Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DESAFIOS PERANTE O DIABETES TIPO2
Maria de Nazaré de Souza Ribeiro, Selma Barboza Perdomo, Cleisiane Xavier Diniz, Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, Orlando Gonçalves Barbosa, Edvania Oliveira Babosa

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Tendo em vista o alcance de melhores condições de vida, as pessoas que acometidas pelo Diabetes mellitus Tipo 2 (DM2) precisam fazer várias adaptações no cotidiano, sobretudo no tocante aos hábitos alimentares, o que, via de regra, as predispõe a dificuldades relacionadas à vida social. Além do impacto na esfera social, tais adaptações baseiam-se, sobretudo, em medidas restritivas, colidindo com o desejo e com a autonomia destas pessoas que sofrem também pelo cerceamento de sua vontade e decisão sobre sua alimentação e hábitos, que implica em sentidos que transcendem a perspectiva fisiológica. Sensibilizar os indivíduos acometidos por DM2 para compreender essa necessidade de alterações no estilo de vida pessoal é papel fundamental dos profissionais que lidam com essas pessoas, Assim, acredita-se que as ações de promoção de saúde junto a indivíduos em vulnerabilidade devem primar pela busca das potencialidades dos contextos para novos arranjos que favoreçam interações transformadoras. Os encontros por meio de rodas de conversa é um modelo de intervenção terapêutica que visa proporcionar um espaço comunitário onde se procura partilhar experiências de vida e sabedorias de forma horizontal e circular. Nas rodas de conversa cada participante torna-se terapeuta de si mesmo, a partir da escuta das histórias de vida relatadas. Todos se tornam corresponsáveis na busca de soluções e superação dos desafios do cotidiano em um ambiente acolhedor e caloroso, por acreditar que os indivíduos e grupos sociais dispõem de mecanismos próprios para superar as adversidades contextuais. A roda de conversa é um espaço de partilha e confronto de ideias, onde a liberdade da fala e  proporciona ao grupo  e a cada indivíduo, em particular, o crescimento na compreensão dos seus próprios conflitos. Este estudo teve como objetivo conhecer os desafios das pessoas com Diabetes mellitus tipo 2 perante a doença, a partir de seus próprios relatos. Trata-se de um estudo descritivo exploratório, realizado mediante abordagem qualitativa, realizado com 30 pessoas acometidas por DM2 acompanhadas pela Pastoral da Saúde no bairro de Petrópolis, na zona sul da cidade de Manaus (AM). Para proceder à análise do material coletado utilizou-se a técnica de análise de conteúdo dos dados qualitativos obtidos por meio de entrevistas O estudo seguiu todos os trâmites éticos necessários. A coleta de dados foi feita a partir das rodas de conversa realizadas quinzenalmente com o grupo durante um ano. Além dos encontros presenciais, os participantes receberam ligações semanais dos pesquisadores, para acompanhamento de forma mais individualizada. As rodas de conversa da presente pesquisa obedeceram as seguintes etapas: acolhimento; escolha do tema; contextualização; problematização e encerramento. Nos encontros com o grupo, foi utilizado gravador de voz e música ambiente com canções populares, além de diferentes dinâmicas. Durante os encontros os voluntários da pesquisa foram estimulados a falar sobre seus desafios perante o diabetes, a partir das seguintes afirmativas: Eu sou uma pessoa...; O que me traz alegria na vida é...; Minhas principais dificuldades perante o diabetes é...; O que eu ainda gostaria de saber sobre o diabetes é... Os resultados mostraram que: com relação à afirmativa Eu sou uma pessoa...: a maior parte respondeu ser uma pessoa feliz, alegre, prestativa e útil. Percebe-se que as pessoas conseguem transcender suas limitações, encontrando forças para enfrentar impossibilidades e limitações, sentindo-se útil na sociedade. Com relação à questão O que me traz alegria na vida é...: as respostas mais frequentes foram ter saúde e estar em paz com a família. A família atua como um importante pilar tanto para apoiar como para deixar ser apoiada. No questionamento sobre Minhas principais dificuldades perante o diabetes é...: o controle da alimentação, não poder comer tudo o que gosta, a aquisição dos medicamentos, a sintomatologia da doença que incomoda (sonolência, estresse, fraqueza, dormência, tontura, prurido), o isolamento social devido o constante mal estar e a dificuldade em marcar as consultas médicas que necessita. A percepção de como as pessoas com diabetes constroem seu processo de vida e a busca pela saúde é evidenciada no reconhecimento de sua condição como algo que demanda de cuidados e mudanças no seu cotidiano. O sedentarismo, o estresse, a alimentação inadequada (considerados sociopatógenos),  associados à predisposição hereditária abarcam a necessidade de uma abordagem psicossocial para o diabetes e precisam ser compreendidas a partir da história da pessoa que vivencia o dia a dia da cronicidade dessa doença, para que sejam estabelecidas ações transformadoras de conduta, visando minimizar os efeitos deletérios e, consequentemente, as complicações do diabetes. As respostas sobre O que eu ainda gostaria de saber sobre o diabetes é...: o que posso fazer para evitar a cegueira provocada pelo diabetes? Quais as consequências e complicações do diabetes? Como cuidar dos pés e das unhas? Quantos anos pode viver a pessoa com diabetes? Tipos de plantas medicinais para diabéticos? Quais os efeitos e reações dos medicamentos? O diabetes tem cura? Tais questionamentos demonstram que, mesmo as informações básicas sobre a doença, são de desconhecimento da maioria. As pessoas que possuem dificuldades para compreender as consequências e as complicações da doença tem maior dificuldade para aderir ao tratamento. A partir destes resultados os participantes da pesquisa participaram quinzenalmente de encontros de orientações para o autocuidado, com temas  sugeridos por eles e preparados por toda a equipe do projeto. Em todos os encontros havia um tema central, escolhido pelos integrantes que vivenciavam de diferentes maneiras o seu processo de aceitação do viver com diabetes, sendo que em todos os encontros discutiu-se as múltiplas facetas que compõem esse cotidiano. Durante o processo educativo, buscou-se estratégias efetivas que pudessem auxiliá-los no manejo da doença. Esse investimentos a longo prazo pode ser feito pelas equipes de saúde, já que os custos para tratamentos dos indivíduos,, somados às complicações da doença, são enormes. A compreensão desse processo como um ato de compartilhamento de experiências, vivenciando, na prática, a busca conjunta de soluções para as questões a serem enfrentadas, traz uma nova perspectiva para as pessoas. Conclui-se que as rodas de conversa se justificam pelas possibilidades de exercícios de responsabilidade individual e coletiva e, portanto, prática cidadã e democrática. Assim, estudos que se propõem a uma aproximação dos profissionais da saúde com pessoas  que vivem o diabetes, poderão contribuir para o desenvolvimento de uma comunicação mais efetiva a partir da compreensão do que envolve o viver com essa doença. Os indivíduos acometidos pelo Diabetes necessitam de acompanhamento sistemático por equipe multiprofissional de saúde com o objetivo de  oferecer instrumentos necessários  ao manejo da doença com vistas ao autocuidado. De grande importância destacam-se as informações que possibilitem ao usuário lidar com situações do cotidiano advindas da doença tais como a aceitação, a tomada de decisões frente à doença, o uso adequado dos medicamentos e a melhor forma de se auto cuidar e prevenir as complicações.


Palavras-chave


diabetes; roda de conversa; promoção de saúde