Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Atividades extensionistas de um projeto sobre educação em saúde no dia mundial de prevenção ao HIV/ AIDS
Daniele Taschetto, Ana Paula Garcez Amaral

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação:

O projeto de extensão “Educação em saúde e ações de base comunitária na vigilância, prevenção e controle das DST/HIV/AIDS e Hepatites Virais do município de Santa Maria/RS”, em parceria com o Ministério da Saúde, objetiva realizar ações de educação em saúde na comunidade. Participam do projeto acadêmicos dos cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia, coordenados por uma professora do curso de Enfermagem. Dentre as atividades já desenvolvidas, no dia primeiro de dezembro de 2017, realizou-se um evento sobre a prevenção ao HIV/AIDS.

A extensão, muito mais do que uma maneira de a universidade levar o conhecimento produzido à comunidade, é uma chave fundamental para a inserção do aluno na comunidade, ou seja, para que o aluno possa conhecer a realidade das pessoas com que irá trabalhar, sendo afetado por essa comunidade, em uma troca de informações e saberes, onde um modifica o outro (DIVINO et al, 2013). Ao incorporar esse conceito de extensão e educação, o projeto não busca um enfoque acadêmico e patológico das doenças, mas - principalmente - uma sensibilização dos alunos. Dessa maneira, prioriza-se o enfoque em promover um cuidado acolhedor e humanizado, em consonância com as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Desenvolvimento do trabalho:

A organização do evento sobre a prevenção ao HIV/AIDS se construiu em parceria entre as universidades da cidade, prefeitura, secretaria de saúde, pastoral da AIDS e política de HIV/AIDS. Dessa maneira, aliaram-se os atores locais que perfazem o fluxo dos usuários que buscam o serviço de saúde, articulando ensino, serviço e comunidade. Esta última, principalmente pela participação da política de HIV/AIDS, a qual tem contato mais próximo com o usuário, por ser a referência na cidade de diagnóstico, tratamento e acompanhamento.

Durante as reuniões para a organização do evento, representantes dos usuários sempre se fizeram presentes, emitindo opiniões para que o evento não se restringisse apenas à academia e gestão. Sabe-se que não basta o evento ser aberto para a população, é necessário principalmente dialogar com ela, conhecer as suas reais demandas, para atraí-la. Além disso, fazê-la perceber que o espaço acadêmico também deve ser um espaço ocupado pela comunidade, e não apenas o contrário. Cabe também destacar o protagonismo dos alunos na realização do evento, comparecendo nas reuniões e articulando ideias em colaboração com a gestão.

O evento dividiu-se em dois momentos: pela parte da manhã, foi realizada uma palestra dentro da universidade, aberta para a comunidade, servidores e alunos. Pela tarde, os participantes ficaram na praça da cidade para distribuir preservativos e material informativo, bem como para estar em contato com a comunidade, fornecendo informações e tirando dúvidas.

A palestrante convidada foi uma mulher que convive com HIV há mais de 30 anos, a qual contou a sua trajetória pessoal, trazendo um olhar sensibilizado aos alunos que participaram do evento, que ficaram emocionados com a sua fala e com a sua naturalidade ao tratar de um tema que ainda é tabu: sexo. De maneira descontraída, percebeu-se que as pessoas com AIDS sofrem principalmente, não por causa da doença, mas em decorrência do preconceito e estigma social relacionados a ela. Portanto, foi enfatizada a necessidade de se tratar as pessoas de maneira igualitária, sem preconceitos ou pré-julgamentos.

Resultados e/ou impactos:

Notou-se que falar atualmente sobre a prevenção do HIV/AIDS já não tem o mesmo impacto que outrora. Enquanto em outra vinda da palestrante o salão estava cheio, dessa vez, o número de alunos que compareceram foi menor que o esperado, assim como da comunidade. Assim, percebe-se como o tema já não causa tanta preocupação na sociedade como à época da sua epidemia, embora os dados confirmem que as pessoas ainda estão se infectando. Além disso, o serviço perde o contato com as pessoas diagnosticadas, tornando-se desconhecido o destino do tratamento. Isso mostra que o fluxo dos usuários ainda está longe do ideal.

Em relação à comunidade, sabe-se que a distribuição de material informativo constitui uma maneira vertical de distribuir informação que não se mostra efetiva. Portanto, o projeto visa ainda dentro de suas extensões estar em contato maior com a comunidade, para conhecer as suas reais demandas e dúvidas. Foi possível perceber durante o evento o tabu que ainda existe quando se fala em sexo, tanto para jovens, como para adultos e idosos. Apesar dos jovens terem acesso à informação, a ideia de “grupos de risco” ainda existe no imaginário da população, a qual acha que IST’s nunca irão acontecer com elas. Além disso, o número de casos de HIV vem aumento nos idosos, e esse assunto deve ser abordado também nessa faixa etária.

Um dos aspectos fundamentais do evento foi a aproximação entre os diferentes grupos da cidade que trabalham com o tema, que muitas vezes acabam por promover ações isoladas. Dessa maneira, foi possível somar as ações desenvolvidas, também em conjunto com a gestão, o que gerou o slogan do evento: “Juntos somos mais fortes”. Prioriza-se também a necessidade de eventos durante o ano todo, e não apenas durante o dia mundial de prevenção; por isso, articular os atores locais se mostra imprescindível.

Considerações finais.

Segundo Freire, o processo educativo constitui em ver o homem em sua interação com a realidade, a qual ele sente, percebe e - principalmente -  sobre a qual exerce uma prática transformadora (DIVINO et al, 2013). Dessa maneira, a participação e protagonismo dos alunos em atividades de extensão faz-se imprescindível para a sua formação enquanto agentes sociais, como ficou evidenciado na organização desse evento. Além disso, o contato próximo do aluno, fora do ambiente acadêmico e fechado do consultório, possibilita uma vivência diferente com o usuário, reconhecendo-o enquanto pessoa de direito, que possui uma autonomia e uma subjetividade, o que permite olhar para além da doença. Assim, o aluno percebe a importância de reconhecer o contexto social das pessoas.

Além disso, o evento também reiterou a necessidade de se articular ensino-serviço-comunidade para que as campanhas sejam efetivas. Quando há diálogo entre esses atores, o processo torna-se muito mais enriquecedor, devido à troca de ideias e experiências, contato esse, infelizmente, negligenciado muitas vezes nos serviços. Assim, espera-se que eventos como esse ocorram em mais ocasiões durante o ano, em um diálogo cada vez mais próximo com a comunidade. Essa tem muito a acrescentar ao ambiente acadêmico e ensinar à gestão, pois também é um lugar onde se produz conhecimento, não inferior aquele que encontramos em outros lugares, mas diferente e que nos permite conhecer a realidade de outra maneira.

Referências:

DIVINO, Anne Emiler do Amor et al. A extensão universitária quebrando barreiras. Cadernos de Graduação - Ciências Humanas e Sociais, Aracaju, v. 1, n. 16, p.135-140, mar. 2013. Disponível em: <https://periodicos.set.edu.br/index.php/cadernohumanas/article/viewFile/491/253>. Acesso em: 12 dez. 2017.


Palavras-chave


educação em saúde; projeto de extensão; HIV/AIDS