Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-25
Resumo
APRESENTAÇÃO: O presente estudo é fruto do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Saúde Coletiva com ênfase em Saúde da Família e Saúde Indígena. Tem por finalidade apresentar através de relato de experiência a Educação Permanente em Saúde (EPS) Indígena em Parintins. O objetivo deste trabalho visa demonstrar a importância de se conhecer a Saúde Indígena, a organização estrutural da atenção à saúde destinada a esta população, com enfoque para a Casa de Saúde Indígena (CASAI), as estratégias e potencialidades de Educação Permanente em Saúde desenvolvida por seus profissionais na busca pela integralidade do cuidado para a população indígena no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Parintins.
DESENVOLVIMENTO: A metodologia utilizada foi um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, cuja abordagem realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza, ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. O período avaliado compreende os anos de 2015 e 2017 (julho de 2015 à julho de 2017 especificamente). A experiência inicia-se a partir do olhar voltado para a EPS através da orientação realizada às enfermeiras, acadêmicas do Curso de Especialização em Saúde Coletiva com ênfase em Saúde da Família e Saúde Indígena, coautoras deste trabalho, visto que em janeiro de 2015 a EPS foi implantada no DSEI Parintins, e com a disseminação de informações e motivação das mesmas implantaram a EPS na CASAI. Em julho do mesmo ano foi elaborado o Plano de Ação Estratégico para os municípios de Maués, Nhamundá e Parintins e as acadêmicas inseriam ações de EPS para serem desenvolvidas pelos profissionais da saúde indígena no DSEI Parintins.
RESULTADOS: O DSEI Parintins localiza-se a leste do Estado do Amazonas na região do Baixo Amazonas e está localizada a 369 km (em linha reta) da capital Manaus, fazendo fronteira com o estado do Pará. Possui população indígena de cerca de 13.033 habitantes distribuídos nas etnias Sateré- Mawé e Hyxkaryana. Na área indígena demarcada, existem 12 (doze) Pólos Base onde as equipes multidisciplinares de saúde indígena (EMSI) atuam durante cerca de vinte dias ininterruptos com folgas de dez dias na cidade. A reserva indígena dos Sateré-Mawé possui 788.528 hectares (ha) e abrange os municípios de Barreirinha, Maués e Parintins. As terras dos Hyxkaryana possuem 1.049.520 (ha) e abrange o município de Nhamundá-Am. Estas populações recebem atendimentos prestados por Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI), e quando não tem seus problemas de saúde resolvidos nas aldeias e Pólo base, são referenciados para as Casas de Saúde do Índio (CASAI), localizadas nas sedes municipais onde passam por avaliações clinicas, investigação diagnóstica e tratamento de patologias, obedecendo ao que dispõe a legislação brasileira. As CASAI são estruturas que não executam ações médicos-assistenciais, são locais de recepção e apoio ao índio, que vem referenciado da Aldeia/Pólo-Base. Elas têm como função agendar os serviços especializados requeridos, acompanhar os pacientes para consultas, exames subsidiários e internações hospitalares; fazer a contra referência com a rede do SUS e os Distritos Sanitários, prestar assistência de enfermagem e continuar o tratamento após alta hospitalar e em fase de recuperação até que o índio tenha condições de voltar para a aldeia, dar suporte a exames e tratamento especializados, fazer serviço de tradução para os que não falam Português e viabilizar seu retorno à aldeia, em articulação contínua com o DSEI. A Casa de Saúde Indígena de Parintins (CASAI/Pin) fundada no ano de 2001 localiza-se à Rua Francisco Augusto Belém, nº. 64, bairro de Santa Clara. É uma unidade de caráter distrital, adstrita a Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI/MS, voltada para a promoção de saúde e prevenção de doenças dos povos indígenas aldeados das etnias Sateré-Mawé e Hyxkaryana para receber atendimento de média e alta complexidade junto à rede do Sistema Único de Saúde. Recebe, aloja e disponibiliza alimentação aos pacientes encaminhados e acompanhantes, presta assistência de enfermagem 24 horas por dia, marca consultas, exames complementares e internações hospitalares, providencia o acompanhamento dos pacientes nessas ocasiões e o seu retorno às comunidades de origem, acompanhados das informações sobre o caso. Também promovem atividades de educação em saúde, produção artesanal, lazer e demais atividades para os acompanhantes e mesmo para os pacientes em condições para o exercício dessas atividades. Na CASAI Parintins a EMSI responsável pela assistência é constituída por: 01 gestor, 05 enfermeiros, 02 assistentes sociais, 01 nutricionista, 01 técnico administrativo, 08 técnicos de enfermagem, 01 auxiliar de enfermagem, 04 atendentes de enfermagem,02 intérpretes, 06 motoristas, 03 auxiliar de serviços gerais e 04 vigilantes. Dentre essa organização, no que tange as ações de EPS estratégias e suas potencialidades, as enfermeiras acadêmicas referem que as ações são contínuas, com desenvolvimento mensal envolvendo várias atividades como rodas de conversa, exposição oral dialogada com a utilização de recursos áudio visuais (notebook e retroprojetor), utilização de panfletos, oficinas pedagógicas, de artesanato, biojóias, crochê e pintura, sessão de cinema e danças tradicionais, visando a integração da equipe com os pacientes e acompanhantes, evidenciando o ensino-aprendizagem. Outro aspecto a se considerar trata-se da orientação aos clientes indígenas a respeito do regimento interno da CASAI, a importância da documentação, dever do acompanhante, materiais de higiene corporal e utensílios importantes, normas e rotinas da instituição, cardápio semanal e os casos em especial (hipertensos, diabéticos) e outros, são também colocados nas rodas de conversas, colocando – se em evidencia a escuta qualificada, levando em consideração as dúvidas dos indígenas, com isso proporcionando uma boa aceitação por parte dos mesmos. Neste sentido, percebe-se que a roda de conversa se apresenta como uma das estratégias fortalecedoras do processo do autocuidado. Participam das atividades, a EMSI, pacientes e acompanhantes em tratamento nas CASAI de Parintins. Visualiza-se que a EPS nesta casa de apoio fortaleceu vínculos da equipe com os pacientes, potencializou a produção do cuidado integral e aproximou o conhecimento dos trabalhadores ao saber tradicional em saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este trabalho busca uma reflexão crítica e coletiva para a educação permanente em saúde sob o aspecto de sua utilização como uma ferramenta importante para a transformação das práticas. A educação permanente em saúde tem como proposta propiciar às pessoas que articulam a mudança um conhecimento mais profundo sobre os processos, oportunidades de trocar experiências, de discutir e de construir coletivamente. A estratégia oportuniza um ambiente mais favorável, mas a mudança concreta se constrói em cada espaço envolvido com a saúde. A potência da proposta está em construir políticas locais e processos de mudança em espaços concretos e propícios para a transformação. É neste sentido que são desenvolvidas as atividades na CASAI Parintins, a integração, a aproximação, a roda são subsídios para o descontruir para construir, para o aprender a desaprender e reaprender da equipe e a população indígena, visualizando no horizonte à integralidade da atenção à saúde, eixo norteador da proposta de educação permanente em saúde porque direciona o trabalho em saúde para um trabalho transdisciplinar e multiprofissional, processo que fortalece a produção do cuidado.