Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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UM OLHAR HUMANIZADO SOBRE A DOENÇA: Relato de experiência sobre prática hospitalar.
RENATA - COSTA, Ma. Veruska Prado Alexandre

Última alteração: 2018-01-11

Resumo


APRESENTAÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS) para atender seus usuários de forma integral conta com várias políticas, que juntas compõem uma Rede unificada de Atenção à Saúde (RAS). Esta visão integral sobre os indivíduos compreende não somente o tratamento de doenças, como também contempla o bem-estar geral e a promoção da saúde ampliada dos sujeitos.

No âmbito das políticas do SUS, a Política Nacional de Humanização (PNH) foi criada como forma de comunicação entre população e os profissionais envolvido nos processos de atenção á saúde, fortalecendo a ética e a defesa da vida.

A PNH possui nove diretrizes gerais que guiam a sua implementação nos diferentes níveis de atenção, incluindo aqui no âmbito hospitalar; como:

  • Ampliar o diálogo entre os profissionais, entre os profissionais e a população, entre os profissionais e a administração, promovendo a gestão participativa;

  • Estimular praticas resolutivas, racionalizar e adequar o uso de medicamentos, eliminando ações intervencionistas desnecessárias;

  • Reforçar o conceito de clinica ampliada: compromisso com o sujeito e seu coletivo, estimulo a diferentes praticas terapêuticas e corresponsabilidade de gestores, trabalhadores e usuários no processo de produção de saúde;

  • Sensibilizar as equipes de saúde em relação ao problema da violência intrafamiliar (criança, mulher e idoso) e quanto à questão dos preconceitos (sexual, racial, religioso e outros) na hora da recepção e dos encaminhamentos.

O objetivo deste resumo é relatar a experiência vivenciada no estágio de nutrição clínica a luz da PNH.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Trata-se de um relato de e experiência vivencial dentro do estágio de nutrição clínica, no período de setembro a novembro de 2017, num hospital escola vinculado a uma universidade federal. Durante 12 semanas vivenciamos a atuação do nutricionista no âmbito clínico em três espaços hospitalares: pediatria/maternidade e clínicas cirúrgica e médica. Tivemos acompanhamento por professores, nutricionistas e por outros trabalhadores da saúde envolvidos no processo de atenção á saúde hospitalar.

No atendimento realizado por uma estagiaria, foram selecionados 29 pacientes, sendo estes internados mais de dois dias. Para compor este relato de experiência de atenção nutricional hospitalizada a luz da PNH, 5 casos serão apresentadas a seguir.

Gestante, 22 anos, diagnostico de pielonefrite, diabetes mellitus gestacional, hiperemese, risco nutricional e com histórico de Síndrome de Cushing decorrente de um tumor na hipófise. Em decorrência deste histórico, a possibilidade de gravides era nula. Diante da notícia da gravidez e ser de alto risco, desenvolveu um estado de ansiedade elevada, tendo com isso alteração no estado nutricional. A frequência e o recordatório alimentar demonstrou baixo consumo de vegetais e frutas. Como conduta nutricional foram adotadas: incentivo ao consumo de frutas e vegetais e iniciada ação de educação nutricional voltada para o aleitamento materno. No controle da ansiedade foi realizado um trabalho com multiprofissional da saúde. Sendo acordado a necessidade em ouvir as aflições e as dúvidas da paciente, buscando com isso acolher as duvidas e as esclarecer. Neste conjunto de ações possibilitou estabilizar o quadro de saúde da paciente, recebendo alta temporária, voltando para dar à luz a uma menina.

Adolescente, 12 anos, sexo feminino, com transtorno de conversão. Na internação relatava fortes dores na região lombar que a impediam de andar. Vários enxames foram realizados e nenhuma alteração física/biológica foi detectada. Nas avaliações da nutrição a paciente apresentava-se dentro de normalidade. O tratamento prescrito pela equipe médica era composto por medicações voltadas para a dor forte (morfina). A família de baixa renda, estava dois meses sem receber o bolsa família. A mãe é divorciada, tem mais dois filhos e trabalha informalmente como costureira de confecção. A família conta com apoio de outros familiares. Observamos que após atendimento nutricional e com assistente social, a jovem passou a não sentir dor, possibilitando assim a prescrição de alta hospitalar.

