Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA: RELATO DE UMA PROPOSTA DE ATUAÇÃO
Telma Eliane Garcia

Última alteração: 2017-12-29

Resumo


APRESENTAÇÃO: O campo de conhecimento que abrange a ‘saúde mental’ é prioritariamente uma área de atuação técnica no âmbito das políticas públicas de saúde em um espectro polissêmico que entrecruzam saberes e que vem transformando a relação entre a sociedade e o portador de sofrimento mental. A partir da introdução dos serviços assistenciais no modelo de Atenção Psicossocial, novos dispositivos de intervenção aproximam a assistência profissional da comunidade em seus locais de pertença e moradia e vem paulatinamente qualificando o cuidado terapêutico. Nesse sentido, o Caderno de Atenção Básica (n.34- Saúde Mental) sugere a organização de serviços abertos, utilizando dispositivos coletivos com a participação ativa dos usuários e formando redes de apoio com outras políticas públicas. Sendo assim, justifica-se uma proposta que corrobore no alicerce de processos formativos e de discussão entre acadêmicos, docentes e profissionais, na busca de aprimoramento de competências no cuidado em saúde mental em sua prática diária. O curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pará, dentro de sua proposta pedagógica, se propõe a trabalhar na perspectiva de inter-relação: ensino, pesquisa e extensão, contribuindo assim de tal modo, que suas intervenções sejam capazes de fortalecer o cuidado integral aos portadores de sofrimento mental. O desafio de inserção nos circuitos de trocas entre os sujeitos em sua singularidade sociocultural, modela as intervenções a partir do próprio território, conduzindo os profissionais a uma escuta qualificada e a elaborar intervenções que considerem as especificidades loco regionais. Nessa perspectiva, o acolhimento é uma ferramenta que abre espaço para o exercício do usuário narrar seus sofrimentos podendo ouvir a si mesmo e ser ouvido por um profissional atento, funcionando como um dispositivo facilitador na formação de vínculos e abrindo possibilidades de novos olhares ao significado do sofrimento mental. Buscando ampliar os momentos de reflexão e trocas de apoio terapêutico, profissionais e usuários devem desenvolver estratégias para compartilhar e construir juntos o cuidado em saúde mental. Nesse sentido os recursos coletivos oferecem suporte aos usuários e uma rede de apoio por meio dos grupos terapêuticos e oficinas operacionais, que favorecem o alívio dos sintomas, o restabelecimento do equilíbrio psicoemocional, bem como amplia o nível de autoconhecimento e contribui para melhora nas relações interpessoais. Tendo como parâmetro essas abordagens, a Faculdade de Enfermagem da UFPA, representada em um projeto de Extensão com a Liga Acadêmica de Saúde Mental, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Belém/Pará viabilizaram uma proposta de atuação na Atenção Básica em uma das Unidades Básicas (Bairro Jurunas), com a finalidade de fortalecer o acolhimento e possibilitar a formação de grupos de apoio terapêutico, compreendendo que o processo grupal enquanto tecnologia de cuidado complexa e diversificada, oferece rica troca de experiências e transformações subjetivas que não seria alcançável em um atendimento de tipo individualizado. O objetivo desse trabalho é relatar as vivências dessa atividade de extensão, com a finalidade de compartilhar tentames e enriquecer as trocas no aprendizado de procedimentos e práticas assistenciais. Desenvolvimento do trabalho: O projeto efetivou-se inicialmente com a cooperação da equipe de trabalho na Unidade Básica e a docente da atividade curricular em Saúde Mental e Psiquiatria que juntamente construíram uma ficha de acolhimento para auxiliar nos registros básicos de cada usuário. Os acolhimentos passaram a ser compartilhados entre a equipe de trabalho e a professora e seus alunos em dias agendados. A partir dessa primeira escuta, os usuários foram convidados a participar de um grupo de apoio terapêutico e oficinas terapêuticas que ocorreram uma vez na semana, em uma sala emprestada de uma igreja do bairro, em virtude de não haver espaço na Unidade para esta ação. As reuniões do grupo de apoio terapêutico desenvolveram-se frequentemente observando cinco fases propostas pela docente: 1-abertura ou quebra gelo;2-levantamento de questões ou introdução de um tema;3- discussão das questões ou do tema; 4- fechamento da discussão;6- dinâmica de encerramento do encontro. Tendo sempre a professora como facilitadora do grupo os temas abordados foram preferencialmente reflexivos, como: compartilhando dificuldades, conflitos na família; perdas; o que eu gostaria de mudar em mim, dependência e independência, entre outros. As oficinas terapêuticas foram planejadas e efetivadas em sua maioria pelos alunos, utilizando oficinas de recorte e colagem, pintura, jogos de mesa, dança, entre outras atividades expressivas. Essas focalizaram temáticas lúdicas e de descontração como: recordando a alegria; brincando com cores e desenhos da infância; dançando na festa Junina; construindo meu futuro; dinâmicas com elogios para autoestima e assim por diante. Os encontros semanais alternavam atividades de grupo terapêutico com as oficinas expressivas em que os alunos se revezavam em várias equipes enquanto que os usuários e a docente se mantinham com regularidade a cada semana. Resultados e/ou impactos :Os acolhimentos passaram a ser registrados e potencializados com uma escuta qualificada que favoreceu os direcionamentos e encaminhamentos para cada caso e facilitou o início da formação de vínculos entre os profissionais, acadêmicos e usuários. Nos primeiros dois meses a frequência dos usuários nos grupos não mantinha regularidade, e alguns apenas compareciam em um encontro e não aderiam o grupo. Com a continuidade e lembretes telefônicos os usuários passaram a participar com regularidade. Nas reuniões de grupo as discussões eram baseadas nas opiniões e sugestões que emergiam do próprio grupo, favorecendo assim a contextualização do sofrimento de cada um à realidade comum a todos, bem como a interação relacional. Nas oficinas a utilização de formas diversas de expressividade e de produção provocava troca de reconhecimento das habilidades por meio de elogios que facilitavam o apoderamento da autoestima de alguns, bem como o fortalecimento da consciência de “ser capaz” que auxiliava no resgate da autonomia de outros. Com o prosseguimento das atividades os usuários começaram a referir os benefícios percebidos na diminuição e espaçamento de alguns sintomas, na consciência de reações e emoções que os levavam a tomar decisões na busca de modificar atitudes em seus hábitos e relacionamentos. Considerações finais: Ao se assumir uma postura capaz de acolher, escutar e compactuar respostas mais adequadas aos usuários, os profissionais e acadêmicos adquiriram mais segurança para atuar, compreendendo que as posturas não devem ser hierarquicamente prescritivas,   mas em simples horizontalidade oferecendo apoio e estimulo à autonomia. Entendendo o espaço grupal como uma tecnologia que dá ênfase ao modo como as pessoas por meio de práticas discursivas constroem sentidos do mundo e de si mesmas, percebeu-se que as incorporações dessas novas ferramentas abrem espaços produtores de saúde gerando um impacto nos determinantes e condicionantes da saúde mental nos sujeitos. Conclui-se que a Saúde Mental na Atenção Básica converge para a construção de um novo modelo dinâmico, não reducionista e que orientam novas formas de prática em saúde.

Palavras-chave


Saúde Mental; Atenção Básica; Cuidado