Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Estágio em docência: Uma experiência multicultural
MARIA LAURA REZENDE PUCCIARELLI, ESRON SOARES CARVALHO ROCHA, MARIA LUIZA GARNELO PEREIRA

Última alteração: 2018-01-24

Resumo


Apresentação: O presente resumo aborda a experiência do estágio em docência, realizado na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) no curso de Enfermagem na disciplina de Saúde das Populações Amazônicas. Objetivo: Descrever a experiência da realização do estágio em docência na disciplina de Saúde das populações Amazônicas. A óptica dessa descrição é a de encontro cultural, que abarca tanto o encontro entre o aluno que está, ao cursar o mestrado, se preparando para a vida docente, quanto o encontro cultural entre os profissionais de enfermagem e suas práticas, com a população indígena. Desenvolvimento do Trabalho: O trabalho foi desenvolvido através do acompanhamento da disciplina de Saúde das Populações Amazônicas. Foram construídos dois diários, o primeiro com informações pertinentes à construção de uma disciplina, em termos teóricos, práticos e burocráticos, sendo esse o encontro cultural de uma aluna de mestrado que se prepara para, futuramente, assumir o papel de professora. E o segundo com minhas impressões pessoais relacionadas ao comportamento da turma frente a disciplina e o encontro cultural com a população indígena. Resultados: A construção de uma disciplina é um processo composto por etapas e as mesmas, ainda que planejadas sofrem modificações ao longo do caminho. O início da construção de uma disciplina contempla o desenvolvimento de documentos como: plano de aula, calendário e ementa. Esse é o momento mais solitário do professor e no qual são criadas expectativas com relação à receptividade da turma frente às atividades propostas. O segundo momento está centrado na preparação das aulas, realizada em duas partes, a primeira, teórica e a segunda prática. A teórica é centrada na organização de como o conhecimento será apreendido e reconstruído pelos alunos, a partir da maneira de apresentação da bibliografia, ao longo do curso. É uma etapa solitária do ponto de vista prático, uma vez que a bibliografia escolhida e o como ela será apresentada é uma escolha do professor, mas o objetivo é o estabelecimento da produção de sentidos daquele conhecimento para o aluno, e assim o professor busca textos e estratégias objetivando que os alunos sejam seduzidos pelo conteúdo, bem como pela forma de apresentação. A parte teórica, conduzida em sala de aula, é um território mais confortável para os alunos, mas ainda assim demanda bastante trabalho para o professor que busca mais artifícios para manutenção do interesse e interação da turma com os assuntos da disciplina. A estratégia adotada para o envolvimento dos alunos com a cultura indígena, em sala de aula, foi muito boa, uma vez que a turma foi dividia em três grupos e cada grupo correspondia a uma etnia diferente junto à qual atua o DSEI Manaus. A responsabilidade do grupo ia além de apresentar os dados de saúde, buscando comprometer-se com a exploração e exposição da cultura geral da etnia. Essa atividade mostrou que o cuidado em saúde demanda da abertura a um encontro cultural e isso também foi relatado pelos alunos após a realização da parte prática da disciplina.  A parte prática demanda dos professores a construção de uma rede de relações políticas com os órgãos e atores envolvidos na autorização para que os alunos fizessem visitas ao Distrito de Saúde Especial Indígena (DSEI) e a Casa de Saúde do Índio (CASAI). O professor precisa coordenar essa rede de relações com as instituições afetas ao tema da disciplina, o que muitas vezes modifica os planos iniciais, exigindo tempo e dedicação. A parte prática foi composta por visitas ao DSEI e a CASAI. A visita à cada local auxiliou na exploração de como o enfermeiro consegue exercer seu papel em diferentes locais dentro da rede de prestação de assistência.  Na perspectiva dos alunos a parte prática é mais livre, e especialmente nessa disciplina, por ser realizada fora da escola e a população estudada apresentar uma cultura diferente. Esse contexto gera uma maior curiosidade e, em alguma medida, certo receio de não atingir o objetivo de promover o cuidado em saúde. Então nas aulas práticas o professor é mais solicitado. O professor no campo, é procurado na busca de consulta sobre posturas diversas de alunos e usuários e esclarece dúvidas e até aprovação do trabalho que o grupo está realizando. Durante as aulas práticas foram observadas diversas situações em que o grupo de alunos expunha para o professor as experiências ocorridas durante a comunicação e assistência a população indígena, buscando auxílio para refletir sobre as situações ocorridas que, de alguma forma, eram mediadas pelas diferenças culturais, para além de dúvidas técnicas. Durante esse processo observa-se que a relação entre professores e alunos também é mediada por um conjunto de símbolos culturais que são construídos e modificados ao longo de cada disciplina. A postura com relação à prazos  e trabalhos é um exemplo disso, no qual o aluno sempre busca um aumento do prazo, não importando qual a complexidade do trabalho. Durante a parte teórica da disciplina foi minha responsabilidade ministrar uma aula. O processo de preparação dela foi permeado de pesquisa, para apropriação do assunto e tentativa de explorar de forma enfática os assuntos de modo a envolver a turma. Foi uma experiência desafiadora e enriquecedora, por ter sido a primeira aula para uma turma de graduação em uma área diferente da minha formação de base.  Assim, a disciplina desenvolveu-se em diferentes vertentes, contando com aulas teóricas, apresentação de trabalhos dos alunos e aulas práticas nas quais os grupos de alunos aplicavam e refletiam sobre suas práticas e o encontro cultural com o diferente, desenvolvendo a capacidade de estabelecer diferentes tipos de relação de alteridade com o outro, que demanda o cuidado de saúde, bem como com o professor e com os outros alunos.  Considerações finais: O mestrado é um caminho escolhido por aqueles inclinados à área de docência. Essa inclinação decorre de diferentes experiências e crenças que se concretizam e se alteram durante esse período de estágio em docência. Nessa experiência pude perceber os grupos culturais formados dentro da sala de aula, as posturas do professor em diferentes momentos e como essa flexibilidade é importante. Pude perceber ainda as negociações que existem entre os professores e alunos e entre os próprios alunos nas tomadas de decisão. Foi uma experiência enriquecedora que contribuiu muito na minha formação para a futura docência.


Palavras-chave


ESTÁGIO EM DOCÊNCIA; SAÚDE E CULTURA; SAÚDE INDÍGENA