Criança, sexo feminino, 8 anos, internada com febre, dor de cabeça, vômito, dor intensa na região lombar e nas pernas, impossibilitando a locomoção. A família da paciente morava em Cuiabá, mudando-se para Campestre-Goiás, a dois meses. O tratamento foi iniciado com morfina, sendo posteriormente substituído por placebo e dipirona, resultando o mesmo efeito, ou seja, a diminuição da dor. A atenção nutricional ficou prejudicada pela baixa aceitação da dieta pela paciente, sendo ofertado alimentos com suplementação para evitar a piora do estado nutricional. Durante as visitas diárias a criança relatou a saudade dos animais que ficaram na fazenda em Cuiabá, que ela ajudava no manejo deles junto com o avô. No atendimento multiprofissional foi identificada uma situação de conflito familiar entre a mãe da paciente com ex esposo, sendo a criança envolvida neste. O assistente social e psicólogo passou a acompanhar a criança, sendo o resultado de melhora na ingestão alimentar observado, assim como a locomoção sem apoio. Criança recebeu alta e continua o tratamento psicológico no ambulatório pediátrico.

O paciente de 44 anos, internado com leucemia recém diagnosticada, tendo esta notícia abalado psicologicamente o paciente e familiares. Neste momento a dieta foi fundamental, considerou suas necessidades nutricionais e a injuria que a doença poderia prejudicar em sua alimentação. Mas a precisão de serem ouvidos e as respostas das suas dúvidas sobre a doença e o tratamento foram essenciais na recuperação do paciente, como também de seus familiares. Recebeu alta com prescrição de quimioterapia realizada em domicílio, tendo acompanhamento mensal no Hospital Araújo Jorge.

A paciente de 81 anos, internada devido a estágio final de câncer. No início da internação a paciente seguia uma dieta líquida-pastosa, associada a medicamentos para dores fortes (morfina). A segunda semana de internação reduziu a ingestão alimentar, por isso tentamos modificar os tipos de medicações, não teve melhora no consumo alimentar. A paciente passou a não mais se comunicar com o meio externo. A prescrição de dieta enteral foi descartada para evitar o sofrimento e desconforto, adotado a terapia parenteral como sendo no momento menos evasiva. A paciente teve uma evolução não favorável e veio a óbito.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS

Ações como escuta ativa e atenciosa se mostraram como elementos importantes no processo de cuidado. Percebe-se melhora no quadro nutricional e emocional perante a doença que levou a pessoa a ser internada, contribuindo na recuperação e permanência menor no leito; assim diminuindo complicações com infecção hospitalar. Como também no aumento e/ou na qualidade alimentar do paciente durante a internação e após alta, evitando prescrições terapêutico mais invasivas e a reincidência ao hospital.

O estágio permitiu que a estagiária e os pacientes/familiares, estabelecessem vínculos e realizassem trocas de informações relacionadas à cultura como: tipo de alimentos e comidas, modo de preparo, sabores; como lidar com diversas doenças e tratamentos. E também a oportunidade de conhecer diversos profissionais atuantes de um hospital de grande porte e como funciona. Dúvidas ou soluções diante de complicações no quadro clínico de algum paciente eram resolvidas de forma mais rápida, em decorrência do trabalho multiprofissionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio foi de muitos desafios e aprendizagens, pois, é difícil ver o sofrimento do próximo e perceber que esta rotina não era também fácil para os funcionários mais experientes do hospital. Além das condições de trabalho desfavoráveis na área da saúde atual. Mas está experiência permitiu reforçar a escolha desta profissão e o amor por ela.


Palavras-chave


Sistema Único de Saúde; Alimentos, Dieta e Nutrição; Promoção da Saúde