Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A UNIDADE DE APRENDIZAGEM COMO DISPOSITIVO PEDAGÓGICO À ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA E COMUNIDADE: potencialidades e desafios
Vera Lúcia Azevedo Dantas, Francisca Ozanira Torres Pinto de Aquino, ANA PAULA CAVALCANTE RAMALHO BRILHANTE, JULIANA DONATO NÓBREGA, Kilma Wanderley Lopes Gomes

Última alteração: 2017-12-21

Resumo


O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família – RMSFC, desenvolvido no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, teve sua   primeira turma em maio de 2009 com sessenta e seis residentes de onze categorias profissionais que foram inseridos nas seis Secretarias Executivas Regionais realizando suas atividades nos Centros de Saúde da Família (CSF), de acordo com a responsabilidade sanitária dos núcleos de apoio saúde da família. Posteriormente ocorreu uma redução do número de vagas e categorias considerando as dificuldades para manutenção das preceptorias e culminando com a transferência da responsabilização pela condução pedagógica do processo para a Escola de Saúde Pública do Ceará. Este estudo busca construir reflexões sobre a Unidade de Aprendizagem (UA) como modo de organização curricular do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade (RMSFC) de Fortaleza durante o período   da segunda e terceira turma do referido programa e tem como objetivo analisar as interfaces e diálogos entre as bases conceituais da Unidade de Aprendizagem e o projeto político-pedagógico do Programa e identificar potencialidades  e situações-limite de trabalhar com essa abordagem considerando o contexto do Programa de RMSFC em questão. Segundo seu Projeto Pedagógico, o Programa objetiva promover a interação ensino-serviço-comunidade de forma colaborativa e a constituição do processo educativo pautado nas necessidades de saúde do território, na participação popular, na interdisciplinaridade, na reflexão crítica e em valores éticos como a solidariedade e a justiça social. Consta do PPP, a referência à necessidade de romper com a verticalidade da transmissão de conhecimentos estabelecendo uma relação dialógica, problematizadora e participativa cuja base pedagógica é a educação popular. Dialogando com essa perspectiva, as UA e o PPP do programa apontam a importância da dimensão contextual na educação dos profissionais de saúde como fruto de um processo emergente das relações entre seres humanos e o ambiente físico, social e cultural e que a construção do pensamento se dá pelo diálogo na busca de respostas formuladas pelos próprios educandos como sujeitos ativos do processo rompendo com a visão conteudista da educação e propiciando a convivência grupal a aprendizagem no trabalho em equipe, aspectos fundamentais ao processo desenvolvido pelo programa de RMSFC. Para construção dessas reflexões como atrizes implicadas na construção do processo, lançamos mão da sistematização de experiências proposta por Holliday (2006). A decisão de trabalhar a construção curricular do Programa de RMSFC por meio das UA, se deu em função da diversidade de ações e estratégias propiciadas por esse dispositivo pedagógico no sentido de favorecer a participação dos educandos envolvendo não apenas a dimensão cognitiva, mas também a física e emocional, abrindo possibilidades para que o processo educativo se apresentasse prazeroso, instigante, dialógico e crítico. Para elaboração das UA foi constituído um grupo de trabalho envolvendo a coordenação do Programa, coordenação pedagógica do SMSE e preceptores de território e de categoria muitos dos quais, egressos do programa. Dessa forma, pode-se elencar algumas premissas consideradas fundamentais para as UA nesse contexto de trabalho: trabalhar com uma sequência flexível dos temas e com uma abordagem teórico-prática que possibilitasse considerar e incluir os questionamentos dos educandos e as discussões realizadas no processo; contextualização do objeto de estudo envolvendo aspectos da realidade dos educandos; produção de percursos metodológicos  que favorecessem a participação ativa dos educandos partindo de questões  formuladas por eles sobre o que gostariam de aprender. O grupo de trabalho inicial foi ampliado para envolver na estruturação de cada UA, os educadores responsáveis por cada UA, docentes da IES responsável pela certificação; residentes e atores dos territórios (trabalhadores e movimentos sociais). A Saúde da Família representou o eixo ou diretriz comum dialogando com as Seis Unidades de Aprendizagem: Unidade de Imersão e integração ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade; O Território como Espaço de Produção de Saúde e Construção do Processo de Trabalho; Produção do Cuidado em Saúde e a Integralidade; Produção do cuidado em Saúde – olhares a partir da Clínica Ampliada e das linhas de Cuidado; Gestão, Participação e Controle Social; A Produção do Conhecimento e a Transformação das Práticas de Saúde Frente às Necessidades da População. Cada UA foi constituída de momentos teórico-reflexivos – organizados a partir desses grandes temas com seus respectivos conteúdos e práticas, segundo o Campo Interprofissional e o Núcleo Profissional da ESF que inclui temas de saúde coletiva e temas referentes à produção do cuidado nos ciclos de vida.  Esses momentos envolviam atividades problematizadoras como os círculos de cultura, exposições dialogadas, mesas redondas, estudos de casos, projeção de filmes, encenação de atos cenopoéticos ou cenas teatrais seguidas de debate e produção textual, vivências e outros percursos metodológicos trabalhados com o coletivo dos residentes. As Rodas de Categoria e grupos de estudo também eram trabalhados por meio de círculos de cultura; de organização de matrizes conceituais; leitura e discussão de textos entre outros. Estas atividades objetivavam estimular a reflexão crítica, o aprendizado e a intervenção na realidade na perspectiva de produzir o cuidado integral em saúde, sempre partindo da experiência dos educandos e considerando o trabalho como espaço primordial do processo pedagógico.  As UA incluíam ainda atividades práticas desenvolvidas em serviço nos Centros de Saúde da Família nos quais se se problematizava situações-limite e necessidades de saúde daquele contexto. A diversidade de ações e estratégias propiciadas por esse dispositivo favoreceu a participação dos educandos, a construção compartilhada do conhecimento, ao mesmo tempo em que possibilitou um aprendizado prazeroso, instigante, dialógico e crítico que envolveu os sujeitos em sua inteireza. A organização dos temas com seus respectivos conteúdos e práticas segundo o Campo Interprofissional e o Núcleo Profissional da Estratégia Saúde da Família permitiu a efetivação de momentos teórico-reflexivos e atividades práticas desenvolvidas em serviço nos territórios da saúde da família e que se constituíram espaços de problematização acerca das necessidades sociais de saúde. Ao afirmar a prática reflexiva como caminho as UA apontaram para inclusão de novas ferramentas para o monitoramento e a avaliação, possibilitando a democratização da construção pedagógica. O processo foi, no entanto, desafiador no sentido do perfil dos educadores (professores e preceptores) assim como no diálogos com a gestão, que terminou por  abdicar da condução pedagógica do processo, apesar das potencialidades desveladas.


Palavras-chave


Unidade de Aprendizagem, Residência Multiprofissional em Saúde da Família; Projeto Político Pedagógico