Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-25
Resumo
APRESENTAÇÃO: A discussão de saúde mental na Estratégia de Saúde da Família (ESF) ainda enfrenta uma série de desafios. Nos últimos anos há no Brasil um aumento da prescrição e uso de medicamentos psicotrópicos na Atenção Primária a Saúde (APS), e ao considerar esse contexto é fundamental planejar ações que fortaleçam o processo de desmedicalização. Traduzido para o português e adaptado à realidade brasileira, o guia da Gestão Autônoma da Medicação (GAM) é um dispositivo que promove a reflexão sobre o uso de psicotrópicos, sendo uma oferta singular de acompanhamento dos usuários de saúde mental, distinta dos grupos tradicionais da APS do município em relação a construção da grupalidade, do manejo e nos objetivos.
DESENVOLVIMENTO: Os critérios para a participação de usuários no grupo foram escolhidos coletivamente pelos residentes multiprofissionais da ENSP em conjunto com as equipes da ESF: o uso de um ou mais medicamentos psicotrópicos e se o usuário apresenta alguma questão quanto a medicação. Preparou-se uma lista de usuários e foram feitas visitas domiciliares e ligações para realizar os convites. A condução dos grupos é feita seguindo as perguntas e reflexões descritas no guia GAM, por exemplo: Como é tomar os remédios? Com quem você pode contar nos momentos difíceis? E, de forma coletiva se constrói a reflexão sobre as experiências individuais externalizadas.
RESULTADOS: Durante o manejo dos grupos, nos diferentes campos, foi observado como este é um espaço potente de cuidado aos usuários. Eles rememoraram seus gostos, sua trajetória, falaram de seu sofrimento, exclusão social, tentativas e ideações suicidas, sua relação com os medicamentos, seus efeitos, como lidam com a ansiedade, o sono, etc. Muitos compartilharam que já interromperam a tomada da medicação por conta própria. Também foram expostas indagações sobre a condução do tratamento na equipe. A GAM apareceu como mote para a discussão de saúde mental tanto entre os usuários quanto entre a equipe da SF. Observamos que há falta de implicação das equipes para as demandas produzidas pelo grupo GAM e também na construção do mesmo. Contudo, há compreensão de que esta é uma forma pertinente de cuidado. Para além, a leitura do guia pelos usuários possibilitou que estes tivessem maior acesso à informação sobre o uso da medicação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O guia GAM questiona a experiência dos usuários quanto ao uso de psicotrópicos para que, a partir da transversalização de saberes - dos usuários, profissionais e familiares - seja obtido o melhor tratamento. Com isso, promove-se um espaço pedagógico de questionamento em relação ao uso e manejo desses medicamentos, e também sobre os processos de cuidado e adoecimento de saúde mental na APS.