Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Integração ensino-serviço-comunidade: a experiência de um seminário
Daniele Taschetto, Ana Paula Garcez Amaral

Última alteração: 2017-12-27

Resumo


Apresentação:

O impacto da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e da implantação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) como projeto de reorientação e reorganização dos serviços e das práticas profissionais com vistas à mudança do modelo de atenção à saúde evidenciou o descompasso entre o ensino da área de saúde e as necessidades da população brasileira. Tem-se constatado, ao longo do tempo, que o perfil de atuação dos profissionais formados nas universidades não tem sido adequado para um trabalho na perspectiva da saúde como produto social e, tampouco, para um cuidado integral e equânime (GIL, 2008).

 

Nessa perspectiva, o seminário teve como propósito discutir as ações em saúde desenvolvidas pelos cursos em suas atividades teórico-práticas, tanto na academia quanto na comunidade, numa perspectiva interdisciplinar. Além de favorecer o debate crítico para a reorientação da formação profissional em saúde, aproximou os estudantes da realidade de saúde dos diversos cenários de atuação por meio de atividades interdisciplinares. O presente artigo visa relatar a experiência deste seminário, realizado durante o primeiro semestre do ano de 2017, com tema sobre integração entre ensino, serviço e comunidade. Foi promovido por cursos da área de saúde, residências multiprofissionais e participantes do PET-Saúde GraduaSUS. Além disso, contou com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde através do Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPeS). Os participantes foram estudantes, profissionais dos serviços de saúde e comunidade.

Desenvolvimento do trabalho:

Em um primeiro momento, pré-seminário, foram realizados 4 encontros para promover a organização do evento. Contaram com a presença de petianos de medicina e enfermagem e voluntários. Nas reuniões foram preparados o Momento Cultural, elaboração do material para as oficinas, a escolha dos participantes para as palestras e para a coordenação das oficinas. O seminário contou com acadêmicos da área de saúde e profissionais dos serviços de saúde do município. Dessa maneira, promoveu-se a integração entre o PET e os cursos de graduação, residentes, e profissionais da área de saúde, entre eles Agentes Comunitários de Saúde, Enfermeiros, Médicos, Odontólogos, participantes do Núcleo Atenção a saúde da família (NASF) e NEPeS.

 

Pela parte da manhã, as mesas-redondas foram pensadas estrategicamente para que tivessem falas de representantes da equipe do NEPeS, professores, profissionais das Unidades de Saúde, preceptores, residentes, tutores e estudantes. As mesas-redondas apresentaram os seguintes temas: Atuação do Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPeS) e sua integração com as Instituições de Educação Superior; Vivências das Residências Multiprofissionais em Área da Saúde; PET-Saúde GraduaSUS. Além disso, relatos de experiência sobre as Ações extensionistas dos Cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Odontologia; e das práticas em uma Estratégia de Saúde local.

 

Outrossim, pela parte da tarde ocorreram 10 oficinas. Os participantes do evento foram separados em grupos para a realização das mesmas. Em cada uma, eram realizadas rodas de conversas, com abertura para cada organizador da oficina realizar uma metodologia. Após a discussão em grupo, foram confeccionados cartazes com os principais pontos levantados. As perguntas norteadoras foram sobre as Fortalezas, Desafios e Estratégias dentro da Integração Ensino-Serviço- Comunidade.

 

Resultados e/ou impactos:

 

A construção das oficinas se mostrou como uma das partes com potencial mais rico durante o seminário, pois promoveu o diálogo e a troca de ideias entre os diferentes atores que compõem o eixo do ensino, serviço e comunidade. Dessa maneira, cada um dos atores contribuiu com o seu ponto de vista, para que todos chegassem a um comum acordo. O que ficou evidenciado foi que os mesmos pontos que se constituem nas fragilidades do SUS, são aqueles que foram citados como potenciais fortalezas e estratégias e, muitas vezes, eles estão inter-relacionados.

 

A principal fortaleza debatida nas oficinas foi o papel do aluno. O contato inicial deste, propiciado pela nova grade curricular, desde o início da graduação com a comunidade, permite que desenvolva um olhar integral do usuário, após conhecer a sua realidade social. Dessa maneira, o profissional formado sabe reconhecer a importância dos determinantes sociais de saúde da população que irá atender. Além disso, consegue efetivar uma escuta mais qualificada e acolhedora, conforme os princípios de acolhimento do SUS. Destacou-se a importância dos projetos de extensão universitários, principalmente durante as férias, já que é o período em que o serviço fica sem os estudantes, os quais muitas vezes ainda dependem do fluxo de alunos para conseguir manter um número de atendimento adequado, devido à falta de profissionais contratados.

 

Em relação aos desafios apresentados, um dos principais é a dificuldade para se realizar um trabalho interdisciplinar. Mais uma vez, fica evidente o caminho que a graduação deve traçar para cada vez mais incluir a interdisciplinaridade no currículo. Além disso, a educação permanente se mostra fundamental para reorientar a prática dos profissionais já formados. Para que seja efetivo o cuidado integral, o atendimento deve ser realizado de maneira conjunta pela equipe, com avaliação coletiva dos casos. Entretanto, também foi salientada a resistência de muitos profissionais de aderirem às mudanças sugeridas, seja devido à falta de incentivo financeiro ou motivacional.

Ademais, a elaboração das estratégias se demonstrou como a maior dificuldade encontrada nas oficinas. Após os debates, foram sugeridas algumas proposições: a transformação de todos os participantes da rede em protagonistas do processo de trabalho; efetiva integração entre o ensino, serviço e comunidade, com destaque para a participação e controle social; descentralizar a atenção da figura do médico e do hospital e ampliar o cuidado para toda rede; proporcionar o autocuidado; identificar o modelo de saúde proposto pelo município, para pautar ações prioritárias com objetivo comum; conhecer as demandas locais, as especifidades de cada microrregião; maior visibilidade à rede existente, mapeando os serviços  e fluxos de encaminhamentos.

 

Considerações finais:

 

Evidencia-se o papel fundamental de realizar espaços, como esse seminário, que promovam o contato e o diálogo entre ensino, serviço e comunidade para reorientar a formação dos profissionais de saúde e dos estudantes, bem como as ações da gestão. O aprofundamento das discussões sobre o papel dos profissionais da rede no processo de formação na saúde e a importância de os serviços assumirem esta função também para si, tornando-se corresponsáveis pela formação profissional, constituem em estratégias chaves para consolidar o SUS (GIL, 2008).

 

O enfrentamento das dificuldades apresentadas, sem dúvida, aliado a estratégias que visem objetivos em comum, resultará em medidas estruturantes para o fortalecimento do ensino na e para a atenção básica, consolidando não apenas o SUS, mas também qualificando as práticas do cuidado em saúde em todos os níveis e pontos da rede (GIL, 2008).

 

Referências:

GIL, Célia Regina Rodrigues et al. Interação ensino, serviços e comunidade: desafios e perspectivas de uma experiência de ensino-aprendizagem na atenção básica. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 2, n. 32, p.230-239, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbem/v32n2/a11v32n2>. Acesso em: 14 dez. 2017.