Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DIÁLOGOS SOBRE MORTE NA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Ester Alves de Oliveira, Beatriz Graça de Araujo, Lowisa Consentini Garcia, Camila Soares Santos, Marcos Lima do Nascimento, Paulo Philip de Abreu Gonzaga, Iracema da Silva Nogueira, Victor Nei Vasconcelos Monteiro

Última alteração: 2017-12-18

Resumo


INTRODUÇÃO: Falar sobre a morte não é uma tarefa fácil, tais palavras acionam mecanismos cerebrais que afloram nossas referências de vida. Aceitar o fato de que nossa existência, assim como a das pessoas que amamos, tem um “prazo de validade” desconhecido é árduo, e esse medo do desconhecido torna a morte uma questão difícil de ser discutida, enfrentada e pesquisada. A morte em si significa a interrupção definitiva da vida de um organismo, porém, pode ter outros significados de acordo com cada pessoa, cultura, e outros fatores, modificando assim a forma como cada indivíduo lida com esse processo. A morte e o morrer são mais que eventos simplesmente biológicos, eles possuem dimensões sociais, psicológicas, físicas, culturais, antropológicas, pedagógicas, religiosas/espirituais e sobre eles recaem inúmeros sentidos, ritos e crenças. A Tanatologia é a ciência ou estudo da morte em seus aspectos psicológicos e sociais, que busca também entender o processo de luto, não enfocando seu estudo apenas na complexidade da morte, mas também nos desdobramentos desta, no que diz respeito às perdas e como as pessoas lidam com as mesmas. O morrer no âmbito hospitalar desafia os profissionais de saúde a lidarem com todo o cenário e as pessoas envolvidas, cabendo a eles a responsabilidade de manter o controle da situação. Ao ingressar na Universidade, os acadêmicos da área da saúde são surpreendidos com a naturalidade com que a morte e o processo de morrer são abordados durante a vivência acadêmica. No decorrer desse processo de formação de profissionais de saúde, muito se fala sobre morte, porém, a abordagem é quase sempre voltada para o aspecto de evitá-la, dispondo de métodos científicos e condutas que previnam esse evento. Contudo, há situações em que a morte não pode ser evitada, muito menos prevenida, haja vista que se trata de um processo natural. Todavia, a crescente institucionalização da morte, associada à baixa relevância conferida ao estudo da mesma nos cursos de graduação da área de saúde, levanta a seguinte questão: estariam os futuros profissionais de saúde preparados para conviver com os pacientes à beira da morte, compreendê-los e prestar-lhes a melhor assistência? A partir dessas colocações, questiona-se ainda, como o profissional de saúde lidará com esses eventos se durante a formação acadêmica não foi enfatizado o que fazer quando a morte não pode ser evitada? Vale ressaltar que a assistência não termina após o óbito, é neste âmbito que se destaca a importância do diálogo sobre morte/morrer durante o processo de formação dos profissionais de saúde, pois há necessidade de inserção de mais diálogos sobre a temática durante a formação acadêmica, a fim de formar profissionais aptos e capacitados para lidar com essa realidade, garantindo uma assistência de qualidade e melhor enfrentamento por parte do profissional. OBJETIVO: Relatar a experiência vivenciada por acadêmicos da área da saúde que cursaram a disciplina Tanatologia. METODOLOGIA: Trata-se de relato de experiência produzido a partir da vivência na disciplina optativa Tanatologia, ofertada durante o ano de 2016 no período de agosto a dezembro, aos alunos dos cursos de Enfermagem, Odontologia e Medicina, da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A disciplina abordou os seguintes temas: construção história do processo de morte e morrer; principais teorias psicológicas sobre a morte/morrer; cuidados paliativos; comunicação de notícias difíceis com base no protocolo Spikes, visando melhorar a tarefa de transmiti-las; humanização das práticas de cuidado e os ritos; formas de morrer; suicídio e comportamento suicida. A disciplina buscou desenvolver nos discentes habilidades e competências para interpretar concepções de vida e morte presentes na assistência