Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Práticas na disciplina de interação ensino, serviço e comunidade: construção do ensino-aprendizagem crítico-reflexivo na atenção primária em saúde
Ana Paula Garcez Amaral, Daniele Feliciani Taschetto

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação:

Para formar profissionais de saúde preparados para atender as novas exigências da sociedade e cuja prática atenda aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), nas formulações pedagógicas das universidades devem ser consideradas: a capacidade de análise do contexto das práticas que realizam; a compreensão do processo de trabalho em saúde; o exercício da comunicação no cuidado em saúde; a atenção a problemas e necessidades de saúde; o senso crítico com relação às intervenções realizadas; e o permanente questionamento sobre o significado de seu trabalho. Além disso, a formação ainda necessita centralizar a promoção da saúde, trabalhando o conceito de saúde como qualidade de vida, o processo de trabalho na interdisciplinaridade, o desenvolvimento de habilidades para a ação social e a capacitação para a educação em saúde, a fim de formar, ao mesmo tempo, bons profissionais e bons cidadãos (VILLARDI, 2015).

Dessa maneira, o curso de Medicina possui dentro de sua grade curricular as atividades práticas da disciplina de Interação Ensino, Serviço e Comunidade até o 8º semestre. Estas têm por objetivo a compreensão do processo saúde-doença em uma comunidade real, onde são realizadas práticas dos programas de saúde existentes no SUS e atividade clínicas na Estratégia Saúde da Família (ESF) e Unidade Básica de Saúde (UBS), considerando a Atenção Primária em Saúde (APS). Além disso, são enfatizados os princípios do SUS, o que possibilita a abordagem de questões complexas, como a relação médico-paciente e a ética profissional (MEDICINA UNIFRA, 2016).

Neste contexto, o presente artigo tem por objetivo relatar a experiência de acadêmicos de Medicina, ao longo do segundo semestre de 2017, ao acompanhar as atividades de uma ESF e de uma UBS em uma cidade no sul do Brasil.

Desenvolvimento do trabalho:

Para modificar as relações de trabalho que compõem o SUS, faz-se necessário que se modifique a maneira de ensinar os acadêmicos da área da saúde. Assim, as novas diretrizes curriculares do curso de Medicina priorizam uma aprendizagem ativa baseada em problemas, com a intenção de que os alunos desenvolvam uma visão crítico-reflexiva sobre o que vivenciam. O papel do professor, nesse sentido, constitui em instigar o aluno a refletir sobre a realidade em que está vivendo sua formação profissional, tendo como finalidade à elaboração dos desempenhos para a construção da autonomia no processo de busca das informações e transformação delas em conhecimento, além da formulação do pensamento crítico (CHIRELLI, 2004).

Como consequência, exercitar com os alunos uma pedagogia crítica, gera a possibilidade de solução dos problemas e, saber considerar as vantagens e desvantagens em que cada uma pode acarretar para a situação em questão. Ademais, o aluno torna-se um participante ativo da realidade em que está inserido, emitindo sua opinião e sabendo como apresentá-las para a equipe e para a comunidade, além de exercer seu poder de argumentação. Habilidades, estas, construídas ao longo do curso (CHIRELLI, 2004).

O profissional que trabalha dentro da APS no SUS deve saber trabalhar em equipe, buscando soluções conjuntas para os problemas identificados. Assim, faz-se imprescindível desenvolver a capacidade de saber lidar com as situações que surgirem, mobilizando conhecimentos, habilidades e atitudes.

Resultados e/ou impactos:

Nos campos de prática, inicialmente, a equipe multiprofissional demonstrou dificuldade de entrosamento e receptividade com os alunos. Nesse sentido, no primeiro momento, não disponibilizaram informações sobre o funcionamento da UBS. Isso ocorreu provavelmente porque se trata de um contato novo, onde vínculos precisam ser construídos na busca da real inserção dos acadêmicos no serviço. Na última semana de prática, um breve vínculo com a equipe se consolidou e foi possível dialogar sobre o funcionamento das unidades. Na ESF, local com mais tradição em receber acadêmicos de diferentes áreas da saúde, a recepção foi mais atenciosa.

Na ESF ocorreu a oportunidade de aprender sobre a Gestão Autônoma da Medicação – GAM. Segundo esta metodologia, usuários de fármacos psiquiátricos devem ser estimulados a conhecer e reconhecer os efeitos desses medicamentos, a doença que possuem e a respectiva interação entre eles. Isso proporciona que o próprio usuário, de modo responsável, possa contribuir com o médico na prescrição e tratamento. Busca, ainda, que os usuários conheçam quais são seus direitos e que saibam que podem decidir se aceitam ou recusam as diferentes propostas de tratamento. Assim, dois princípios importantes da GAM são: o direito à informação e o direito a aceitar ou recusar os tratamentos. Para a GAM, a participação das pessoas nas decisões sobre os seus tratamentos é algo central (GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO, 2014). Infelizmente, muitas políticas que existem dentro do cotidiano dos serviços de saúde não são trabalhadas dentro das salas de aula, o que mostra que é fundamental a vivencia prática para complementar o ensino teórico.

Outrossim, observamos o atendimento de um menino de 2 anos extremamente parasitado por Ascaris Lumbricoides. A criança foi acolhida pela equipe de enfermagem e a médica recebeu informações sobre a criança da equipe e receitou uma medicação que a farmácia do SUS não oferece. Por essa razão, alguns profissionais preocuparam-se com a possibilidade da família não adquirir o fármaco em razão de seu baixo poder aquisitivo e do elevado valor do fármaco. No dia posterior à consulta, uma agente comunitária de saúde visitou a família e soube que a criança havia recebido a medicação. No último contato, soube-se que o acompanhamento estava sendo planejado para criança e sua família. Desta forma, fica claro a importância do trabalho em equipe da APS e de conhecer a realidade da população que é atendida.

Durante as práticas, há encontros com o professor e os demais colegas que estão nas práticas em outras UBS/ESF. Essas reuniões constituem em espaços onde se compartilham as vivências e, com auxílio do professor, entende-se melhor determinadas situações, como, por exemplo, o funcionamento e a organização das equipes da APS.

Considerações finais:

Vivenciar a rotina dos serviços de saúde permite perceber suas peculiaridades e diferenças. Assim, auxilia na construção da formação profissional, ao passo que se conhece e aprende a lidar com diferentes aspectos, desde questões com foco exclusivamente prático e de cunho acadêmico até questões mais complexas que envolvam pessoas, suas crenças, expectativas e sistematização. O espaço de diálogo com colegas que realizam práticas em outros campos nos faz refletir sobre as peculiaridades das diversas regiões da cidade e, também, nos apresenta novas visões sobre o que é APS, sua eficácia e fragilidade.

Referências:

CHIRELLI, Mara Quaglio; MISHIMA, Silvana Martins. O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM CRÍTICO-REFLEXIVO. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 3, n. 57, p.326-331, jun. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n3/a14v57n3.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2017.

GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO – Guia de Apoio a Moderadores. Rosana Teresa Onocko Campos; Eduardo Passos; Analice Palombini et AL. DSC/FCM/UNICAMP; AFLORE; DP/UFF; DPP/UFRGS, 2014. Disponível em: <http://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces>. Acesso em: 02 de novembro 2017.

PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE MEDICINA. Vanilde Bisognin; Léris Salete Bonfanti Haeffner; Carina Kilian et al. Núcleo Docente Estruturante do Curso de Medicina, 2016. Disponível em: <http://wwww.unifra.br/site/pagina/conteudo/27>. Acesso em: 02 de novembro 2017.