Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Abuso infanto-juvenil: a experiência de formação de multiplicadores para o desenvolvimento de ações de prevenção e combate
Fatima Cristina Alves de Araujo, Iris Nascimento de Souza, Amanda da Conceição Gonçalves

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


O abuso infanto-juvenil é um problema complexo, reconhecido internacionalmente como um sério problema de saúde pública, de direitos humanos, e também, legal e social. A cada ano milhares de crianças ao redor do mundo são vítimas de abuso físico, sexual, emocional/psicológico e negligência. As situações de abuso, na sua maior parte, acontecem na vida doméstica e privada, e faz com que seja difícil um levantamento preciso do número de casos. No Brasil, a Constituição Federal diz ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de coloca-las a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade, opressão. Para que isso aconteça faz-se necessário introduzir obstáculos ao abuso infanto-juvenil aumentando a possibilidade do autor do abuso ser descoberto, e reduzindo as consequências do abuso e a possibilidade do agressor encontrar desculpas para as suas ações. A fim de detectar, dar resposta quando ocorre e minimizar os impactos negativos das situações de abuso ao longo do tempo se faz necessário um enfoque multissetorial. Neste sentido, a articulação entre a educação e a saúde expressam a possibilidade de uma parceria frutífera. Tomando-se essa articulação – saúde e educação – como referência, em 2016 foi elaborado um projeto de extensão envolvendo os cursos de graduação oferecidos no Campus Realengo, do IFRJ. O projeto recebeu financiamento do Programa de Bolsas de Extensão do IFRJ para a sua realização. Além disso, contou com uma aluna bolsista e uma aluna voluntária. O objetivo do projeto denominado “Abuso infanto-juvenil: multiplicar para combater” era promover ações de conscientização para a prevenção e combate de situações de abuso contra crianças e adolescentes, através da formação de multiplicadores da temática. O projeto buscava promover a articulação entre ensino-pesquisa- extensão, visto que haveria grande chance de impacto na dinâmica social da comunidade, já que visava formar multiplicadores para desenvolvimento de ações de prevenção e combate ao abuso infanto-juvenil; envolveria o eixo Educação Permanente em Saúde que faz parte do Projeto Pedagógico de Curso dos três cursos de graduação oferecidos pelo campus, e que visa promoção e educação em saúde, além da aproximação do campo de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e, possibilitaria a produção de conhecimento a ser divulgado através de artigos científicos e apresentação de trabalhos em congresso. Outro ponto relevante do projeto seria a possibilidade de  estreitar parcerias com outros setores, para além do campo da saúde, reforçando o caráter intersetorial das ações de educação e promoção de saúde. O público alvo para as ações eram estudantes do segundo segmento do ensino fundamental. O projeto tinha como proposta desenvolver oficina de sensibilização a respeito do abuso infanto-juvenil, onde seriam realizadas atividades como dinâmicas de grupo, dramatização, roda de conversa para promover a sensibilização de toda a comunidade escolar a respeito dos abusos contra crianças e adolescentes; oficinas para capacitação dos multiplicadores a respeito da conscientização e combate ao abuso infanto-juvenil onde se realizariam atividades, baseadas e metodologias ativas de ensino aprendizagem, que possibilitassem que os estudantes, que fariam parte do grupo de multiplicadores, conhecessem os diversos tipos de abuso contra crianças e adolescentes e formas de prevenção e combate; construção das estratégias de atuação dos multiplicadores; atividade de intervenção voltada para a comunidade escolar e externa; avaliação da atividade por parte da comunidade escolar e externa; avaliação da experiência de ser multiplicador; avaliação da experiência da participação discente no projeto de extensão.  Contudo, foi necessário retardar o início do desenvolvimento das ações pois a mudança na gestão municipal fez com que o processo, já em andamento, para a concretização da parceria entre uma escola do município do Rio de Janeiro e o IFRJ fosse postergado, não permitindo que o projeto fosse desenvolvido no período de vigência da bolsa. Em fevereiro de 2017, foi firmada parceria com a Escola Municipal Amazor Vieira Borges, localizada no município de Nova Iguaçu – RJ. Frente a demora no início do projeto foi necessário ajustar o cronograma e as atividades propostas. Os encontros para a formação dos multiplicadores passaram a ser semanais, no contraturno das aulas regulares dos participantes. Para seleção dos estudantes participantes do projeto a oficina de sensibilização a respeito do abuso infanto-juvenil a ser oferecida para toda a comunidade escolar foi substituída pela participação ativa da coordenação pedagógica da escola que fez o convite a alguns estudantes. Cerca de 15 alunos aceitaram o convite, mas nem todos compareceram regularmente aos encontros. Foram totalizados 8 encontros, onde houve discussão sobre a temática do projeto e foram construídas estratégias para conscientização da comunidade escolar e público externo, já que a culminância do projeto aconteceria em uma atividade aberta a toda a comunidade. Nesta ação, os multiplicadores apresentariam a produção desenvolvida. A atividade de encerramento do projeto foi agendada para um sábado, a fim de facilitar a presença dos responsáveis e comunidade. Para o dia do evento foi feita uma parceria com um curso técnico de formação em saúde que disponibilizou atendimento para verificação de pressão arterial e glicemia como forma de atrair os adultos. Com a verba para financiamento do projeto foram contratadas atividades recreativas. Neste clima de festa os estudantes multiplicadores apresentaram suas produções (textos, cartazes, dramatização). Como forma de conhecer a avaliação da atividade por parte da comunidade escolar e externa foi afixado na porta da escola um cartaz com desenhos que expressavam alegria, tristeza e indiferença, sob a supervisão de um dos multiplicadores que orientava a todos que saiam a marcar o que acharam da atividade. A quase totalidade das avaliações foi positiva. Na semana posterior ao evento houve o encontro para a avaliação da experiência de ser multiplicador e entrega dos certificados de multiplicadores de ações de prevenção e combate ao abuso infanto-juvenil. Foi unanime a avaliação positiva da experiência. Muitos expressaram o desejo de que o projeto continuasse e que estavam usando o que foi aprendido no seu cotidiano. Chamou a atenção a mudança de comportamento de um estudante, que era considerado um “aluno problema” na escola. No decorrer do projeto ele foi um dos mais participativos. Este aluno relatou que apesar das “broncas” tinha gostado muito de participar do projeto e tinha interesse em continuar. Já as discentes que participaram do projeto avaliaram que o mesmo contribui para o crescimento como profissionais de saúde e como cidadãs, proporcionando amadurecimento e desenvolvimento de empatia por situações não tão próximas aos seus cotidianos. Devido ao corte das bolsas para projeto de extensão não foi possível dar continuidade ao projeto.


Palavras-chave


Abuso infanto-juvenil; promoção da saúde; educação em saúde