Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PRÁTICAS DE PUERICULTURA COM COMUNIDADE DE HAITIANOS NO SUL DO BRASIL: DESAFIOS E SUPERAÇÃO
Ingrid Pujol Hanzen, Ana Paula Lopes da Rosa, Denise Antunes de Azambuja Zocche, Elisangela Argenta Zanatta

Última alteração: 2017-12-18

Resumo


Apresentação: com a globalização o processo de imigração está cada vez mais acentuado devido a busca de estrangeiros por melhores condições de vida, acesso a moradia, trabalho, fuga da pobreza e fome. No cenário nacional observa-se nos últimos anos um processo imigratório intenso de pessoas vindas de diferentes países. Na região oeste de Santa Catarina, especialmente no município de Chapecó, esses movimentos migratórios são bastante perceptíveis. O município de Chapecó é caracterizado por um acentuado desenvolvimento econômico devido a presença de agroindústrias. Estrangeiros, principalmente de origem haitiana, migram para essa cidade em busca de trabalho, moradia e melhores condições de vida e saúde. Ao estabelecerem-se aqui passam a ter o acesso a diversos serviços de saúde, programas sociais, educação, dentre outros. Nesse contexto, destaca-se o acesso ao Sistema Único de Saúde, que tem como principal porta de entrada a Atenção Primária a Saúde (APS). A possibilidade de uma vida mais digna faz com que esses indivíduos fixem moradia na cidade, e consequentemente expandam suas famílias. Neste sentido, a atenção a saúde destas crianças nascidas no Brasil requer uma implicação maior dos profissionais da saúde no sentido de acolher sua cultura e práticas de cuidados maternos e paternos. Considerando que é de responsabilidade da APS prover atendimento a essas famílias, durante seu ciclo de vida, entende-se que o profissional enfermeiro tem papel relevante no atendimento a essas crianças por meio da consulta de enfermagem, contudo para que essa seja efetivada de maneira satisfatória e resolutiva é fundamental ter uma visão holística que valorize a interculturalidade. A consulta de enfermagem a criança ou puericultura é uma das formas de promover o acesso a crianças de origem haitiana aos serviços de saúde, respeitando as diferenças culturais e buscando estabelecer vínculo com a unidade de saúde. O objetivo desse relato de experiência é elencar as dificuldades encontradas na consulta de puericultura à criança haitiana. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência acerca do atendimento a crianças de origem haitiana e nascidas no Brasil, no contexto da puericultura realizado por enfermeiras de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Chapecó. A consulta de puericultura na UBS é previamente agendada e realizada com criança de zero a dois anos de idade pelo médico e enfermeiro de maneira alternada. O médico atende nesse período cerca de oito vezes a criança e o enfermeiro realiza nove atendimentos, após os dois anos é orientado que seja marcada, pelo menos, uma consulta de rotina ao ano. Resultados e/ou impactos: Com o aumento da imigração houve crescente número de gestantes estrangeiras e consequentemente de nascimento de crianças naturalizadas no país. Como qualquer cidadão, essas crianças são inseridas no sistema de saúde, via consultas de puericultura da unidade de saúde desde o nascimento e são acompanhadas durante seu crescimento e desenvolvimento. Em relação a esses atendimentos foram percebidos alguns nós críticos que permeiam o atendimento dessas crianças como o alto índice de faltas nas consultas, comunicação ineficaz com os pais ou cuidadores, desconhecimento da cultura e valores haitianos por parte dos profissionais. Ao perceber o alto índice de faltas buscou-se explicar aos pais e/ou responsáveis pela criança, a importância da puericultura, porém observou-se pouca compreensão deles quanto a necessidade e benefícios desse acompanhamento regular, além disso, muitas crianças não eram trazidas pelos pais e sim por vizinhos e amigos, situação que aumentou a dificuldade de comprometimento com a procura pela consulta. A partir dessa dificuldade buscou-se intensificar o atendimento das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) que passaram a realizar busca ativa dos faltosos e entregar pessoalmente os agendamentos, ou seja, outros haitianos que, porém, mesmo assim, manteve-se o alto índice de absenteísmo nas consultas de rotina. Em relação a essa situação percebe-se que existe, por parte dos pais, uma concepção de que a unidade de saúde deve ser frequentada quando existe alguma doença em andamento ou para vacinação e não como um momento de avaliar o crescimento e desenvolvimento dessas crianças, prestar orientações com vistas a promoção da saúde e estabelecimento de vínculos entre a família e profissionais de saúde. O nó crítico referente a comunicação relaciona-se a dificuldade de orientações, pois não existe domínio da língua portuguesa pelos haitianos e da língua falada por eles (crioulo haitiano ou francês) pelos profissionais. O enfermeiro no momento da consulta da criança nem sempre consegue ter compreensão do estado de saúde da criança a partir das informações trazidas pelos pais, por isso a avaliação fica limitada ao exame físico. Durante a consulta nem sempre se tem o entendimento real das necessidades da criança, sendo que os profissionais acabam tendo uma compreensão que talvez não seja a real, apenas baseada em sinais e tentativas de compreender o que os pais relatam. A comunicação eficaz é essencial para um atendimento resolutivo e de qualidade, garantindo que seja agregada importância da realização das puericulturas no cotidiano do usuário. Como terceiro nó crítico destaca-se as diferenças culturais que, muitas vezes, não conseguimos incorporar nos planos de cuidados. A cultura haitiana difere da brasileira em alguns pontos como, por exemplo: a presença paterna nas consultas, pois na sua cultura o homem tem maior responsabilidade com os filhos, não cabendo só a mulher acompanhar o atendimento de saúde. Diferenças de hábitos alimentares também são perceptíveis, porém existe abertura para negociação entre o enfermeiro e o paciente, nesse caso os pais da criança em atendimento. Na alimentação é perceptível que devido a alguns desses indivíduos terem passado fome e restrições alimentares, eles tentam fornecer o máximo de alimentos aos seus filhos. A prática do aleitamento materno exclusivo se torna de difícil convencimento, pois estes querem incluir desde tenra idade todos os tipos de alimentos. Cuidados de saúde em geral, práticas de higiene e até religiosas refletem algumas diferenças culturais e do modo de viver, sendo necessário adaptar-se e compreender a forma de pensar e viver dos pais dessa criança. Considerações finais: As diferenças culturais devem ser incorporadas como dispositivos de fortalecimento do vínculo com os profissionais e serviços, para que possam ser úteis para manter as crianças frequentando a UBS, diminuindo assim o índice de absenteísmo. Um dos pontos relevantes nesse processo é a adequação de uma comunicação eficaz, em que o profissional e família possam ter um entendimento completo das necessidades. Para isso devem ser pensadas novas estratégias de abordagem para que a população haitiana tenha um atendimento resolutivo e mais próximo da sua cultura de origem. O enfermeiro como profissional que realiza as consultas de rotina da criança deve ter um olhar diferenciando, que alcance as diferentes individualidades e referencias culturais.


Palavras-chave


Enfermagem; Imigração; Puericultura; Haitianos.