Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Funcionalidade e singularidade no cuidado em Centro de Reabilitação: Capacitação de profissionais para o uso da CIF/OMS
Maria Cristina Pedro Biz

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: Este trabalho compreende parte de pesquisa de doutorado de uma das autoras. Aborda-se aqui o processo de implementação da CIF/OMS em um Centro Especializado em Reabilitação de uma cidade de médio porte de São Paulo por meio da capacitação dos profissionais de diferentes áreas para construção e aplicação de um instrumento de avaliação baseado na CIF/OMS (checklist). A proposta visa mostrar sua importância na organização do trabalho multi e interdisciplinar, contribuir para maior conhecimento/reflexão do impacto das condições de saúde para o usuário bem como para o aprimoramento do cuidado e da atenção em em saúde e oferta de projetos terapêuticos singulares. O modelo multidimensional oferecido pela CIF, em que o ambiente onde as pessoas vivem é fator importante para o estado de saúde das populações com repercussão na prevalência e extensão da deficiência, permite mensurar as interações, trazendo informações úteis acerca da pessoa (prover um dispositivo assistivo) na sociedade (implementar leis contra a discriminação, por exemplo), ou ambos, produzindo dados que forneçam maior visibilidade sobre o processo terapêutico quanto a evolução do usuário, mensurar a melhoria da sua capacidade e desempenho, estabelecer estratégias terapêuticas de acordo com as necessidades pessoais de cuidado, e com sua habilidade em viver de forma independente e autônoma. A funcionalidade e a incapacidade de uma pessoa são concebidas, a luz da CIF, como uma interação dinâmica entre os estados de saúde (doenças, perturbações, lesões, traumas, etc.) e os fatores contextuais, permitindo mensurar as mudanças de estado relativas à condição de saúde e classificar e descrever o contexto em que esses problemas acontecem o que possibilita planejar, desenvolver estratégias e estabelecer ações das equipes, dos serviços em saúde. Isso possibilita a construção progressiva de escalas que clarifiquem o fenômeno saúde-doença-funcionalidade-cuidado. Utilizar a CIF no processo de trabalho também contribui para promoção de mudança de paradigma da saúde e do sujeito, hoje, baseada na doença para uma abordagem que prioriza a funcionalidade como um componente da saúde. Desenvolvimento do trabalho: Os participantes são profissionais de saúde de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, Terapia Ocupacional e Serviço Social de um Centro Especializado em Reabilitação de um município do interior de São Paulo. Trata-se de unidade de serviço de reabilitação física composta por equipe multidisciplinar, que presta assistência domiciliar e ambulatorial, 22 profissionais de ambos os sexos, que prestam assistência a uma média de 100 adultos e idosos com condições de saúde de origem neurológica e física. O processo de capacitação envolveu aplicação de questionário quanto ao conhecimento da CIF, seguida da apresentação dos conceitos, estrutura e formas de aplicação e instrumentalização para que as diferentes áreas produzissem um checklist para utilização da CIF. Foi realizado um Grupo Focal com os profissionais para conhecer suas percepções e atitudes quanto a estrutura da CIF, o entendimento dos seus domínios, as possíveis dificuldades na aplicação e a lógica conceitual trazida pela CIF. Na sequencia, considerando-se o processo de trabalho em que cada profissional está inserido, foram desenvolvidos checklists da CIF com informações dos profissionais em suas áreas de atuação, a partir das seguintes questões norteadoras: rotina de trabalho -  complexidade, demanda, procedimentos; meios de coleta de dados - triagens, exames, consultas; estratégias terapêuticas - avaliação, processo terapêutico e reavaliação. Os códigos de cada domínio da CIF que compuseram o checklist contempla as diversas áreas da equipe multidisciplinar. O processo de escolha dos códigos iniciou já na capacitação, com base no perfil clínico da população atendida, do nível de complexidade e tipo de assistência do serviço. Em conjunto com a equipe foram definidos os seguintes segmentos do serviço: Assistência Domiciliar, Assistência Muscoesquelética, Reabilitação Neurológica e Fonoaudiologia Infantil, sendo desenvolvidos checklists para cada setor. A análise do checklist será feita pelos profissionais, comparando-se os qualificadores da CIF ao longo do tempo nas avaliações em três momentos: avaliação inicial, intervenção e reavaliação, o que possibilitará gerar indicadores de funcionalidade e incapacidade que permitirão analisar conjuntamente com o usuário o processo terapêutico quanto as estratégias utilizadas, em qual, ou quais componentes trazidos pela CIF são necessários ajustes e intervenções, a efetividade do planejamento proposto. Importante salientar que o uso da Classificação não substitui a avaliação especifica do profissional em sua área. A avaliação conjunta composta por cada área fornecerá subsídios das condições de saúde da população atendida. Resultados: Conforme o questionário inicial aplicado no inicio da pesquisa, dos 22 profissionais do serviço, apenas 10 já tinham algum contato com a CIF, e com a percepção que reflete o grupo de que “ a CIF é muito difícil!”. Os resultados preliminares do grupo focal dos profissionais trazem a posição consensual quanto a importância da capacitação para uso da CIF para compreensão da sua lógica conceitual, do modelo proposto pela classificação, e da sua estrutura, ao mesmo tempo em que trazem a preocupação da utilização da CIF como complexa e trabalhosa. Foram elaborados 4 checklists: Assistência Domiciliar (Fisioterapia e Psicologia); Assistência Muscoesquelética (Equipe envolvida - Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional e Psicologia), Reabilitação Neurológica (Equipe envolvida - Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Psicologia e Fonoaudiologia) e Fonoaudiologia Infantil. Com exceção da Assistencia Muscoesquelética, cuja rotina de atendimento abrangem 10 sessões, para as outras áreas, foi estabelecido 3 meses de acompanhamento para aplicação da CIF, que se encontram em andamento. Considerações finais: Os resultados mostram que parcela significativa dos profissionais do serviço já tinham um conhecimento prévio da CIF, mas todos compartilhavam a mesma percepção de que se trata de um instrumento de aplicação complexa e trabalhosa. Todos valorizaram o processo de capacitação para maior compreensão e implementação da CIF no serviço, que resultou na elaboração de 4 ckecklists de diferentes áreas do serviço. Os achados preliminares evidenciam a contribuição da CIF como subsídio para as avaliações multiprofissionais, definição de metas, gerenciamento das intervenções e medida de resultados no serviço estudado. No desenvolvimento do processo, tais checklist baseados na CIF poderão ser incorporados à rotina de trabalho tendo em vista oferecer cuidado qualificado, atendendo as demandas dos usuários e os objetivos da equipe multidisciplinar.


Palavras-chave


Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, Singularidade e cuidado em saúde, planejamento terapêutico