Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO DE ADOLESCENTES DIANTE DAS DROGAS
Maria de Nazaré de Souza Ribeiro, Cleisiane Xavier Diniz, Selma Barboza Perdomo, Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, Orlando Gonçalves Barbosa, Michel dos Santos Domingos, Sheila Silva Lima

Última alteração: 2017-12-26

Resumo


Frequentemente, as experiências iniciais com drogas ocorrem na adolescência, por ser o indivíduo mais vulnerável do ponto de vista psicológico e social, por ser considerada uma fase de descobertas e conflitos e pela valorização de pertença a grupos. Quanto mais cedo se der a iniciação de um adolescente ao uso de drogas, maiores são os prejuízos físicos, psíquicos e sociais comparado a outros de maior idade.  Os fatores que os levam a utilizar drogas são considerados diversos, estando relacionados principalmente às características individuais e sociais, incluindo a coletividade, a família e o grupo de pares. Embora seja impossível prever com precisão quem irá desenvolver um problema com as droga, é possível delinear fatores de risco e proteção, saber os cuidados a ter com as drogas. Isso é útil porque ajuda a pensar sobre como reduzir os riscos de crianças e adolescentes. A realização de estudos sobre a pro­blemática do consumo de drogas pelos adolescentes está sendo priorizada pelo setor da Saúde devido à associação direta ou indireta desses comportamentos com algumas das principais causas de morbidade e mortalidade na adolescência.  Essa necessidade é ainda maior no Norte do Brasil, dada a escassez de estudos publicados sobre o problema na região. Essa pesquisa teve como objetivo detectar os fatores de risco e proteção de adolescentes, na faixa etária entre 11 a 15 anos, diante das drogas. Trata-se de um estudo transversal, descritivo, de base populacional,  desenvolvido por meio de inquérito epidemiológico. A amostra foi constituída por 185 adolescentes, com idade de 11 a 15 anos, que compõe os grupos da Pastoral de Adolescentes do bairro de Petrópolis, na zona sul da cidade de Manaus (AM),  perfazendo um total de 100% do universo em questão, com margem relativa de erro de 5% e coeficiente de segurança de 95%. Foi utilizado o questionário DUSIR (Drug Use Screening Inventory), validado para uso no Brasil. Este questionário possui 149 questões distribuídas em dez áreas, permitindo identificar um perfil da intensidade de problemas em relação ao uso de substâncias, comportamento, saúde, transtornos psiquiátricos, sociabilidade, sistema familiar, escola, trabalho, relacionamento com amigos e lazer. Após a aplicação do DUSI, quatro índices foram calculados: 1) Densidade absoluta de problemas: indica a intensidade de problemas em cada área isoladamente; 2) Densidade relativa de problemas: indica a intensidade de problemas em cada área isoladamente. 3) Densidade global de problemas:  indica a intensidade geral de problemas. Os resultados mostram que, em relação à Densidade Absoluta, os aspectos mais comprometidos foram: Competência social (34,7%), que observa as habilidades e interações sociais; Comportamento (33,8%), sendo avaliado o isolamento social e problemas de comportamento; e Lazer (32%), investigando-se  a qualidade das atividades durante o tempo de lazer. No que diz respeito ao cálculo da Densidade Relativa, o Competência social (15,6),Comportamento (15,2%) e Lazer (23,3%) apresentaram os maiores índices, confirmando os dados da Densidade Absoluta. No cômputo da Densidade Global, o resultado foi de 27,1%.  A expressão consagrada fatores de risco designa condições ou variáveis associadas à possibilidade de ocorrência de resultados negativos para a saúde, o bem-estar e o desempenho social. Alguns desses fatores se referem às características pessoais dos indivíduos, ao meio microssocial de pertença e à outras condições estruturais e socioculturais mais amplas. No entanto, geralmente, apresentam-se  combinadas. Raramente os estudos sobre uso de substâncias psicoativas se referem à "amizades entre os jovens" como fator protetor, uma vez que, a maioria das intervenções focalizam a superação das influências negativas das amizades.  No entanto, pesquisas indicam que grupos de amigos com objetivos e expectativas de realização na vida levam ao protagonismo juvenil e à solidariedade e isso têm uma enorme importância nessa etapa de vida em que as influências dos pares são cruciais. A presença dos pais, junto aos filhos é tão importante na adolescência quanto na infância. Seu papel é estar atento, mobilizar sem dirigir, apoiar nos fracassos e incentivar nos êxitos; em suma, é estar com os filhos e respeitar cada vez mais sua individualidade. A capacidade de interagir com as pessoas  se relaciona com as habilidades e competências  sociais do indivíduo, que facilitam o estabelecimento de relações mais próximas com os demais indivíduos. Assim, a falta ou a deficiência de habilidade social pode provocar dificuldades de adaptação do indivíduo ao meio, com consequências na habilidade  em fazer amigos na produção de condutas antissociais e de risco. Os adolescentes que são socialmente aceitos por seus pares recebem reforço, melhorando sua adaptação na área social, pessoal e escolar. Outro fator de risco e proteção que apareceu com maior comprometimento foi o “lazer”. Nesta etapa o adolescente quer sair sozinho com os amigos, frequentar lugares diferentes, ter horários diversificados para praticar atividades. Porém, oferecer alternativas de lazer aos adolescentes é uma estratégia relevante em relação ao uso de substâncias psicoativas e podem funcionar como fatores de proteção na adolescência. Estratégias de ocupação do tempo livre e a o uso de espaços de lazer e convivência para jovens devem estar ligados a um processo de educação para a saúde que contribua para um padrão de vida saudável. Dentro dessa premissa de proteção, uma das funções de quem atua na atenção aos adolescentes é determinar quais fatores podem ser evidenciados como relevantes para promover seu crescimento saudável e evitar que corram riscos de dependências e de acirramento de problemas sociais. Conclui-se que, no tocante aos fatores de risco e proteção,  o comportamento, a competência social e o lazer apresentaram-se como fatores com maior vulnerabilidade neste grupo pesquisado de adolescentes. Os fatores de risco e proteção devem ser tratados como variáveis independentes, pois podem afetar o comportamento sem que haja, necessariamente, uma complementaridade entre eles. O adolescente, com seus modos específicos de se comportar, agir e sentir  deve  ser entendido a partir da relação que se estabelece entre ele e os demais indivíduos. Essa interação se institui de acordo com as condições objetivas da cultura na qual se insere. Diferentes condições sociais, históricas e culturais produzem transformações significantes na representação social do adolescente. As informações obtidas por este estudo são relevantes e evidenciam a necessidade de desenvolvimento e im­plementação de políticas de fomento à pesquisa sobre o tema, principalmente na região norte do país. Elas também podem servir de subsídio às ações do Programa de Saúde na Escola.


Palavras-chave


adolescentes; dependência química; fatores de risco e proteção