Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A Contribuição do Agente Comunitário de Saúde para a Consolidação das Redes de Atenção à Saúde (RAS) no Ceará
Danielle Sá, Olney de Oliveira, Lucia Conde

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Esse estudo tem por objetivo geral descrever a contribuição do Agente Comunitário de Saúde (ACS) para a consolidação das Redes de Atenção à Saúde (RAS)  na Unidade de Saúde Viviane Benevides em Fortaleza/Ceará. Outros objetivos específicos são: identificar os fatores intervenientes no desenvolvimento dos processos de trabalho e caracterizar o modelo de atenção em saúde na relação com a Estratégia Saúde da Família a partir do olhar dos ACS.

A criação do Sistema Único de Saúde no Brasil desencadeou a reorganização das ações de promoção, prevenção e assistência dos serviços de saúde com o propósito de integrarem uma rede regionalizada e fundada nos princípios da universalidade, equidade e integralidade.

Para tanto, a Atenção Básica, caracterizando-se por um conjunto de ações de promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde, é fundamental na estrutura do SUS para a adequada resolutividade dos problemas e desafios da saúde pública brasileira.

Nesse contexto, este trabalho apresenta um apanhado sobre relatos de experiência da contribuição do ACS para a consolidação das RAS na Unidade de Saúde Viviane Benevides/Ceará.

O estudo é de natureza qualitativa e apresenta resultados parciais da pesquisa “Organização das redes de atenção à saúde no Ceará: desafios da universalidade do acesso e da integralidade da Atenção”, desenvolvida pelo Laboratório de Seguridade Social e Serviço Social (LASSOSS) do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará, obedeceu as normas que regem pesquisa com seres humanos, conforme resolução N° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UECE, CAAE n° 36453414.0.3002.5684. A pesquisa foi realizada no período de junho a agosto de 2016, na unidade de Atenção à saúde Viviane Benevides (Secretaria Regional V) do município de Fortaleza através de observações sistemáticas, registros em diários de campo e entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas com usuários, profissionais de saúde e gestores.Para a análise utilizou-se leitura e exame detalhado dos dados, elaboração de síntese interpretativa e análise temática.

Construída como uma Unidade Referência para a implantação das Redes de Atenção a Saúde em Fortaleza, a Unidade de Saúde Viviane Benevides passou por um processo de reorganização das redes de atenção em 2013. Este processo de reorganização foi denominado Modelo de Atenção as Condições Crônicas (MACC) e originou-se de um paradigma teórico ideal a ser implantado no cotidiano complexo desta cidade. Entre os serviços propostos salienta-se a Estratégia de Saúde da Família a ser realizada através de um trabalho em equipes onde o Agente Comunitário de Saúde destaca-se pelo contato contínuo com o território e profundo conhecimento relativo aos problemas e potencialidades das comunidades atendidas.

A consolidação da proposta de reorganização das redes de atenção com ênfase na APS e através da ESF exige o trabalho decisivo da categoria ACS cujos relatos de trabalho foram analisados resultando nas seguintes observações: sentimentos de frustração pela redução das visitas aos usuários do sistema na atual gestão, ausência de condições logísticas para realização do trabalho, sentimento de impotência frente a cobrança da comunidade para a realização de trabalho mais efetivo, ausência de percepção da relação entre PSF e RAS, equipes de trabalho incompletas, longas filas de espera  para realização de exames especializados, descontinuidade de programas implementados em gestões anteriores, ausência de compreensão de trabalhadores e usuários sobre o papel ou objetivo da  RAS e falta de consciência da população sobre a importância da prevenção estão entre os aspectos apontados como fragilidades para a implementação das RAS através da ESF.

De acordo com o relato dos ACS destacam-se os seguintes pontos positivos: satisfação pela realização do trabalho quando a equipe está completa, amor pelo trabalho desenvolvido, experimentação de senso de valor por receber suporte e assistência da Coordenadora e dos trabalhadores de nível superior, gosto pela efetuação de orientação a gestantes, nutrizes e idosos, satisfação pelo acompanhamento e suporte emocional de idosos, reconhecimento da importância do acolhimento como sinônimo de segurança para a concretização do trabalho.

Por ser um membro da equipe da ESF que faz parte da comunidade, o trabalho de acolhimento e a construção de vínculo dos ACS com os usuários são facilitados.

Estes mesmos aspectos também contribuem para que os ACS tenham uma compreensão mais profunda dos reais problemas, demandas e necessidades da população, bem como de suas potencialidades e das articulações necessárias para efetivação da RAS (Embora esse último ponto torne-se limitado pois os ACS também não possuem um conhecimento adequado e uma profunda compreensão da proposta da RAS).

A Atenção Básica é a porta de entrada do usuário, exercendo um papel estratégico na construção e articulação da RAS, pois constitui-se como uma base a partir da qual se estruturará. A RAS se configura com o objetivo de oferecer ao usuário uma relação próxima ao equipamento, proporcionando um vínculo fortalecedor do serviço que contribui para a cidadania e a efetivação dos direitos.

Para tanto, o ACS tem papel fundamental nessa relação. O ACS orienta ações de prevenção de doenças, promoção à saúde, entre outras atividades estabelecidas a partir do planejamento da equipe.  O trabalho do ACS alarga os serviços de saúde nas comunidades.

As observações e entrevistas permitem-nos inferir que um dos pilares para a conclusão da implantação do modelo adequado de atenção à saúde em Fortaleza reside  no trabalho de base dos ACS cuja principal característica é o contato diário e contínuo com a comunidade, o que resulta em um profundo conhecimento das necessidades, limites e potencialidades do território. Os ACS representam uma categoria decisiva para os trabalhos de educação e formação da consciência política e senso crítico dos usuários a partir de um trabalho de orientação, acompanhamento e suporte social, emocional e de saúde comunitários.

Os relatos ainda apontam para a insatisfatória concretização da RAS através ESF sendo necessária uma preparação da comunidade para compreender a importância da promoção e prevenção em saúde.

O SUS se implantou sem romper com as mentalidades tradicionais do modelo médico individualista fundado em ações curativas, assim na percepção dos ACS a necessidade de melhoria e aperfeiçoamento dos serviços é essencial sendo necessário criar condições para implementar ações de participação da comunidade nos seus próprios processos saúde-doença-cuidado.


Palavras-chave


Agente Comunitário de Saúde; Redes de Atenção à Saúde; Atenção Primária