas do Curso de Especialização em Saúde Coletiva com ênfase em Saúde da Família e Saúde Indígena, coautoras deste trabalho, visto que em janeiro de 2015 a EPS foi implantada no DSEI Parintins, e com a disseminação de informações e motivação das mesmas implantaram a EPS na CASAI. Em julho do mesmo ano foi elaborado o Plano de Ação Estratégico para os municípios de Maués, Nhamundá e Parintins e as acadêmicas inseriam ações de EPS para serem desenvolvidas pelos profissionais da saúde indígena no DSEI Parintins.

RESULTADOS: O DSEI Parintins localiza-se a leste do Estado do Amazonas na região do Baixo Amazonas e está localizada a 369 km (em linha reta) da capital Manaus, fazendo fronteira com o estado do Pará. Possui população indígena de cerca de 13.033 habitantes distribuídos nas etnias Sateré- Mawé e Hyxkaryana. Na área indígena demarcada, existem 12 (doze) Pólos Base onde as equipes multidisciplinares de saúde indígena (EMSI) atuam durante cerca de vinte dias ininterruptos com folgas de dez dias na cidade. A reserva indígena dos Sateré-Mawé possui 788.528 hectares (ha) e abrange os municípios de Barreirinha, Maués e Parintins. As terras dos Hyxkaryana possuem 1.049.520 (ha) e abrange o município de Nhamundá-Am. Estas populações recebem atendimentos prestados por Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI), e quando não tem seus problemas de saúde resolvidos nas aldeias e Pólo base, são referenciados para as Casas de Saúde do Índio (CASAI), localizadas nas sedes municipais onde passam por avaliações clinicas, investigação diagnóstica e tratamento de patologias, obedecendo ao que dispõe a legislação brasileira.  As CASAI são estruturas que não executam ações médicos-assistenciais, são locais de recepção e apoio ao índio, que vem referenciado da Aldeia/Pólo-Base. Elas têm como função agendar os serviços especializados requeridos, acompanhar os pacientes para consultas, exames subsidiários e internações hospitalares; fazer a contra referência com a rede do SUS e os Distritos Sanitários, prestar assistência de enfermagem e continuar o tratamento após alta hospitalar e em fase de recuperação até que o índio tenha condições de voltar para a aldeia, dar suporte a exames e tratamento especializados, fazer serviço de tradução para os que não falam Português e viabilizar seu retorno à aldeia, em articulação contínua com o DSEI. A Casa de Saúde Indígena de Parintins (CASAI/Pin) fundada no ano de 2001 localiza-se à Rua Francisco Augusto Belém, nº. 64, bairro de Santa Clara. É uma unidade de caráter distrital, adstrita a Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI/MS, voltada para a promoção de saúde e prevenção de doenças dos povos indígenas aldeados das etnias Sateré-Mawé e Hyxkaryana para receber atendimento de média e alta complexidade junto à rede do Sistema Único de Saúde. Recebe, aloja e disponibiliza alimentação aos pacientes encaminhados e acompanhantes, presta assistência de enfermagem 24 horas por dia, marca consultas, exames complementares e internações hospitalares, providencia o acompanhamento dos pacientes nessas ocasiões e o seu retorno às comunidades de origem, acompanhados das informações sobre o caso. Também promovem atividades de educação em saúde, produção artesanal, lazer e demais atividades para os acompanhantes e mesmo para os pacientes em condições para o exercício dessas atividades. Na CASAI Parintins a EMSI responsável pela assistência é constituída por: 01 gestor, 05 enfermeiros, 02 assistentes sociais, 01 nutricionista, 01 técnico administrativo, 08 técnicos de enfermagem, 01 auxiliar de enfermagem, 04 atendentes de enfermagem,02 intérpretes, 06 motoristas, 03 auxiliar de serviços gerais e 04 vigilantes. Dentre essa organização, no que tange as ações de EPS  estratégias e suas potencialidades, as enfermeiras acadêmicas referem que as ações são contínuas, com desenvolvimento mensal envolvendo várias atividades como rodas de conversa, exposição oral dialogada com a utilização de recursos áudio visuais (notebook e retroprojetor), utilização de panfletos, oficinas pedagógicas, de artesanato, biojóias, crochê e pintura, sessão de cinema e danças tradicionais, visando a integração da equipe com os pacientes e acompanhantes, evidenciando o ensino-aprendizagem. Outro aspecto a se considerar trata-se da orientação aos clientes indígenas a respeito do regimento interno da CASAI, a importância da documentação, dever do acompanhante, materiais de higiene corporal e utensílios importantes, normas e rotinas da instituição, cardápio semanal e os casos em especial (hipertensos, diabéticos) e outros, são também colocados nas rodas de conversas, colocando – se em evidencia a escuta qualificada, levando em consideração as dúvidas dos indígenas, com isso proporcionando uma boa aceitação por parte dos mesmos. Neste sentido, percebe-se que a roda de conversa se apresenta como uma das estratégias fortalecedoras do processo do autocuidado. Participam das atividades, a EMSI, pacientes e acompanhantes em tratamento nas CASAI de Parintins. Visualiza-se que a EPS nesta casa de apoio fortaleceu vínculos da equipe com os pacientes, potencializou a produção do cuidado integral e aproximou o conhecimento dos trabalhadores ao saber tradicional em saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este trabalho busca uma reflexão crítica e coletiva para a educação permanente em saúde sob o aspecto de sua utilização como uma ferramenta importante para a transformação das práticas. A educação permanente em saúde tem como proposta propiciar às pessoas que articulam a mudança um conhecimento mais profundo sobre os processos, oportunidades de trocar experiências, de discutir e de construir coletivamente.  A estratégia oportuniza um ambiente mais favorável, mas a mudança concreta se constrói em cada espaço envolvido com a saúde. A potência da proposta está em construir políticas locais e processos de mudança em espaços concretos e propícios para a transformação. É neste sentido que são desenvolvidas as atividades na CASAI Parintins, a integração, a aproximação, a roda são subsídios para o descontruir para construir, para o aprender a desaprender e reaprender  da equipe e a população indígena, visualizando no horizonte à integralidade da atenção à saúde, eixo norteador da proposta de educação permanente em saúde porque direciona o trabalho em saúde para um trabalho transdisciplinar e multiprofissional, processo que fortalece a produção do cuidado.

 


Palavras-chave


Saúde indigena; educacao permanente; DSEI Parintins