Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DIÁLOGOS ACERCA DO ACESSO À SAÚDE NAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS DA AMAZÔNIA
Fabiana Mânica Martins, Kátia Helena Schweickardt, Kátia Helena Schweickardt, Júlio César Schweickardt, Júlio César Schweickardt

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


APRESENTAÇÃO: Trata-se de um trabalho de pesquisa de doutorado, em andamento, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia- PPGCASA/UFAM, cujo objetivo é analisar a implantação da política de UBSF na relação ao acesso das comunidades ribeirinhas aos serviços de saúde no Estado do Amazonas. Acredita-se que as condições de acesso das comunidades ribeirinhas aos serviços de saúde ocorrem em espaços complexos na Amazônia, neste território as Unidades Básicas Fluviais (UBSF) têm diminuído as iniquidades no cuidado à saúde.

O estudo está em fase inicial, mas gostaríamos de compartilhar a experiência do processo de pesquisa, nesse sentido partimos do posicionamento político de Boaventura Sousa Santos (2007), quando afirma que é necessário promover a sociologia e epistemologia das ausências, no movimento de valorizar e promover a presença daqueles objetos e sujeitos que foram invisibilizados na produção do conhecimento científico hegemônico. Entendemos que essa postura teórico-política implica em dizer que há conhecimentos reconhecidos como verdades e possuem autoridade no mundo do cuidado. Temos o desafio de buscar uma prática científica que cria solidariedade tanto da sociedade quanto da natureza. O estudo terá como fundamentação quatro pilares: faremos uma produção acerca da das políticas públicas de saúde; no momento adentraremos no conceito de comunidade, em específico as comunidades ribeirinhas; no terceiro momento discorreremos sobre o conceito de Espaço, Sustentabilidade, Ambiente e Território Vivo e Líquido; e, por fim trataremos do Cuidado à saúde no campo da Saúde Coletiva a complexidade de produção de saúde neste território líquido numa Unidade Básica de Saúde Fluvial.

DESENVOLVIMENTO/METODOLOGIA: Contextualizando brevemente nosso objeto de estudo, a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é implantada e implementada em todo país em 2006 e, para a região da Amazônia e Pantanal somente em 2011 (na segunda edição da PNAB) recebe um olhar diferenciado na perspectiva do cuidado com as Unidades Básicas Fluviais (UBSF) e Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas (eSFR). Consideramos que essa conquista se deve por reinvindicações do Norte do País (o primeiro projeto nasceu em Borba/AM e tem se espalhado nos demais estados). Entretanto ainda não se tem um instrumento de avaliação dessa política para as comunidades ribeirinhas, que avalie o custo, as ações/trabalho da equipe, continuidade das ações, efetividade da própria política. Mais do que isso, ainda não temos visibilidade no país e no mundo dessa prática de cuidar específica na Amazônia.

Nesse sentido, adotamos o conceito de ‘pesquisador in-mundo’, segundo Gomes e Merhy (2014), não para se distanciar metodologicamente, mas para se inmundizar na produção do conhecimento, mergulhar com aqueles que aparentemente poderiam ser objetos passivos do conhecimento ou que não teriam conhecimento válido e legítimo. Segundo Graciano e Magro: “Toda teoria, científica ou não, também tem pressupostos e implicações éticas, ainda que a cultura ocidental insista na neutralidade das reflexões acadêmicas. Dizer-se neutro é só uma maneira de se isentar da responsabilidade do mundo que configuramos em nosso viver na linguagem com outros seres humanos” (GRACIANO; MAGRO, 2002, p. 17). Por isso, o pesquisador in-mundo pressupõe o convite para o outro com todas as implicações epistêmicas que isso significa.

Segundo Maturana (2002), a percepção não precisa de uma explicação ou formulação da experiência, seja objetiva ou subjetiva, para se constituir num saber com estatuto de verdade. A explicação é sempre uma reformulação da experiência, sendo aceita pelo observador ou pela comunidade de observadores através de critérios de validação. Graciano e Magro apresentando a obra de Maturana dizem que: “Enquanto observadores, somos seres humanos vivendo na linguagem e enquanto seres humanos, somos seres vivos. Por isso, ele [Maturana] afirma que, para compreendermos o fazer científico, é necessário antes de tudo compreendermos o observar e com ele o viver” (2002, p. 20). Portanto, o conhecer não pode estar dissociado do viver, pois é na vida que nos colocamos como sujeitos sociais. “A validade da ciência está em sua conexão com a vida cotidiana” (MATURANA, 2001, p. 31). O cotidiano se constitui em saber, que tem práticas e pensamentos que organizam a lógica da vida e produzem vida.

Outra dimensão importante na lógica de conhecer é que os que observam também são observados, relativizando o pressuposto de um observador privilegiado que faz os juízos corretos da realidade para se transformar também em objeto-sujeito de observação. No encontro de diferentes, surge a riqueza da produção de conhecimentos múltiplos que vão para além do metodologicamente instituído a priori e guiado pelo caminho “verdadeiro” da razão científica. O encontro dos saberes se faz na possibilidade de troca e de convívio, considerando o outro como efetivamente sabedor das coisas e não simplesmente como um informante de coisas para um eu-que-sabe. Por isso, consideramos que os encontros produzidos na pesquisa são potentes na produção de um conhecimento significativo.

Utilizaremos o registro através do uso do Diário cartográfico, proposto por Mehry (2014), que não se trata do método da investigação, de interpretar uma realidade como se tivesse um sentido em si mesma a ser desvelada, mas uma criação singular de sentidos para a realidade vivida e experienciada. O diário contribuiu no processo de construção do trabalho na perspectiva do encontro, captando as afecções neles produzidas. É uma possibilidade de produção de visibilidades e dizibilidades para os acontecimentos e afecções que se estabeleciam na produção da vida, dos afetos e das práticas nos territórios. Queremos trazer para a cena a comunidade e o conceito das redes vivas, proposto por Mehry (2014), que aborda para as potencialidades na comunidade na produção do cuidado. Do mesmo modo aprofundaremos o conceito de comunidade tradicional e sustentabilidade regional para a análise, bem como o conceito de territórios vivos e líquidos proposto por Schweickardt (2016), logo dialogaremos com o autor para falar de um lugar específico da Amazônia. Análise será feita no MAXQDA*, é possível a criação de mapas analíticos, análises quanti dos indicadores.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Queremos neste trabalho, produzir algumas respostas e/ou diálogos acerca da: descrição dos desafios relacionados ao acesso na atenção Básica na Amazônia, bem como produzir um mapeamento dos territórios e ambientes socioambientais das comunidades ribeirinhas atendidas pelas UBSFs; Trazer para a cena uma análise dos indicadores de saúde nas comunidades atendidas pela UBSF e, a partir de um estudo de caso, a produção de saúde na comunidade e sua relação com a política pública de saúde. O processo de levantamento teórico (em andamento) acerca das categorias de análise: conhecimento tradicional, populações da floresta, saúde, políticas públicas, sustentabilidade tem produzido inúmeras indagações acerca do objeto de tese. Entretanto, acreditamos que tem extrema relevância na produção do conhecimento para a área das Ciências da Saúde do Ambiente e Sustentabilidade. Vislumbramos como resultados a proposição de políticas públicas, instrumentos de avaliação, ferramentas ou tecnologias que contribuam na e para a Amazônia.

Palavras-chave


Atenção Básica; Trabalho; Acesso à Saúde; Comunidades Ribeirinhas