Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ESTRESSORES OCUPACIONAIS NAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
Ana Paula Lopes da Rosa, Ingrid Pujol Hanzen, Fernanda Fabiana Ledra, Denise Antunes de Azambuja Zocche

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


APRESENTAÇÃO: As mudanças tecnológicas e estruturais do sistema produtivo tornaram as organizações de trabalho mais complexas, na lógica de sempre produzir mais com recursos limitados, e modificando o quadro mundial pela intensificação da insegurança no emprego e terceirização no mercado de trabalho. Em suas pesquisas sobre gestão do trabalho, Franco considera que, tais mudanças refletem na redução de profissionais, na incorporação de mais tecnologias, absenteísmo, acidentes e agravos, conflitos interpessoais e trabalhos precários. Tudo isto vêm influenciando um novo perfil de adoecimento dos trabalhadores com forte repercussão na saúde mental. Na área da saúde, o termo estresse foi utilizado pela primeira vez em 1926 por Hans Selye, definiu como um desgaste geral do organismo, cuja reação psicológica com componentes emocionais, físicos, mentais e químicos a determinados estímulos estranhos levam a irritabilidade, amedrontamento, excitação ou confusão. O estresse ocupacional ocorre quando o indivíduo percebe as demandas do trabalho como fatores estressores, aos quais excedem sua capacidade de enfrentamento. Sob a ótica dos estudos de saúde do trabalhador em saúde de Camelo e Angerami, a forma como o indivíduo reage aos estímulos estressores é que determinará o nível de estresse, dessa forma os fatores cognitivos constituem o papel central nesse processo. A gestão do trabalho em saúde é primordial para manter o trabalhador com alta potência para agir no mundo do cuidado, que é também um mundo social e afetivo. A realidade do trabalho desempenhado pelas equipes de saúde da família junto à comunidade pode acarretar problemas de diversas ordens, as limitações internas e externas expõem o trabalhador a riscos biopsicossociais. Tais riscos são potenciais geradores do processo de estresse, como: falta de preparo e capacitação da equipe, sobrecarga de papéis, longas jornadas de trabalho, conflitos interpessoais, dificuldade para conciliar trabalho e família e recursos humanos e materiais insuficientes. Diante do exposto, objetiva-se relatar uma proposta de intervenção voltada à promoção da saúde ocupacional, a partir da identificação dos fatores estressores no processo de trabalho de profissionais de um Centro de Saúde da Família, no município de Chapecó. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência sobre uma prática de intervenção desenvolvida a partir da disciplina Promoção da Saúde ao Indivíduo e Coletividades do Mestrado Profissional em Enfermagem em Atenção Primária a Saúde, num Centro de Saúde da Família (CSF), localizado no município de Chapecó, que tem por objetivo promover a saúde do trabalhador. Para tanto, considera-se os fatores estressores do processo de trabalho e as estratégias de enfrentamento do estresse ocupacional. Foram realizadas 3 reuniões no CSF, organizadas pela gestão local e com o apoio matricial do psicólogo do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), participaram da ação 24 profissionais vinculados às duas equipes do CSF, pertencentes às seguintes categorias: agente comunitário de saúde, auxiliar de enfermagem, auxiliar de saúde bucal, cirurgião-dentista, enfermeiro e médico. No primeiro encontro foi apresentada ao grupo a proposta da prática de intervenção, o plano de ação, realizada a discussão e definição de estratégias para sua efetivação. Proporcionou-se à equipe um espaço de discussão relacionado ao tema fatores estressores no cotidiano do trabalho, por intermédio de uma roda de conversa, com a finalidade de identificar os fatores estressores no processo de trabalho das equipes, sob o ponto de vista dos profissionais. Nos dois encontros subsequentes foram apresentados à equipe de saúde, pela psicóloga, métodos para alívio do estresse e discutido estratégias de enfrentamento para os problemas destacados pela equipe. Através desta intervenção, se almejou estabelecer uma maneira positiva de enfrentar os desafios diários, e construir, em conjunto com equipe, estratégias de transformação de hábitos mentais e habilidades de enfrentamento do estresse. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: A ação foi fundamentada em questões em que há interesse coletivo para resolução de problemas, e mobilização dos profissionais para uma prática crítica e reflexiva. Os fatores elencados pelos profissionais, como estressores no processo de trabalho foram: desrespeito da clientela, sobrecarga de trabalho, falta de reconhecimento profissional, recursos humanos insuficientes, estrutura física e equipamentos da unidade, falta de comprometimento dos pacientes com o tratamento, organização e esquema de trabalho. Os fatores estressores de ordem administrativa e/ou organizacional foram debatidos com a equipe durante as reuniões e discutiram-se, em conjunto, propostas para adaptação e/ou reorganização do processo de trabalho para amenizar ou resolver a problemática. As reuniões foram desenvolvidas por meio de atividades reflexivas a fim de proporcionar aos indivíduos um momento para compartilhar experiências, sentimentos, frustrações e dificuldades no cotidiano do trabalho na Estratégia de Saúde da Família. O NASF, como equipe de apoio, ofereceu retaguarda especializada às equipes, e qualificou a estratégia de intervenção, através do apoio matricial. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Na perspectiva dos estudos sobre as condições de trabalho das equipes de saúde da família, Rodrigues destaca o envolvimento pessoal de cada profissional com os objetivos propostos, como um dos principais fatores que influenciam a qualidade do trabalho desempenhado pelas equipes. Ainda explicita a importância de qualificar o ambiente de trabalho e torna-lo favorável e motivador para os trabalhadores realizarem as atividades diárias. Em contrapartida, as más-condições de trabalho e problemas no processo de trabalho propiciam o surgimento de problemas de saúde relacionados à atividade laboral, reduzindo a qualidade de vida (QV) do trabalhador. Quando não há QV, os profissionais tendem a atuar de forma insatisfatória no ambiente de trabalho, afetando consideravelmente a qualidade do serviço prestado à clientela. Considerando que, o estresse e os fatores estressores estão intensamente relacionados à forma como a pessoa lida com eles, há algumas estratégias que podem ser desenvolvidas pelos trabalhadores, individualmente, para o controle do estresse. O gestor do serviço de saúde deve se preocupar em subsidiar a equipe de saúde para que estabeleça uma maneira positiva de enfrentar os desafios diários, e construir, em conjunto, estratégias de transformação de hábitos mentais e habilidades de enfrentamento do estresse. A prática de intervenção realizada sugere que é importante desenvolver atividades voltadas à promoção da saúde do trabalhador da Atenção Primária devido à complexidade de atuar na atenção direta à saúde da população. Esta experiência sinaliza para uma necessidade do comprometimento da gestão dos serviços e do poder público, bem como da sociedade, na promoção de ambientes propícios à saúde e segurança no trabalho. Neste sentido, tais profissionais necessitam de um olhar especial, uma forma de apoio ao autocuidado e desenvolvimento de atividades saudáveis, proporcionando melhoria da qualidade de vida. Considera-se relevante provocar nos profissionais da Estratégia de Saúde da Família uma reflexão acerca do seu cotidiano de trabalho e os fatores estressores, as angústias, ritmo e carga de trabalho, identificando, assim, os fatores estressores e as estratégias pessoais de enfrentamento do estresse ocupacional.

Palavras-chave


Estresse Ocupacional; Atenção Primária à Saúde; Qualidade de Vida