Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ESTIMATIVA DA EFETIVIDADE DA VACINAÇÃO DA COQUELUCHE ANTENATAL UM ESTUDO PRELIMINAR
TAINE TUZIANE FISCHBORN ANDRIOLLA, VANIA CELINA DEZOTTI MICHELETTI, JULIANA DOURADO PATZER, IVONE MENEGOLLA, SANDRA MAIRA CEZAR LEAL, DENISE ANTUNES ZOCCHE, ROSANGELA BARBIANI, Priscila Schmidt Lora

Última alteração: 2017-12-20

Resumo


APRESENTAÇÃO

A coqueluche é uma doença que causa infecção aguda do trato respiratório, sendo grande causa de morbimortalidade infantil. Seu agente infeccioso é a bactéria Bordetella pertussis.

Ainda, no Brasil, é uma patologia de notificação compulsória, com visível redução de casos após a introdução da vacina Tríplice Bacteriana Infantil (DTP). Porém, desde 2011, observou-se um recrudescimento no cenário mundial, principalmente nas crianças menores de três meses. Assim, em novembro de 2014, o Ministério da Saúde (MS) ampliou o calendário de vacinação da gestante com a introdução da vacina Tríplice Absorvida Difteria, Tétano e Coqueluche (Pertussis Acelular) Tipo adulto (dTpa).

Esse estudo objetiva investigar a efetividade da vacina dTpa para gestante na prevenção da coqueluche em crianças menores de três meses no Rio Grande do Sul por inquérito telefônico.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Estudo de coorte histórica, onde as informações dos usuários foram extraídas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizado pelo Centro  Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (CEVS-RS). Foram incluídos todos os casos notificados de coqueluche em crianças menores de 3 meses entre os anos de 2015 e 2016 e excluídas as notificações com duplicidade ou informações pendentes.

Para avaliação complementar, acessou-se: Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) entre 2007 à 2015 e Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI) no período de 2015 e 2016. E ampliação do SINAN de 2007 a 2015.

A coleta de dados foi realizada no segundo semestre de 2017, via contato telefônico, através do número registrado na notificação. Foram excluídos da análise de efetividade, aqueles que não obtiveram sucesso de contato, após três tentativas de ligação.

Considerou-se variável dependente a infecção por coqueluche e como variáveis independentes a vacinação por dTpa na gestação, idade gestacional que recebeu a vacina, idade dos primeiros sintomas de coqueluche, recebimento de orientações sobre a vacina, local de realização do pré-natal (público, privado ou misto) e escolaridade da mãe.

Para a análise descritiva dos dados, utilizaram-se as distribuições de frequências simples, as medidas de tendência central (média e mediana) e medidas de variabilidade (desvio padrão). Utilizou-se o teste Qui-quadrado com correção de Yates quando mais de 20% das células apresentaram menos que cinco observações. Um valor de p inferior a 0,05 foi considerado significativo.

A efetividade da vacina dTpa na gestante em prevenir a coqueluche nas crianças menores de três meses foi avaliada: Efetividade da Vacina (EV) = 1 - Risco Relativo (RR), onde esse foi calculado pela razão da incidência dos expostos sobre a razão da incidência dos não expostos. Esses valores foram apresentados com intervalo de confiança de 95%.

RESULTADOS

O número das notificações de coqueluche em crianças menores de três meses, no Rio Grande do Sul (RS) entre 2007 a 2016, aponta que o período de 2012 apresentou 3,04 vezes mais casos que o ano anterior, e a partir de então, decresce até 2015. Da mesma se apresenta a proporção das notificações da doença e o número de nascidos vivos. Sobre a vacina dTpa nas gestantes houve um aumento de 61% na cobertura vacinal de 2015 para 2016.

Entre 2015 e 2016, na faixa etária avaliada, houveram 120 notificações, distribuídas igualmente entre os anos. A idade média dos primeiros sintomas foram 1,4 (DP: 0,7) meses. Foram obtidos contatos de 25 (31,3% n = 80) casos confirmados e 9 (22,5% n = 40) descartados. A perda no número de participantes da pesquisa foi homogênea entre os grupos (qui-quadrado p=0,22). Assim, as demais análises referem-se aos 34 casos contatos. Dentre os casos confirmados, as frequências dos critérios de confirmação foram: clínico-epidemiológico 12% (3/25), laboratorial 36% (9/25), e clínico 52% (13/25).

