Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SAÚDE DO TRABALHADOR AGRÍCOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA ATIVIDADE PRÁTICA EM UMA COMUNIDADE NA ZONA LESTE DE MANAUS
Anny Michelly Coelho do Nascimento, Andreza Andrade Gomes, Brenda Sampaio de Souza, Esthefany Souza Silva, Gabriella Martins Soares, Marilena Costa Vasques Cabus, Odete de França Vieira, Ana Katly Martins Gualberto Vaz

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Introdução: A comunidade Nova Esperança, também conhecida como Val Paraíso possui características rurais, porém, dentro do perímetro urbano da cidade de Manaus, Amazonas. Esse extenso sítio de atividades agrícolas é diferenciado principalmente porque se localiza em uma área urbana formando o complexo do bairro Jorge Teixeira, limitado ao norte pela reserva Adolpho Ducke e Colônia Chico Mendes, ao sul pela quarta etapa do bairro Jorge Teixeira, a leste pelos bairros João Paulo II e Cidade Alta e a oeste pela I etapa do bairro Val Paraíso. De acordo com o histórico apresentado pelo líder comunitário residem cerca de 150 famílias em terras assentadas ou arrendadas que praticam agricultura produzindo hortaliças (coentro, cebolinha, alface, chicória, pepino e couve) e plantas medicinais. A produção é comercializada e abastece o chamado “cinturão verde” da conhecida feira do produtor além de outros estabelecimentos comerciais em torno da região, abastecendo de 15% a 20% o mercado de hortaliças de Manaus. É uma área na periferia da cidade com infra- estrutura precária. A partir de 2010 devido ao Plano Diretor Urbano do Executivo Municipal a comunidade foi excluída do sub-setor agrícola, passando a ser considerada área urbana. Atualmente se mantém com recursos próprios, sem suporte técnico de órgãos de extensão rural, seu único apoio externo chega através de visitas do Programa de Endemias do Centro de Referência Estadual em Saúde do Trabalhador do Amazonas (CEREST). Objetivo: Relatar a experiência vivenciada na Comunidade Nova Esperança em Manaus – Amazonas durante atividade prática cuja finalidade foi conhecer a dinâmica de trabalho dos comunitários e as condições em que é realizado, verificar a exposição aos agrotóxicos e identificar os prováveis agravos à condição de saúde desses trabalhadores. Métodos: A atividade foi realizada no dia 17 de novembro de 2017 por sete acadêmicas do curso de enfermagem da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), supervisionadas por três docentes da disciplina de Vigilância em Saúde. Na ocasião, as acadêmicas realizaram uma entrevista não estruturada com o agricultor designado para mostrar a área de cultivo. A entrevista foi gravada e transcrita para posterior análise, foi composta por questões norteadoras relacionadas a três principais eixos: 1) Condições de trabalho; 2) Exposição aos agrotóxicos; 3) Condições de saúde. Quanto à dinâmica de trabalho e as condições em que é realizado: a modalidade é a agricultura familiar comercial por meio da plantação no loteamento com pouco ou nenhum recurso tecnológico, tendo como principais instrumentos agrícolas a enxada, a foice e o arado. Funciona como uma espécie de cooperativa de pequenos agricultores. As condições de trabalho no local são preocupantes, pois revelaram sérios problemas de infra-estrutura, tais como: o sistema de abastecimento de água encanada deficiente, os poucos trabalhadores que puderam, adquiriram poço artesiano para garantir água constante, porém, com qualidade duvidosa devido à aproximação com as fossas sépticas; rede de esgoto inacabada; coleta de lixo uma vez por semana, para remediar a situação o excesso de lixo é queimado, contudo, esta prática gera resíduos, polui o meio ambiente e o torna mais aquecido. Há ainda desinteresse quanto ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) como máscara, óculos, luva e botas sob a justificativa de que a compra desses materiais sobrecarrega o orçamento do comunitário. O entrevistado admitiu reconhecer a importância desses materiais, mas devido à “força do hábito” e o custo adicional prefere não utilizá-los. Quanto à exposição aos agrotóxicos: constatou-se que os agricultores se expõem constantemente a essas substâncias, conseqüência da manipulação incorreta, fruto de anos sem aconselhamento e suporte profissional. Esse comportamento, segundo relato do agricultor entrevistado, vem se modificando devido à iniciativa dos técnicos da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas que iniciaram um trabalho de educação em saúde voltado para forma correta de utilizar os agrotóxicos, visando proteger os trabalhadores contra os efeitos nocivos desses agroquímicos. Essa parceria contribuiu para modificar a conduta anterior e implantar gradativamente as formas corretas de manipulação, compra, armazenamento e descarte. Quanto às condições de saúde: A comunidade Nova Esperança não recebe cobertura médica assistencial, não apenas a área visitada, mas todo o seu território. O agricultor entrevistado afirmou que já teve agravos em sua saúde provocados pelo trabalho agrícola como intoxicação por inalação de agrotóxicos, hérnia de disco e insuficiência renal aguda, precisou de assistência básica e hospitalar, mas se deparou com muita dificuldade para ser atendido. O suporte que precisou para tratar estas injúrias ao seu corpo em parte foi feito fora dos limites da comunidade com consultas e exames particulares associados ao tratamento “caseiro” com chás de ervas medicinais cultivadas na sua plantação. Ele ressaltou que há casos de problemas de saúde de natureza grave entre os companheiros de agricultura onde não é possível pagar pelo tratamento devido aos altos custos. Nesses casos a situação é dramática principalmente com doenças crônicas e incapacitantes. Resultados e/ou impactos: Pode-se inferir que os agricultores dessa comunidade encontram-se sob constante risco ocupacional no ambiente de trabalho, confirmado pela observação de infra-estrutura precária, ausência de uso de EPI’s, exposição aos agrotóxicos com risco de aquisição de patologias, exposição solar aumentando o risco de câncer de pele, problemas no sistema músculo-esquelético (hérnia de disco, desvio na coluna vertebral, lesão por esforço repetitivo, etc). Considerações finais: É lamentável a ausência de suporte técnico disponibilizado à comunidade Nova Esperança. Infelizmente o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), responsável por esse papel, não dispõe de recursos humanos suficientes para atender essa comunidade como precisa e merece. Os agricultores para conseguirem sobreviver de suas produções e sustentar suas famílias com dignidade se expõem diariamente a riscos para a saúde e até risco de morte. É difícil entender como uma comunidade que, segundo suas estatísticas, produz e abastece de 15% a 20% o mercado de hortaliças frescas da cidade de Manaus, não receba o apoio das autoridades e do poder público, visto que a base de qualquer agricultura por mais rudimentar que seja é o apoio técnico dos órgãos competentes. Por fim, ressalta-se o respeito a todos os comunitários que mesmo em condições desfavoráveis como falta de saneamento básico, ausência de vias de acesso asfaltadas, exclusão de cobertura de assistência médica básica, pressão social, exposição à violência por conta dos avanços das invasões, não desistem do seu trabalho e permanecem servindo a sociedade no anonimato.


Palavras-chave


saúde do trabalhador; enfermagem; educação em saúde.