Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO SOBRE AS COMPETÊNCIAS NO GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS DE SAÚDE INDÍGENA
Amanda Marinho da Silva, Tamiris Moraes Siqueira, Anne Kimi Vasconcelos Okazaki, Indira Silva dos Santos

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


INTRODUÇÃO

Em 1990 foi criado o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SSI), considerando as características da cultura indígena e sua realidade local cujo atendimento deve ter uma abordagem diferenciada que contemple desde a assistência à saúde até sua condição sanitária e integração institucional. O SSI tem por princípios a descentralização, hierarquização e regionalização, que norteiam seu modelo assistencial nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), compostos por Posto de Saúde nas comunidades indígenas, Pólo-base e Casa de Saúde do Índio (CASAI) que integra-se com a rede de serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) através da referência e contra-referência. O gerenciamento definido como a administração de uma unidade ou órgão de saúde prestador de serviços ao sistema, no contexto dos DSEI, mostra-se de suma importância para o seu pleno funcionamento. O responsável por desempenhar a função de gestor, na maioria das vezes é o profissional de enfermagem. Portanto, a pergunta norteadora do presente estudo é: Qual a percepção do enfermeiro sobre as competências e habilidades no gerenciamento dos serviços de saúde indígena?

OBJETIVO

Identificar a percepção do enfermeiro quanto às competências necessárias no gerenciamento de serviços de Saúde Indígena.

MÉTODOS

Trata-se de um relato de experiência do acadêmico de enfermagem no acompanhamento de atividades de enfermeiros assistenciais e gestores de serviços de Saúde Indígena na Casa do Índio (CASAI) e no Distrito de Saúde Indígena (DSEI), localizados na cidade de Manaus, durante o estágio da Disciplina de Atenção à Saúde das Populações Ribeirinhas, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, nos meses de setembro e novembro de 2017. Foi utilizado o método da entrevista não dirigida com o consentimento dos profissionais, a fim de expressarem sua percepção sobre o tema em questão. Este método foi escolhido por abordar uma realidade pouco conhecida e oferecer uma visão aproximativa do problema pesquisado.

RESULTADOS

O estudo foi realizado com 5 enfermeiras que atualmente trabalham na CASAI ou no DSEI, mas também já trabalharam em Postos de Saúde nas comunidades indígenas ou em Polos-Base, todas possuem experiência em gerenciamento em Saúde Índigena. Para a análise dos resultados das entrevistas utilizou-se o método de análise de conteúdo, através da leitura flutuante e posteriormente a exploração do material da entrevista. Os conteúdos das entrevistas foram organizados por competências do enfermeiro gestor: comunicação, criatividade, pensamento crítico, conhecimento sobre os aspectos sócio-culturais das etnias e organização no processo de trabalho.

1- Comunicação

É definida como habilidade ou capacidade de estabelecer um diálogo. Em se tratando de saúde indígena, as entrevistadas 1 e 2 apresentaram alguns problemas que exigem uma boa comunicação do enfermeiro: “A demanda de clientes é muito grande e seu tempo de permanência na CASAI é demorado por conta do tratamento e exames, levando de 4 a 5 meses de permanência aqui”. (ENTREVISTADA 1). “O agendamento de consultas é feito pelo Sisreg, como o indígena não tem um sistema de regulação próprio do SSI, ele entra na fila do SUS como qualquer outro paciente”. (ENTREVISTADA 2). Apesar das dificuldades apresentadas, a entrevistada 5 afirma que o enfermeiro de tem que resolver problemas, sendo “articulado” para saber para qual serviço de saúde encaminhar o cliente, ter uma boa comunicação para procurar todas as redes do município, avisar a CASAI, solicitar passagem para o paciente e acompanhante, e informar o enfermeiro do Polo sobre o retorno do paciente.

2- Criatividade

É a qualidade da pessoa criativa, de quem tem capacidade, inteligência e talento para criar, inventar ou fazer inovações na área em que atua. Todas as entrevistadas entram em acordo que a saúde indígena exige que o enfermeiro seja criativo para oferecer um cuidado transcultural. Nos postos de saúde nas comunidades indígenas, as entrevistadas 3 e 4, citam a vacinação, como exemplo, de abordagem criativa para conquistar a confiança dos indígenas, através de lanches e ressaltando que a vacinação é para evitar doenças, além de atividades de educação em saúde de forma coletiva com rodas de conversa e dinâmicas para sensibilização e prevenção. Na CASAI, a entrevistada 1 projeta uma divisão de enfermarias por patologia a fim de evitar infecção cruzada e  para organizar o cronograma diário de consultas e exames, a entrevistada 2 afirma todos os enfermeiros escrevem em um livro de registro as atividades que serão realizadas nos próximos 15 dias, para ajudar a lembrá-los.

3- Pensamento Crítico

O pensamento crítico consiste em analisar e avaliar a consistência dos raciocínios. A Entrevistada 4 destaca esta competência na hora da classificar o risco do cliente ao ser encaminhado do Polo-base para os serviços de referência, evitando assim as falsas urgências. Outro aspecto que ela explora é a multidisciplinariedade no trabalho do enfermeiro: “Nos atendimentos nas comunidades indígenas, o enfermeiro deve realizar um cuidado completo, que avalie o indígena na sua totalidade, como um ser que tem uma cultura, sociedade e características de saúde peculiares que devem ser valorizados na forma de abordá-lo”.

4- Conhecer os aspectos sócio-culturais das etnias

Todas as entrevistadas concordam que a barreira linguística dificulta o atendimento, mas que durante as consultas os clientes são acompanhados por técnicos de enfermagem indígenas para facilitar o diálogo. A entrevistada 3 afirma que o enfermeiro em saúde indígena deve desenvolver a capacidade de interpretar a comunicação não-verbal do cliente, como o toque, as expressões faciais e os sons, além de utilizar uma linguagem simples, de fácil compreensão para o ouvinte. Na assistência, a entrevistada 1 adotou enfermarias mistas (feminina e masculina), por conta da questão cultural indígena de cuidar do parente em sua enfermidade.

5- Organização no processo de trabalho

Tal competência é requerida em todos âmbitos da saúde indígena, segundo as profissionais, por  exemplo, nos postos de saúde, facilita na prestação de contas dos indicadores dos programas da Atenção Básica pactuados anualmente, assim como no cumprimento de sua metas. Já na CASAI, segundo a entrevistada 1, a organização no processo de trabalho funciona em torno do sistema de referência e contra-referência, tanto na admissão do cliente quanto na sua alta hospitalar, em ambos com o parecer da enfermeira com todas as consultas e tratamentos anotados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os enfermeiros percebem que como gestores dos serviços de Saúde Indígena devem possuir competências tais como a comunicação, a criatividade, o pensamento crítico, o conhecimento sobre os aspectos sócio-culturais das etnias e organização no processo de trabalho. Estas competências devem ser desenvolvidas desde os cursos de graduação de enfermagem para o aprimoramento do profissional para um cuidado transcultural às populações indígenas.


Palavras-chave


Saúde de Populações Indígenas; Administração de Serviços de Saúde; Serviços de Saúde do Indígena;