Dentre as participantes que afirmaram ter recebido a vacina dTpa, 6 (50% n=12) encaminharam a foto da caderneta de vacinação, estes todos tiveram filhos com menos de três meses com coqueluche confirmada. Uma sub análise do grupo das crianças com coqueluche confirmada por critério laboratorial, que as mães sabiam informar o status vacinal na gestação, mostra que 66% (4/6) destas eram vacinadas.

Quanto à idade gestacional da imunização, esta variou de 21 a 32 semanas e o tempo entre a vacinação e o parto variou de 4 a 10 semanas. Não houve diferença entre a frequência de vacinação e o local de realização do pré-natal. Sobre a informação acerca da vacina, 78,5% (n=14) das gestantes não vacinadas desconheciam a existência, e destas, 63,6% realizaram pré-natal na rede pública ou mista.

Na amostra estudada, a vacina dTpa na gestante apresenta RR 1,18 (IC95% 0,77-1,77), e a efetividade em prevenir a coqueluche na criança menor de três meses calculada foi inferior a zero.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A coqueluche é uma doença infecciosa com alta morbimortalidade. Atualmente, inicia-se a imunização ativa aos dois meses com a vacina pentavalente, seguindo aos quatro e seis meses e, somente após completar o esquema, pode-se ter garantia de imunização.

Refletindo o cenário mundial, no RS, o período de maior incidência de casos foi em 2012, apresentando 3 vezes mais notificações que no ano anterior. Porém, foi pontual decrescendo até 2015. Em contrapartida, percebe-se a ampliação da cobertura vacinal da dTpa para gestantes de 2015 para 2016. Contudo, em 2016, não houve redução no número de notificações na faixa etária analisada.

Uma sinalização alarmante é o número de gestantes que receberam a vacina e tiveram filhos com coqueluche confirmada (40% – 10/25). Onde uma pesquisa desenvolvida na Inglaterra aponta uma frequência de 15% de crianças com coqueluche entre mães vacinadas.

Uma limitação desta pesquisa se refere à perda de dados, porém foi semelhante entre os dois grupos. O motivo se deve a não localização da usuária, o que pode estar relacionado à qualidade do preenchimento das notificações. Onde quem preenche desconhece o valor epidemiológico do registro documental.

Nesse contexto, ressaltamos que esse estudo apresenta dados preliminares e que os resultados devem ser interpretados com cautela, o grande número de perda no contato telefônico pode impactar sobre os achados. Novas fontes de coleta de informações estão sendo estudadas, além da possibilidade de um acompanhamento prospectivo.

Percebeu-se que o grau de instrução e o local onde realizou o pré-natal (rede pública ou privada) não têm interferência quanto ao acesso/indicação à vacina. O motivo da não vacinação mais apontado pelas gestantes foi a falta de orientação. Portanto, estratégias para aumentar a cobertura vacinal envolvem a qualificação da equipe de saúde.

A coqueluche é cíclica, recrudescendo em cada três a cinco anos. Assim, a é necessário seguir o acompanhamento por um período superior ao visto nesse estudo para avaliação da introdução da vacina dTpa no calendário de vacinação da gestante

A literatura aponta que a vacina da dTpa é segura para a gestante e para o recém-nascido, e parece impactar diante do número de notificações. Entretanto, para determinar a eficácia dessa, percebe-se a necessidade de realizar novas pesquisas com delineamentos prospectivos, minimizando perdas dos dados.

Outra necessidade é a tradução do conhecimento aos profissionais sobre a vacinação e ações de educação referente aos registros documentais. Facilitando a análise epidemiológica e a organização das políticas públicas, bem como o direcionamento das verbas.


Palavras-chave


Imunização Materna; Vacina Tríplice Bacteriana Acelular (dTpa); Notificação da Coqueluche em Neonatos e Lactentes; Efetividade dTpa; Tosse Convulsa