em saúde contemporânea, bem como problematizar serviços oferecidos e construir novas formas de atuação. Foram utilizadas metodologias ativas, destacando-se problematizações, mesas redondas, rodas de conversa, exposição de fotos e opiniões diante do tema, aulas de campo/visita ao cemitério, relato de vivências, encenação/aula vivencial sobre ritos e expressão obrigatória dos sentimentos, quando foi realizado um teatro pelos alunos no qual cada grupo era responsável por representar uma cultura, a fim de conscientizar os alunos diante das diferenças de significados do processo morte/morrer de acordo com as peculiaridades culturais, sociais e religiosas, além de aulas expositivas dialogadas. Dentre as estratégias de ensino foram utilizados recursos como: projetor de imagem, notebook, vídeos, documentários e filmes, como por exemplo o documentário ‘The bridge’ (“A ponte”), seguido de debate, com intuito de favorecer didaticamente o aprendizado dos alunos. RESULTADOS: No decorrer da disciplina, o processo de morte/morrer foi abordado em suas diversas dimensões, proporcionando experiências únicas aos alunos. Contudo, por ser uma disciplina optativa, ou seja, não estar inclusa na matriz curricular, a adesão não foi significativamente grande, apesar de se tratar de uma temática de relevância e importância para os futuros profissionais da área da saúde. Os temas abordados na disciplina ampliaram o olhar dos discentes sobre o processo de morte/morrer, pois, incialmente, era notório o desconhecimento acerca do conteúdo, devido a morte ser considerada um tabu tanto no ambiente acadêmico quanto na sociedade em geral. Inicialmente, havia temor em relação ao tema por parte dos estudantes, aliado ao primeiro contato com o diálogo direto sobre morte. Porém, ao longo da disciplina foi perceptível o impacto e a aceitação após o conhecimento do que realmente se tratava, observando-se grande interesse por parte dos discentes, através da ativa participação durante as aulas, especialmente, nas aulas em que as metodologias ativas eram implementadas. A partir de então, os alunos demonstraram compreender a importância de se conversar sobre morte em todas as esferas sociais, perceberam que a morte e o luto podem ser enfrentados de diferentes formas as quais devem ser levadas em consideração durante o processo de cuidar; a importância de um diálogo adequado na comunicação de notícias difíceis, direcionando a atuação dos discentes frente a essa necessidade, respeitando os aspectos biopsicossociais e espirituais de cada cliente e seus familiares; despertaram sobre a necessidade de humanização da assistência em casos de tentativa de suicídio e situações relacionadas, sendo instigados a repensar o tabu construído pela sociedade referente ao tema. Os conteúdos abordados e as atividades acadêmicas desenvolvidas no decorrer da disciplina Tanatologia, contribuíram para a desmistificação da visão da morte como algo sombrio e sempre negativo. CONCLUSÃO: Salienta-se a importância da necessidade de ampliar a discussão da temática tanto em sala de aula quanto em campo de estágio, pois, durante a formação acadêmica, a ênfase recai sobre os procedimentos técnicos e o cuidado do corpo físico, deixando uma lacuna no que diz respeito ao cuidado psicossocial e a terminalidade da vida. Não restam dúvidas de que a experiência vivenciada na disciplina ampliou o olhar dos futuros profissionais da saúde sobre a temática, conferindo mais confiança para dialogar tanto com os clientes quanto com seus familiares, pois a morte é algo que sempre estará presente no cotidiano pessoal e profissional. Portanto, é preciso que o processo de formação desses profissionais facilite o enfrentamento, buscando estratégias de ensino e aprendizagem para amenizar sentimentos de medo, impotência, insegurança, através da implementação de disciplinas tal como esta, que aborda assuntos relacionados ao processo de morte e morrer, visando promover o preparo do futuro profissional de saúde, ainda na graduação, para assegurar uma assistência qualificada e profissionais com visão holística em relação ao ser humano.


Palavras-chave


morte; morrer; tanatologia; enfrentamento