Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E GESTÃO DO CUIDADO: ATENÇÃO COMPARTILHADA EM GRUPO DE PESSOAS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E DIABETES MELLITUS EM UM CENTRO DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE SOBRAL-CE.
Luisa Vilas Boas Cardoso, Antônio Cleilson Nobre Bandeira, Francisca Isaelly dos Santos Dias, Lílian Maria Vasconcelos, Vírnia Ponte Alcântara, Noraney Alves Lima, Mary Jane Linhares

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: Atualmente o Sistema de Saúde do Brasil vive uma crise decorrente da falta de coerência entre a situação de saúde da população e a capacidade do sistema de se adaptar as mudanças. Isto quer dizer que o sistema vigente ainda atua na lógica organizativa de assistência a um perfil epidemiológico do século passado, com foco nas condições agudas. A realidade é que na contemporaneidade há uma transição epidemiológica e demográfica em que o perfil de saúde se modifica e além das condições agudas, surgem em maior escala as condições crônicas.  Isto tenciona o sistema de saúde a se reorganizar para atender a necessidade da atual situação de saúde, segundo o perfil demográfico e epidemiológico da população brasileira. Para alcançar a coerência com a atual situação de saúde da população, tornou-se necessário rever e atualizar o modelo de atenção do sistema de saúde. O Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC), leva em consideração os fatores de risco, o estilo de vida, os fatores condicionantes e determinantes e sua importância na produção de condições de saúde e na mudança de comportamentos. Nessa perspectiva, entende-se que a utilização de tecnologias leves é uma estratégia para a efetivação do trabalho multiprofissional e a reafirmação da clínica ampliada na atenção à saúde de pessoas que apresentam condições crônicas na Estratégia de Saúde da Família. Entre estas tecnologias, está a Atenção Compartilhada em Grupo (ACG), caracterizada pela atenção coletiva multiprofissional e interdisciplinar aos cidadãos que, preferencialmente, vivenciam condições crônicas de saúde estáveis e estratificação de riscos semelhantes. O uso desta tecnologia justifica-se por sua capacidade em prover uma atenção adequada à multifatoriedade e à cronicidade das condições abordadas, evitando assim a fragmentação do cuidado. Dentre as condições crônicas de maior prevalência e gravidade, destacam-se a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM). De acordo com os dados do Ministério da Saúde, atingem, respectivamente, 23,3% e 6,3% dos adultos brasileiros. No país, elas representam a primeira causa de mortalidade e de hospitalizações, sendo apontadas como responsáveis por mais da metade dos diagnósticos primários de insuficiência renal crônica, em pessoas submetidas à dialise no Sistema Único de Saúde (SUS). Sendo assim, este trabalho teve como objetivo promover a reorganização do processo de trabalho para o cuidado da pessoa com HAS e DM, no Centro de Saúde da Família (CSF) Maria Eglatine Ponte Guimarães, do bairro Dom Expedito, situado no município de Sobral, Ceará. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência sobre a reorganização do cuidado da pessoa com HAS e DM, realizado pela equipe de residência multiprofissional (residentes e tutoria) em conjunto com a gerência, profissionais da equipe básica de saúde (enfermeiras, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde) e dos profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (nutricionista, profissionais de educação física, terapeuta ocupacional, psicóloga e farmacêutica). Para tal, contou com o método da ACG adotando o seguinte fluxo de cuidado: 1) Avaliação de prontuários dos usuários por microárea de Agente Comunitário de Saúde, para estratificação de risco; 2) Planejamento participativo para organização de ambiência, materiais didáticos, insumos e recursos humanos para a atividade de ACG; 3) Pactuação e distribuição das tarefas e responsabilidades de cada profissional de saúde, de acordo com o perfil dos usuários 4) Seleção dos cidadãos a serem convidados por área de ACS, considerando a necessidade de avaliação periódica para conhecimento; 5) Convite aos usuários pela ACS, visando a mobilização de um grupo de até 15 cidadãos; 6) Acolhimento dos usuários por ACS e apresentação dos cidadãos, da equipe, dos objetivos e metodologia do funcionamento; 7) Aferição e registro dos dados vitais e medidas antropométricas dos cidadãos acompanhados; 8) Abordagem educativa para partilha de dúvidas, saberes e vivências prévios e identificação das necessidades de aprendizagem e cuidados; 9) Realização dos cuidados e encaminhamentos, de acordo com as necessidades de atendimentos e agendamentos; 10) Registro dos atendimentos em prontuário individual e formulários específicos; 11) Oferta da consulta individual aos cidadãos priorizados para o atendimento imediato ou demandantes; 12) Avaliação do encontro com os participantes de aprendizagem e cuidados; 13) Avaliação do processo de trabalho pelos profissionais que participaram da ACG.  RESULTADOS: Nos últimos anos, o município de Sobral também vem apresentando mudanças no seu perfil epidemiológico e demográfico. Analisando o perfil epidemiológico da população acompanhada pelo CSF em questão, observa-se que o DM e a HAS despontam como os principais problemas de saúde referidos na população local. No ano de 2017, houve o aumento da prevalência dessas doenças crônicas no território, sendo identificados 382 casos de pessoas com HAS e 170 casos de pessoas com DM. Desde o ano de 2015, a Secretaria Municipal de Saúde de Sobral vem pensando a respeito de novas formas de reorganização do cuidado de pessoas com estas patologias. Para tanto, a gestão do sistema de saúde do município organizou diversas oficinas de educação permanente, relativas à mudança do modelo de atenção à saúde, para os profissionais atuantes no sistema, com o objetivo de capacitar os mesmos para atuarem em seu processo de trabalho com as ferramentas e abordagens das tecnologias leves propostas pelo MACC. Com a entrada da equipe de residência no ano de 2016, iniciou-se, a partir da construção coletiva com os demais profissionais do CSF, o trabalho com a ACG.   Ao longo do seu processo de implantação, tendo em vista as avaliações realizadas em equipe, percebeu-se que o trabalho por este método nos grupos de pessoas com HAS e DM trouxe benefícios tanto para à gestão de cuidados dos usuários, quanto para a organização do fluxo desta unidade.  Destes, destacaram-se os seguintes benefícios: viabilização da educação permanente dos trabalhadores na operacionalização da reorganização da atenção às pessoas com HAS e DM; redução de registro de atendimentos inadequados à esta população no acolhimento de demanda espontânea; o aumento de registro de atendimentos na demanda programada; melhoria do cuidado continuado, com a identificação de fatores que contribuem para agudização dos casos e a intervenção nestes; fortalecimento de vínculos entre usuários e equipe de referência /equipe de apoio; melhoria da satisfação dos usuários pela facilitação do acesso ao cuidado multiprofissional e redução do tempo de espera pelo atendimento e por consulta com a equipe multiprofissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: De acordo com o discorrido, percebeu-se que reorganização do processo de trabalho para o cuidado da pessoa com HAS e DM, foi possível a partir do método da atenção compartilhada em grupo.  Deste modo, pode-se fortalecer a autoestima e o autocuidado apoiado, além de, promover a relação dialógica e a troca de experiências e de saberes entre a equipe multiprofissional e os cidadãos.


Palavras-chave


Serviços de Saúde; Assistência Integral à Saúde; Doença Crônica;