Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-26
Resumo
APRESENTAÇÃO: Este relato de experiência visa abordar a temática do PCCU sob as perspectivas de acadêmicos de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará. Em virtude dos elevados índices de câncer de colo útero no Brasil, torna-se importante discutir o panorama atual no qual o país, sobretudo a capital do estado do Pará, está inserida. De acordo com as estimativas do Instituto Nacional do Câncer, somente para o ano de 2016 foram esperados cerca de 16.340 novos casos a nível nacional, 1.970 e 990 notificações dos estados e das capitais da região norte, respectivamente, 820 novos casos no estado Pará e 260 novos casos em Belém (INCA, 2015). Diante desse cenário, torna-se essencial discutir o papel do enfermeiro, enquanto profissional, docente e principalmente quanto acadêmico em processo de formação, no que se refere as ações de promoção, prevenção e tratamento das afecções específicas do gênero feminino. Atualmente, a estratégia adotada para o rastreamento de câncer do colo do útero consiste na realização periódica do exame citopatológico, popularmente conhecido como PCCU ou preventivo. O rastreamento eficaz do público alvo corresponde a um dos focos principais da AB e reflete significativamente na redução dos índices de afecção e mortalidade por câncer de colo do útero. Em países onde o exame é realizado de cada três a cinco anos, com cobertura maior que 50%, as taxas de mortalidade são inferiores a três por 100 mil mulheres ao ano, naqueles onde a cobertura é superior a 70%, a taxa de mortalidade é igual ou inferior a duas mortes por 100 mil mulheres ao ano (BRASIL,2016). Infelizmente os serviços de saúde brasileiros utilizam majoritariamente o padrão de rastreamento oportunístico, no qual cerca de 20% a 25% dos exames realizados não atendem ao grupo etário recomendado e possuem intervalo menor ou igual a um ano, quando o recomendado são três anos. Dessa forma, há mulheres superrastreadas e outras totalmente descobertas (BRASIL,2016). Segundo a resolução Nº 385/2011, do Conselho Federal de Enfermagem, a coleta de material para o exame preventivo do câncer de colo do útero, consiste em um procedimento complexo, que necessita de competência técnica e científica conferida ao enfermeiro. Para tanto, é essencial que ainda na academia os discentes tenham contato com o procedimento para adquirir as habilidades necessárias. No entanto, a realidade de atendimento oferece algumas barreiras no que se refere à inserção de acadêmicos na rotina dos serviços voltados a saúde da mulher, em especial a presença de homens na coleta do exame PCCU. Dentre as barreiras encontradas estão à vergonha, o incômodo, o medo do procedimento e a própria preferência de gênero, esses fatores evidenciam a influencia da sexualidade na vida da mulher e reforçam a importância do estabelecimento do vínculo de confiança entre o profissional de saúde e a usuária, no intuito de minimizar os aspectos negativos atribuídos ao exame e alcançar maior adesão ao procedimento que deve ser realizado por enfermeiros de ambos os sexos (NOGUEIRA et. al, 2017). Este estudo tem por objetivo relatar a experiência de um grupo de acadêmicos de Enfermagem, frente ao procedimento da coleta do exame PCCU em uma unidade de Atenção Básica (AB) do município Belém-Pa., no período das aulas práticas do componente curricular de saúde da mulher. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Trata-se de um relato de experiência, com abordagem descritiva, realizado em uma unidade de saúde da Atenção Básica, localizada no bairro de Fátima do município de Belém-PA. Este estudo foi desenvolvido durante as aulas práticas do componente curricular de saúde da mulher na AB. Inicialmente o grupo composto por 5 integrantes (3 mulheres e 2 homens) foi divido em dois subgrupos, os quais foram alocados para setores distintos. O subgrupo no qual as 3 acadêmicas foram selecionadas iniciou os atendimentos pela sala de coleta do exame PCCU, enquanto que os dois acadêmicos homens iniciaram as atividades pela sala de vacina, triagem e consultas de pré-natal. No decorrer dos 15 dias de aulas práticas na unidade de saúde, os subgrupos se revezaram entre os setores e atendimentos oferecidos, tais como: aferição de pressão arterial, verificação dos dados antropométricos, consultas de enfermagem e baixas de pré-natal, cadastros no sistema operacional da sala de vacina, atendimento de imunização, bem como o acolhimento, agendamento e realização do exame PCCU. RESULTADOS: Este estudo possui enfoque na prática atrelada ao procedimento de coleta do exame preventivo do câncer de colo do útero, portanto os resultados encontrados serão estritamente relacionados a temática, independente das experiências nos demais setores. Logo, tornou-se possível observar que durante os 15 dias destinados as aulas práticas de saúde da mulher, o quantitativo de coletas realizadas pelo grupo foi distinto. No subgrupo das três acadêmicas, cada uma fez em média 3 coletas supervisionadas pela preceptora e acompanhou pelo menos mais duas, enquanto que dos dois acadêmicos, apenas um conseguiu visualizar o procedimento completo. Os homens tiveram acesso maior à parte burocrática relacionada ao serviço, ou seja, ao agendamento do procedimento, registros e entrega dos resultados laboratoriais. Notou-se ainda, a grande resistência e insegurança por parte das usuárias quanto à inserção dos acadêmicos homens durante o procedimento, mesmo que fosse apenas para visualizar a técnica, esse fator corroborou para a deficiência da experiência prática do subgrupo masculino. Neste sentido, o atendimento misto tende a garantir maior inserção do profissional do sexo oposto na promoção à saúde da mulher, e também minimizar a recusa das usuárias (NOGUEIRA et. al, 2017). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao longo dos atendimentos na unidade, observou-se nitidamente a resistência e desconforto das usuárias quando eram indagadas se os acadêmicos do sexo masculino poderiam realizar ou somente acompanhar o procedimento do exame PCCU. Para tanto, reforça-se a importância da educação em saúde relacionada à quebra dos tabus quanto à presença de homens nos serviços voltados a saúde da mulher e elucidação dos aspectos éticos que regem a profissão, além de incentivar a inserção do homem e neste caso, dos acadêmicos de enfermagem, como profissionais éticos e qualificados para tal procedimento. Não obstante, é de suma importância elucidar o papel que as usuárias possuem no processo de formação acadêmica e de melhorias na qualidade do serviço oferecido, bem como esclarecer não somente a importância, mas também os benefícios que tal procedimento pode trazer a sua saúde e qualidade de vida.