Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Vivências de acadêmicos de medicina em uma liga de Medicina da Família e Comunidade
Ana Paula Garcez Amaral, Daniele Feliciani Taschetto

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação:

O potencial transformador da Medicina de Família e Comunidade (MFC) para a graduação em Medicina tem sido evidenciado por organismos internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Associação Mundial dos Médicos Gerais e de Família (WONCA). Este movimento de inserção se tornou mais relevante, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina (2001), desde quando vêm ocorrendo mudanças mais consistentes no ensino médico em nosso país. A MFC tem tido importante papel nesse processo, tendo em vista a superposição entre seus princípios e práticas e as recomendações incorporadas às Diretrizes, bem como aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE, 2004).

Para aprimorar o estudo e habilidades adquiridas na graduação de uma área especifica de conhecimento, surgem as Ligas Acadêmicas (LA). Estas, são organizações estudantis, com supervisão de docentes vinculados a uma instituição, visando integrar acadêmicos de diversos períodos e cursos que tenham interesse nessa área. Pressupõe-se que as finalidades da educação superior não se limitem apenas à formação acadêmica, mas envolvam um conjunto de medidas intencionais e subjetivas que tornam a formação profissional mais holística e abrangente, mantendo a interação entre a academia e a população, enfatizando o compromisso da universidade com a cidadania, além das ações educativas encontradas em sua estrutura curricular (SILVA, 2015).

Em 2017, conforme o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, foram criadas as primeiras LA no curso de Medicina do Centro Universitário Franciscano/RS. Uma destas, a Liga de Medicina da Família e Comunidade (LAMFEC). Dessa forma, começou um processo de escolha, por meio de um questionário, dos estudantes que portavam interesse nessa área. Assim, foi composto um grupo de 24 alunos a partir do segundo semestre do curso. Este trabalho relata a experiência de acadêmicos que fazem parte da LAMFEC, e mostra como isto contribuiu para o seu desenvolvimento acadêmico e, consequentemente, do curso de Medicina.

Desenvolvimento do trabalho:

A LAMFEC foi fundada por alunos de Medicina que buscavam, entre outros objetivos, aprimorar seus conhecimentos sobre a especialidade de MFC. Durante esse processo mostrou-se as dificuldades para a implementação das primeiras LA na universidade, uma vez que não havia nenhuma LA anterior como modelo para auxiliar neste início. Nesse momento, foi fundamental a orientação do professor, a busca de diretrizes e de ligas da mesma área de interesse para compartilhar informações sobre a construção e funcionamento da LA.

Os membros se reúnem semanalmente, com duração aproximada de uma hora, para discutir sobre os estudos dirigidos destinados para cada semana, sugeridos pelos próprios alunos. Dentre os assuntos já abordados, estão a especialidade médica de MFC, o Método Clínico Centrado na Pessoa e o Modelo de Atenção às Doenças Crônicas. Através da participação opinativa, são construídos conceitos e ideias de saúde em conjunto, num processo ativo de aprendizagem e autonomia do saber. Além disso, no final de cada reunião são levantadas ideias para a realização de eventos acadêmicos e atividades de extensão da liga. O primeiro evento aberto da LA foi uma sessão de cine debate, do documentário SICKO, sobre o sistema de saúde americano. O evento também teve como objetivo apresentar a liga ao demais cursos da universidade, pois reuniu alunos, professores e coordenadores de outros cursos da área de saúde, gerando um diálogo multidisciplinar sobre um tema que está em nossas vivências e trazendo uma visão diferencial sobre a utilização da MFC em diversas situações.

A base das LA no tripé ensino-pesquisa-extensão despertou maior interesse dos acadêmicos de Medicina por projetos de pesquisa e extensão. Para o próximo ano da LA, já estão sendo elaborados projetos de extensão com populações negligenciadas pelos serviços de saúde, como a população carcerária, com enfoque na população feminina.

Resultados e/ou impactos:

O estabelecimento da LAMFEC resultou em maior comprometimento dos alunos com o ensino de graduação, ensinando a conciliar as demandas curriculares com os projetos de extensão. Ademais, proporciona um aprendizado mais dinâmico, uma vez que são organizadas pelos próprios alunos, e possibilita a interação entre alunos de diferentes semestres do curso de Medicina, promovendo uma troca de experiências e valores que dificilmente poderia ocorrer no cotidiano de grades cheias de atividades acadêmicas diferentes.

Desde sua fundação, a LAMFEC planejou projetos de pesquisa e extensão com o objetivo de abordar a comunidade e o meio acadêmico, tomando cuidado para evitar que a liga também se transforme em atividades de iniciação científica e assistência, sem a função primordial de extensão universitária, como se fosse uma especialização precoce (SILVA, 2015). Discute-se se o fato de participar de uma LA não deve restringir as visões de possibilidades dos estudantes de Medicina. Por isso, o interessante da liga é que é composta por muitos alunos que não tem o interesse inicial de realizar essa especialidade, mas que querem se aprofundar nos conhecimentos sobre MFC e da APS com maior aprofundamento.

Dentre as atividades de extensão, para o ano de 2018 foi disponibilizado um estágio na APS em Florianópolis/SC para os participantes da liga. As atividades de pesquisa também são de grande importância para a formação médica, pois favorecem a capacidade crítica e maturidade científica, e, de modo geral, o ambiente das LA tem estimulado os alunos a desenvolver projetos de iniciação científica e participação em congressos, como o 14º Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade. Isto mostra que o incentivo inicial às atividades de pesquisa pode resultar em frutos de divulgação científica.

Considerações finais:

O aumento do conhecimento sobre a especialidade de MFC durante a graduação de Medicina constitui em uma qualificação diferenciada dos profissionais, pois abordam conceitos que são fundamentais para o trabalho na APS, que é o enfoque do SUS. A LAMFEC não tem como objetivo suprir insuficiências do curso de graduação. Seu objetivo é possibilitar o aprofundamento e o amadurecimento do ensino à saúde que vise uma assistência integral ao usuário.

Dessa maneira, a LAMFEC constitui em um espaço privilegiado, dentro da sobrecarregada carga horária do curso, para a construção de um aluno que seja um agente de mudança no campo da saúde, recusando-se a assumir o papel de mero prestador de serviços. Assim, o egresso não domina apenas a teoria das doenças, mas é capaz de entender e lidar de forma responsável e competente com a saúde das pessoas, com a saúde da família e da sociedade, a partir do paradigma da integralidade do SUS. Aprende a valorizar a relação médico-paciente e entende a importância do trabalho em equipe e da participação individual e comunitária nas questões de saúde e, além disso, promove a capacidade de resposta a complexidade que é o ser humano (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE, 2004).

Referências:

SILVA, Jorge Henrique Santos da et al. Implantação de uma Liga Acadêmica de Anatomia: Desafios e Conquistas. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 39, n. 2, p.310-315, jun. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022015000200310>. Acesso em: 14 dez. 2017.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE. A medicina de família e comunidade: O Que, Como, Quando, Onde, Por que. Rio de Janeiro: 2004.


Palavras-chave


liga acadêmica; medicina de família e comunidade;