Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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AS INSERÇÕES DA ARTE E DA CULTURA NA SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA COM A MEMÓRIA SOCIAL DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA DA AMAZÔNIA.
Rommel Gonçalves de Sá

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


AS INSERÇÕES DA ARTE E DA CULTURA NA SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA COM A MEMÓRIA SOCIAL DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA DA AMAZÔNIA.

Rommel Gonçalves de Sá[1]; Marcelo Gustavo Aguilar Calegare[2]; Moacir Tadeu Biondo[3];Paulo Ricardo de Oliveira Ramos[4]; Thaline Lima[5]

 

Introdução: Sabe-se que uso de plantas medicinais para o tratamento de doenças é antigo e está registrado e presente na história de muitos povos. No Brasil há um reconhecimento legal de uso das mesmas, bem como políticas protetoras dos seus conhecimentos e manejos. O presente artigo tem como objeto o estudo da memória social sobre o uso de plantas medicinais por uma comunidade ribeirinha da Amazônia por meio da experiência narrativa. Partindo do pressuposto de que a produção de narrativas permite que o sujeito, como narrador, seja um sujeito com liberdade de criar, ao contrário do sujeito preso aos formalismos e objetivações dentro do mundo urbano, aprisionado ao consumismo. Isso pode ser visto, como expressão da arte em uma cultura. A Psicologia Social carece de trabalhos e estudos acerca dos saberes tradicionais dessas comunidades ribeirinhas, visto que nas relações dos ribeirinhos com a natureza há processos psicossociais implicados, como memória social, significações, sentidos, modos de vida. Espera-se que esta pesquisa contribua com os processos de sustentabilidade dos próprios ribeirinhos e na valorização dos saberes que garantem essa sustentabilidade, de forma mais sistemática. Além disso, poderá reforçar e fazer reconhecer a preocupação com suas condições de existência em seus espaços, fortemente definidores de suas identidades. A pesquisa  tem como objetivo verificar se a população dessa comunidade ribeirinha ainda mantém viva a memória de uso de plantas medicinais em seu cotidiano, mais especificamente: entender os aspectos relacionados à valorização dos saberes tradicionais de plantas medicinais, a investigação das formas de manutenção da memória social e a compreensão dos processos de transmissão desses saberes. Desenvolvimento: A pesquisa de campo será realizada em uma comunidade ribeirinha, localizada no Careiro da Várzea/ Am. Participarão da pesquisa, maiores de idade e moradoras da comunidade e que aceitaram participar da pesquisa.  A pesquisa será de cunho qualitativo, pois conta, em sua metodologia, com o uso de: observação participante, pesquisa narrativa e anotações em diário de campo. O tempo vivo da memória  é  o tempo subjetivo, o tempo do vivido pelo narrador. Esse tempo vivo permitirá aos narradores empurrar (no sentido de fazer progredir, as multiplicidades de passados vividos e relacionados ao uso de plantas medicinais) para o presente a fim de conceder-lhes formas, conforme as intensidades das emoções e dos afetos, em um processo de rememoração espontâneo. Isso torna o tempo duração, um tempo que não é regressão, mas sim progressão e se abre ao presente e ao futuro como algo que tramita em potência, como algo que se desdobra em um processo de atualização oferecendo a cada instante uma forma com configurações diferentes, na dimensão da complexidade. Durante esse processo de elaboração das narrativas, alguns dos participantes, como é comum nesse tipo de pesquisa, poderão expressar fortes emoções, afetados pelas recordações. Olhos minguantes e submersos em lágrimas, lamentações por amores e coisas perdidas, palavras flutuando no ar com fumaça de tabaco e escarradas no chão em meio a algumas poucas mediações do pesquisador, poderão compor esse momento do sublime da arte. A pesquisa narrativa  poderá se mostrar como um método capaz de gerar uma sensação de bem-estar por meio da criação de uma bela obra de arte, de cunho poético, que é esse recurso da tradição oral, que é esperado estar presente na comunidade a ser pesquisada, a narrativa. Os participantes  serão convidados a narrar, particularmente, suas experiências acerca do uso de plantas medicinais. Resultados: Com a aplicação da pesquisa narrativa será esperado a percepção das inquietações dialéticas dos significados e dos sentidos atribuídos ao uso das plantas medicinais e da razão da transmissão desses saberes dentro da comunidade a ser investigada, mesmo com a presença da medicina oficial. A pesquisa narrativa leva em consideração a existência de um elemento comum nesses relatos, o enraizamento, o elemento garantidor de a memória permanecer viva. Assim, a saúde para esses comunitários se associa à natureza, ao mundo natural e sobrenatural? Como os dados a serem tratados serão de caráter qualitativo, então se utilizará a Análise de Conteúdo. A análise dos dados permitirá se encontrar uma forte relação do que será coletado com os objetivos formulados. Mesmo partido do pressuposto de que muitas comunidades ribeirinhas da Amazônia cultivam e utilizam plantas medicinais, fica difícil de tecer uma previsão acerca da comunidade a ser investigada em razão das especificidades e complexidades que envolvem as mesmas. Somente os relatos produzidos poderão revelar isso. Poderão revelar, também, como os participantes aprenderam a usar plantas medicinais para o tratamento de doenças, se foi com os pais, se há uma ancestralidade distante e como esses conhecimentos foram transmitidos. Será que estarão de acordo com o que muitos autores pensam: transmitidos de forma oral e de geração para geração? Em muitas pesquisas realizadas,  os participantes afirmaram em seus relatos que parte do sustento de suas famílias está ligada ao cultivo e comercialização de plantas medicinais e que ao prepararem as mesmas para a comercialização costumam entoar cantigas deixadas pelos seus antepassados. Isso pode ser outro forte pressuposto a ser considerado para esta investigação. Outra questão interessante, que aparece em muitos  relatos é que o cultivo e o uso de plantas medicinais medeiam as diversões e os processos de participação democrática dentro dessas comunidades estudadas parece confirmar que a vida gira em torno disso. Considerações Finais: Pode-se dizer que, tanto a aplicação da pesquisa narrativa, como técnica de pesquisa, quanto os resultados esperados parecem encaminhar este estudo para assumir a categoria de  obra de arte. É esperado, com este estudo acerca da memória social sobre o uso de plantas medicinais que ainda se encontre viva nessa comunidade, pois isso implica em manter a saúde da própria comunidade. Além disso,  a manutenção da mesma está associada ao funcionamento de aspectos sociais, políticos e econômicos. E a arte, por meio das narrativas, trabalha não meramente a relação matéria e forma como também os sentidos, como cada um trata os significados, as subjetividades em processos sublimatórios. Isso é saúde, poder reconhecer a si mesmo nas relações consigo, com os outros e com o mundo, ao perceber que todas as coisas falam e estimulam as lembranças e possibilitam guiar ações a partir da sensibilidade estética, enquanto criar incessante, como autêntica póiesis.

Palavras-chaves: plantas medicinais; memória social; pesquisa narrativa; arte; saúde.

 


[1] Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: E- mail: rommelde@bol.com.br.

[2] Professor orientador, Doutor em Psicologia Social (USP) - Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: mgacalegare@gmail.com.

[3] Técnico especialista em plantas medicinais - Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: moacirbiondo@uol.com.br.

[4] Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: pr.ufam.ps@gmail.com.

[5] Acadêmica do Curso de Psicologia - Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: thaa.liima@gmail.com.

 


Palavras-chave


plantas medicinais; memória social; pesquisa narrativa